O Começo

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       "Junho 2022, vigésimo quinto teste de experimento em rato Wistar, não aguentou 10 minutos da dose injetada no cérebro, morreu mais rápido que as cobaias anteriores!" - Meu nome é Emma Collins, trabalho como estagiária em um laboratório de experimentos com ratos e camundongos há alguns meses, e desde que comecei, faço anotações todos os dias sobre a nova 'droga' que estão testando. "Cobaia 26, Wistar fêmea 280g, 20ml da droga desta vez injetada diretamente no tórax. 3 minutos, sem alterações. 5 minutos tremores pelo corpo. 7 minutos, a cobaia apresenta comportamento nervoso, mordendo as patas e a cauda até provocar machucados. 12 minutos aceleração e mal comportamento. 15 minutos olhos, focinho e boca sangrando. 20 minutos óbito da cobaia 26!"

       Algo totalmente em sigilo, os funcionários assinaram várias papeladas para transmitir total segurança para a empresa, que, o que ocorre dentro do laboratório de pesquisa jamais deve chegar nos ouvidos das pessoas de fora.

       Nosso laboratório fica ao lado do hospital San Francisco, com três andares para cima, onde há coletas de materiais, administrativo, escritórios e recepção, para baixo há mais 4 andares, onde se encontram a zona de biossegurança. De ordem de cima para baixo são proporcionados níveis de segurança pelo grau de proteção, como NB-1, NB-2, NB-3 e NB-4.

       No primeiro andar do subterrâneo são precaução mínimas, com baixo risco de segurança, onde podemos encontrar o biotério, há o cuidado e monitoramento dos Wistar e Swiss que são tratados por estagiários com a troca de caixas diárias ( que são levadas para o segundo andar abaixo para limpeza), troca de água e ração diária, e organização das salas das cobaias. É necessário o uso de equipamentos de proteção, como jalecos, toucas, pró pés e luvas.

       No segundo andar se encontra a zona NB-2, que é utilizado para trabalhar com agentes que apresentam riscos moderados, tem sete salas nesse andar com equipamentos para microscopia e histologia. É necessário o uso de equipamentos individuais como os EPIs e receber vacina antes de começar a trabalhar no local.

       No andar NB-3 são tratados agentes que podem causar doenças graves ou infecções letais, nesse ambiente se trabalha com micro-organismos que causam doenças humanas graves, mas que possuem tratamento. Há salas de procedimentos cirúrgicos, e para ter acesso ao andar, tem que descer pelo elevador onde se encontra um corredor com duas portas com fechamento automático, a passagem entre as duas portas contém uma sala para a troca de roupa.

       No andar NB-4 tratam de qualquer agentes que causam doenças com risco de vida, com alto potencial de contaminação por aerossol ou agentes que apresentam riscos desconhecidos. Poucas pessoas tem acesso a essa zona. São usados trajes de proteção supridos com pressão de ar positiva. Cada andar abaixo do NB-2 possui uma cabine com um sistema de descontaminação.

       Eu trabalho no nível 1 e 2, e tenho acesso a dados sobre a pesquisa por uma sala de monitoramento na NB-2 com câmeras e tecnologias avançadas para poder vigiar de longe o experimento na NB-4. Os únicos que trabalham comigo dentro dessa função são: um outro estagiário , Thomas Miller que está no terceiro ano de biomedicina e o pesquisador biomédico e biólogo Carlos Stevens.

       Faço faculdade de ciências Biológicas no período noturno. Não tinha muitas pessoas concorrendo a esse cargo como estagiário, uma jovem de 23 anos sem experiência qualquer sobre laboratórios, foi muita sorte conseguir o estágio.

       No meu primeiro dia Carlos me mostrou e explicou tudo sobre o laboratório, com a intenção de que eu fizesse relatórios e fichas de experimentos, não é um trabalho ruim, mas é assustador. Carlos era um dos gestores e cientistas da empresa. Eu tive que ler vários livros sobre experimentos com animais de forma profissional e ética, embaladas em padrões de leis do Conselho Nacional de Controle e Experimento Animal (CONCEA) e Sociedade Brasileira de Ciência em Animais de Laboratório, pois eu sou totalmente contra o uso de Animais para a ciência , e para continuar trabalhando e vendo todos os dias o show de horrores, eu precisava saber tudo.... E quando eu digo tudo, a pesquisa estava envolvida!

       Eles não discutem, não nos informam , apenas dizem para fazermos nosso trabalho, "não estão aqui para criticar e fazer perguntas, e sim para fazer o seu trabalho e ajudar a ciência" - dizia Carlos.

       Ter acesso a todas as informações sobre o laboratório, me ajudou a entender que a pesquisa estava relacionada com dois tipos diferentes de microbiologia, o fungos Ophiocordyceps unilateralis e a bactéria Bacillus anthracis. Nos arquivos diz que as células de ambos estão sendo injetadas em cobaias para conseguirem um tratamento para doenças neurológicas. Todos os dias, relatórios e mais relatórios, cobaias nascendo e morrendo, novas matrizes, novas cobaias, novos testes, erros... mais relatórios!

       O que estavam fazendo naquele laboratório não era simplesmente algo aprovado pela ciência!

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