#9 Fumo

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"A principal mentira é a que contamos a nós mesmos." - Friedrich Nietzsche



A manhã estava calma, o sol brilhou através das folhas, lançando padrões de luz no chão do parque. Daniel e Gabriel estavam sentados num banco, rindo juntos. Gabriel inclinou-se para a frente, sussurrando algo ao ouvido de Daniel, que sorriu, corando ligeiramente. Havia uma leveza na maneira como Gabriel o fazia sentir. Com ele, os momentos eram simples, quase como se o mundo se tornasse menos complicado.

— Eu sei que está preocupado, mas não tem nada com que se preocupar — disse Gabriel, colocando a mão sobre a de Daniel. O toque era reconfortante, mas ao mesmo tempo lembrava Daniel da realidade complicada que ele tentava evitar. — É só um passeio no parque. Ninguém nos conhece aqui.

Daniel olhou em volta nervosamente, os olhos varrendo o parque como se esperasse ver um rosto familiar a qualquer momento. O parque estava quase vazio, apenas algumas pessoas caminhando e aproveitando o sol da manhã. Mesmo assim, a sensação de estar sendo observado persistia. Ele virou-se de novo para Gabriel, que o olhava com um misto de preocupação e compreensão.

— Não é isso... é só... — Daniel sentiu um nó na garganta. Não era que ele não quisesse que as pessoas soubessem. Não era que ele tivesse vergonha de Gabriel. Era o medo de como essa revelação iria afetar a sua relação com Leo. — Não contei ao Leo sobre nós. E cada vez que estou com ele, sinto que estou mentindo.

Gabriel franziu a testa ligeiramente, mas tentou manter um tom compreensivo. — Ele é seu amigo. Vai entender... eventualmente.

Daniel acenou com a cabeça, mas por dentro sentia-se dividido. Com Gabriel, ele sentia uma alegria que não experimentava há muito tempo. Uma alegria que o fazia querer gritar para o mundo inteiro que estava feliz, que tinha encontrado alguém especial. Mas ao mesmo tempo, havia Leo. Leo, que sempre esteve lá, mesmo quando Daniel tinha empurrado a amizade para o segundo plano. Leo, que estava a reaparecer na sua vida de uma forma que fazia Daniel querer manter cada pedaço dessa relação intacto.

Gabriel apertou a mão de Daniel, trazendo-o de volta para o momento presente. — Escute, eu sei que isto é complicado para você. Mas tem que se perguntar o que é que realmente importa para ti. Não pode viver se escondendo para sempre.

— Eu sei — Daniel sussurrou, a culpa crescendo no seu peito. Ele desejava que houvesse uma maneira de equilibrar tudo, de manter a paz entre as diferentes partes da sua vida. Mas cada escolha parecia implicar perder algo ou alguém.

Gabriel inclinou-se e encostou a cabeça ao ombro de Daniel. — Só quero que saiba que estou aqui, não importa o que aconteça. Mas tem que decidir como quer lidar com isto.

Daniel fechou os olhos por um momento, absorvendo a tranquilidade daquele instante. Sentiu-se seguro ao lado de Gabriel, mas a sensação de uma sombra pairando sobre eles não desaparecia. Não queria magoar Leo, mas também não queria perder Gabriel. Sentia-se como se estivesse a caminhar numa corda bamba, com um abismo de ambos os lados.

O parque estava em silêncio, apenas o som distante dos pássaros e o farfalhar das folhas. Daniel queria que aquele momento durasse para sempre, longe das decisões difíceis e das verdades complicadas. Mas sabia que não poderia ficar ali para sempre, escondido naquele refúgio temporário. Eventualmente, teria de enfrentar a realidade e as consequências das suas escolhas.

Gabriel suspirou, quebrando o silêncio. — Vamos dar uma volta? Talvez te ajude a clarear a mente.

Daniel assentiu, levantando-se. Eles começaram a caminhar lado a lado, as mãos entrelaçadas num gesto que era tão reconfortante quanto angustiante para Daniel. Enquanto andavam pelo parque, ele tentava afastar os pensamentos de Leo, de tudo o que estava prestes a se complicar ainda mais.

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⏰ Última atualização: Sep 19 ⏰

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