#8 Pólvora

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"O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente." - Mario Quintana



A noite caía silenciosa sobre o campus da universidade, e o pátio, normalmente agitado, estava agora tranquilo. Leo e Daniel caminhavam juntos, em silêncio, rumo ao dormitório. As estrelas começavam a aparecer no céu claro, e as luzes da cidade ao fundo piscavam, criando um contraste com o ambiente sereno da universidade.

Leo estava nervoso. Fazia tempo que não tinham uma conversa realmente significativa, e ele queria mudar isso. Finalmente, ele se atreveu a falar:

— Então, o que achas de fazer algo diferente este fim de semana? — perguntou, tentando soar casual.

Daniel lançou-lhe um olhar de lado, surpreso. — Tipo o quê?

Leo hesitou, mas sentiu que precisava arriscar. — Em vez de irmos só à fogueira... que tal explorarmos a floresta? Ouvi dizer que há uma cabana antiga por lá. E... pensei que talvez pudéssemos... passear um pouco por lá para descontrair.

Daniel parou por um momento, a ideia despertando memórias antigas. — Não sei, Leo... — ele olhou para o chão. — A floresta pode ser meio assustadora à noite, e...

— E se tiver algum bicho, sim, eu sei — Leo completou, sorrindo de leve. — Mas sabe, pensei que podíamos fazer algo que nos lembrasse quem éramos antes de tudo... antes de nos afastarmos.

Daniel levantou o olhar, encontrando os olhos sinceros de Leo. — E... acha que isso vai funcionar?

Leo deu um suspiro profundo, seu olhar carregado de uma tristeza que ele tentava esconder. — Não sei. Mas vale a pena tentar, não acha?

Daniel finalmente sorriu. — Está bem. Vamos fazer isso. Só não prometo que não vou gritar se vir uma aranha.

Leo riu, dando-lhe um leve empurrão no ombro. — Se isso acontecer, eu grito junto contigo.



✩✩✩



O sábado chegou com um céu nublado, mas sem sinal de chuva. Leo e Daniel estavam prontos para a aventura. Atravessaram o campus até à entrada da floresta, ambos carregando mochilas com lanternas e mantimentos.

— Lembra da última vez que fizemos uma dessas aventuras? — perguntou Leo, enquanto eles atravessavam o mato alto.

Daniel riu, olhando ao redor. — Lembro de você ter escorregado na lama e ficado com lama até ao pescoço.

— Não foi tão mau assim! — Leo protestou, embora também estivesse a rir.

— Claro que foi! Você teve que usar a minha camisa extra para não voltar para casa coberto de lama — Daniel respondeu, com uma gargalhada.

Leo balançou a cabeça, um sorriso nostálgico no rosto. — Bons tempos... quando o maior problema era sujar a roupa.

Conforme adentravam na floresta, o ambiente mudava. As árvores altas bloqueavam a luz do sol, criando um ambiente mais sombrio. O som dos grilos e do vento nas folhas envolvia-os.

— Então, a cabana... — Daniel quebrou o silêncio, a voz ecoando levemente entre as árvores. — Acha mesmo que está lá? Ou é só mais uma daquelas lendas do campus?

Leo deu de ombros, apontando para um caminho estreito. — Só há uma maneira de descobrir. Dizem que fica logo adiante, num pequeno vale.

— Vamos ver então — disse Daniel, forçando um tom mais animado, embora houvesse uma tensão palpável na sua voz.

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