Quinta-feira, 6h da manhã e os metrôs de São Paulo eram um caos, absurdamente lotados. Faz cinco meses que estou morando sozinha na cidade. Eu nasci no interior, vivia com os meus pais até conseguir uma vaga de estágio por aqui, fiz transferência da faculdade e arrumei um lugar para morar. Eu odiava a rotina da cidade, mas a oportunidade de crescimento profissionalmente era perfeita. Moro em um apartamento perto da faculdade, não era muito grande mas o aluguel era ótimo. A vizinhança era boa e tranquila, e para chegar no estágio me custava 1h de viagem.
Cheguei às 7h no laboratório, assinei o ponto na recepção e desci para a NB-1. Hoje era dia de separar os filhotes das matrizes. Costumávamos separar assim que completavam 21 dias de nascimento, que é quando os filhotes já começam a se alimentar sozinhos. Separamos por sexo para não se reproduzirem, sete em cada caixa se for camundongos (Swiss), e de três a cinco em cada caixa se for ratos (Wistar). Me preparei colocando o jaleco e os demais equipamentos de proteção, e entrei na sala dos Wistar, estava em uma temperatura de 19°C, muito frio para os ratos, subi três graus do ar para manter a temperatura mais agradável. Abri a primeira estante, eu sempre chamava aquilo de geladeira, pois se parecia muito com uma, peguei a primeira caixa de matriz, quando Carlos apareceu no biotério.
- Emma hoje preciso da sua ajuda na NB-2! - disse ele sério.
- Hoje é dia da separar os filhotes das matrizes, e não estamos com ninguém no laboratório para fazer! - respondi apontando para as dez caixas que haviam na estante.
- Deixa para separar amanhã, hoje preciso de você com urgência! - respondeu secamente. - Houve um alerta na NB-4, preciso das fichas de pesquisa o mais rápido possível! - disse fechando a porta e em seguida, abrindo novamente. - Uma nova estagiária começa hoje, passe uma redação para ela.
"Pronto ratinhos, aproveitem suas mamães por mais um dia" - pensei.
Mayra era a nova estagiária e estava no 4 semestre de biologia! Ela tinha 19 anos e era uma jovem muito bonita. Morena dos olhos escuros e cabelos pretos enrolados até o ombro. Educada e um tanto tímida, já havíamos conversado antes na faculdade, mas não éramos tão próximas. Ensinei ela a colocar os equipamentos de proteção e expliquei algumas tarefas importantes que ela faria durante o dia. Tudo o que eu falava, ela anotava rapidamente em sua pequena agenda.
- Eu preciso que você vá até o final dessa semana em um posto de saúde para tomar a primeira dose da vacina antirrábica. Precisa dela para trabalhar aqui! - falei enquanto ela me olhava, prestando atenção em cada gesto e palavras minhas. - São três doses mais a sorologia, vai precisar levar uma declaração do laboratório, depois você me procura que eu faço pra você!
- Muito obrigada! - respondeu timidamente.
- Ficou alguma dúvida? - Mayra assentiu com a cabeça dizendo que estava tudo certo. - Preciso que faça uma redação sobre sua vida e seu curso, e do por quê você decidiu fazer estágio aqui, Ok? No mínimo trinta linhas! - falei firme e me afastando lentamente enquanto via sua expressão nervosa.
Fiquei com dó mas era necessário, Carlos gostava de saber sobre tudo antes de colocar alguém perto de sua pesquisa. Andando rápido pelos corredores até o elevador, minha cabeça pensava em um turbilhão de coisas, o que será que poderia ter ocorrido?!
Ao sair do elevador, o alarme do setor estava tocando, e as luzes vermelhas tomavam conta do corredor, todos estavam correndo em direção a sala de monitoramento. Entrei confusa e perguntei para Thomas o que estava acontecendo, era um código vermelho!
- Um cientista foi descuidado e acabou sendo mordido pela cobaia 27! - Me respondeu sem tirar os olhos do monitor. - Já ligamos para o hospital e por enquanto isolaram ele na NB-4. Mas vamos precisar subir, eles vão fazer uma descontaminação em cada setor, menos no biotério!
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Apocalipse
Science FictionA chuva fina caía incessantemente sobre as ruas desertas, o som das gotas sendo abafado pelos ecos distantes de sirenes e gritos. O mundo, que outrora vibrava com o pulsar da vida, agora estava submerso em uma quietude mortal. O ar estava denso com...