O cheiro metálico de sangue misturava-se ao mofo impregnado nas paredes do laboratório, criando uma atmosfera opressiva que parecia pesar sobre os ombros de Dean. O som distante de gemidos ecoava pelos corredores, uma constante ameaça à sua concentração.
Dean mantinha a pressão firme contra o ferimento do meu abdômen, sua mente dividida entre salvar minha vida e vigiar o entorno. Cada respiração minha era um desafio, os lábios rachados emitindo sons sufocados, como se cada fôlego meu pudesse ser o último. Ele nunca foi de se apegar às pessoas, mas o medo que sentia agora era avassalador.
- Fique comigo, Emma! - murmurou, sua voz rouca e carregada de desespero. Ele raramente demonstrava emoção, mas a visão dele me vendo pálida e vulnerável o atingia de uma maneira inesperada.
Criamos uma grande parceria nesse caos, e ele não podia me perder. Não agora. Não assim!Ele me ergueu com cuidado, levando-me até uma mesa de metal manchada, uma maca. Cada movimento me arrancava um gemido de dor, mas não havia tempo para hesitar. Vasculhou freneticamente as gavetas, encontrou água estéril, gaze e uma linha cirúrgica - o suficiente para improvisar. Os anos de prática como médico voltaram como um reflexo, suas mãos trabalhando com precisão mecânica. No entanto, a pressão do momento fazia cada segundo parecer uma eternidade.
Enquanto limpava o ferimento, o som de algo arranhando as paredes do lado de fora o fez congelar por um instante. Ele apertou os olhos, tentando focar no que fazia, mas o som persistia.
- Merda! - murmurou para si mesmo, tentando ignorar o arrepio que subia por sua espinha.
- Dean...? - Minha voz era apenas um sussurro, mas carregava uma mistura de dor e medo que cortava como uma lâmina. Ele se inclinou sobre mim, colocando uma das mãos firmemente sobre meu ombro.
- Eu estou aqui. Não vou te deixar!
Ele rasgou uma parte do meu uniforme, que eu havia vestido de um dos policiais, e começou a limpar e a costurar o corte, suas mãos eram firmes apesar do caos ao redor. Cada ponto era um desafio, e cada vez mais minha respiração tornava-se mais superficial.
- Fica comigo, Emma. Não dorme! - Ele falava tentando manter o controle em uma situação onde tudo parecia perdido. O coração batia forte no peito, não apenas pelo esforço físico, mas pelo medo de falhar.
Enquanto Dean fazia seu trabalho, eu mergulhei em um abismo de memórias e alucinações. A dor no abdômen parecia queimar como um fogo incontrolável, mas era minha mente que me traía, arrastando-me para um lugar que eu preferia esquecer.
Eu estava em uma sala fria, amarrada a uma maca. Luzes fluorescentes cegantes pulsavam acima, e uma sensação de pânico dominava meu corpo. Tentei me mover, mas meus braços e pernas estavam presos. Minha cabeça girava, e uma dor lancinante irradiava por todo o corpo.
O ar era pesado, carregado de um cheiro químico que fazia seus pulmões arderem. O pânico crescia em seu peito, abafando qualquer tentativa de gritar.
"Por favor, parem!" A voz ecoou pela sala, carregada de desespero. Por um momento, eu pensei que era minha, mas então vi a maca ao lado. Thomas estava lá, também preso, o rosto retorcido pela agonia, os olhos arregalados e úmidos de lágrimas e suor.
-Emma... - A voz rouca e quebrada. -Você sabia... Você sabia que isso podia acontecer!
Tentei responder, tentei gritar que não era verdade, mas as palavras ficaram presas em minha garganta. Antes que eu pudesse me defender, a cena se intensificou. Senti como se estivesse experimentando o que ele sentia: a agulha fina perfurando minha pele, o líquido viscoso entrando em minhas veias como ácido. A dor era inimaginável, como se algo maligno estivesse invadindo e retalhando meu corpo de dentro para fora.
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Apocalipse
Science FictionA chuva fina caía incessantemente sobre as ruas desertas, o som das gotas sendo abafado pelos ecos distantes de sirenes e gritos. O mundo, que outrora vibrava com o pulsar da vida, agora estava submerso em uma quietude mortal. O ar estava denso com...