O Caos

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    O metrô nunca foi um refúgio para aqueles que buscavam escapar da rotina exaustiva da cidade, em horários de pico, tornava-se um pesadelo de corpos amontoados, suados e cansados. Naquela noite, o relógio marcava 18h, e a estação estava tão cheia que o ar parecia mais denso, pesado. Minha cabeça latejava, e a velocidade do metrô aumentava essa sensação de náusea. A cada parada, a esperança de encontrar um assento era esmagada pela massa de pessoas que embarcavam. Restavam quatro paradas. Eu precisava suportar!

    Encostei a cabeça no vidro, tentando buscar alívio, mas foi aí que percebi algo estranho. A próxima estação estava... vazia. Ninguém, nem uma alma. O metrô não parou. Meu estômago revirou. Mais uma estação deserta. O trem parou abruptamente, como se hesitasse. Apenas uma figura solitária à distância - uma mulher. Algo nela estava errado, muito errado. Ela estava pálida, quase translúcida, com sangue escorrendo pela boca. Seus olhos, vermelhos como brasas, eram perturbadores. Senti um calafrio percorrer minha espinha. A mulher me encarava, imóvel, um olhar fixo que penetrava minha mente, meu medo. Eu queria gritar, queria avisar as pessoas ao meu redor, mas minha voz estava presa na garganta, sufocada pelo terror crescente.

    De repente, ela começou a correr na direção do metrô. Um instinto primal de fuga tomou conta de mim, mas eu estava presa, não havia para onde ir. Quando as portas do metrô se fecharam, ela se atirou contra o vidro, o impacto ecoando como uma explosão. O som de seu corpo se chocando foi tão brutal que todos os passageiros se viraram, congelados de horror. A mulher arranhava o vidro freneticamente, os dedos manchados de sangue. O pânico começou a se espalhar como um incêndio entre as pessoas.

    - A cidade está em estado de alerta! - A voz do noticiário ecoou pelo vagão quando um jovem aumentou o volume do celular. - Pessoas estão se tornando violentas...

    - Droga, estou sem sinal! - gritou o jovem, olhando para o telefone em desespero.

    Outras três pessoas começaram a checar seus aparelhos, e o murmúrio de medo se espalhou rapidamente. Todos estavam tensos, esperando a próxima parada com um misto de antecipação e pavor. Eu podia sentir a angústia no ar. O que quer que estivesse acontecendo lá fora, estava vindo para nós.

    Quando o metrô finalmente parou, o caos foi liberado. As portas se abriram, e antes que qualquer um pudesse reagir, uma figura cambaleante entrou no vagão. Pele em decomposição, olhos turvos, dentes à mostra em um sorriso macabro. Um infectado. Ele se lançou sobre a primeira pessoa que viu, rasgando a carne com garras e dentes. O grito foi interrompido pelo som nauseante de carne sendo dilacerada. As pessoas começaram a correr desesperadas, empurrando-se para fora nas paradas seguintes.

    Eu não pensei. Corri. Meus pés me levaram para longe, sem direção, sem plano. O bairro da Liberdade estava devastado, como se o caos tivesse se espalhado em minutos. Encontrei um carro destrancado e entrei, trancando as portas com mãos trêmulas. O silêncio dentro do veículo era cortado apenas pelo som frenético da minha respiração.

    Olhei pela janela e vi um inferno se desenrolar diante de mim. Corpos pálidos, feridos, alguns com ossos expostos, corriam pelas ruas com uma ferocidade animalesca. Eram rápidos, violentos, famintos. Alguns tropeçavam, cegos pelo sangue seco cobrindo seus olhos, mas seus ouvidos captavam qualquer som, qualquer movimento. Eles caçavam com uma intensidade que fazia meu coração disparar.

    Uma senhora, aparentemente desorientada, caminhava em meio à carnificina, alheia ao que estava acontecendo. Meu corpo congelou quando um infectado a avistou. Ele se lançou sobre ela com uma fúria selvagem, arrancando-lhe pedaços da carne do pescoço. O grito dela ecoou por três minutos intermináveis, e cada segundo fez meu estômago revirar. Quando ela finalmente silenciou, tudo pareceu parar por um momento, exceto o som da minha respiração ofegante e o batimento ensurdecedor do meu coração.

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