A Transformação

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    A chuva caía pesada lá fora. A sensação de aprisionamento não vinha apenas das paredes de concreto ao redor, mas da própria atmosfera que envolvia o lugar, principalmente por ser um laboratório que ficava no subsolo.

    O som dos saltos de Laura ecoava pelo corredor, reverberando pelas paredes metálicas, sufocadas pela frieza do lugar. O peso do toque de Carlos ainda ardia em sua nuca, uma lembrança incômoda de que qualquer hesitação poderia custar caro. Ela passou a mão nos lábios, lembrando do beijo que ele havia dado, os sentimentos estavam confusos, amava ele, mas também o temia.

    Ela parou diante da porta de vidro blindado. Thomas. O paciente não era como Dennis. Não, Thomas tinha algo diferente. Ele estava consciente, de uma maneira perversa. O relatório falava de um homem que ainda se agarrava à humanidade, mesmo que ela estivesse escorrendo pelos seus dedos a cada segundo. Ele era perigoso. E, de certa forma, fascinante.

    Laura hesitou por um momento, a placa ao lado da porta piscou em vermelho antes de abrir com um estalo mecânico. Um cheiro pútrido atingiu seu nariz, e ela prendeu a respiração. Lá dentro, o ambiente era mais sombrio, mais denso, a luz vacilava, como se tivesse medo de revelar o que estava escondido nas sombras.

    Thomas estava sentado no canto da sala, as mãos cobertas de sangue seco e presas em uma corrente, os olhos fixos em algum ponto distante, perdido entre o mundo dos vivos e dos mortos. Seus cabelos estavam desgrenhados, e o suor escorria por sua testa pálida. Mas ele estava consciente, e isso era o que mais perturbava. Diferente de Dennis, ele não se movia por instinto.

    - Olá Thomas! - disse Laura ajeitando seu óculos e pronta para fazer anotações.

    - Laura, não é? - A voz dele era um sussurro, rouco e perigoso, como o eco de um segredo que nunca deveria ser compartilhado.

    Ela sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Mas manteve a compostura, sem pestanejar. "Como esta se sentindo?" - perguntou.

    - Eu sabia que você viria. - Ele continuou, inclinando a cabeça para o lado, os olhos brilhando com uma curiosidade doentia. - Eles sempre mandam os mais fortes primeiro. Querem testar a resistência. Ver até onde a mente humana pode suportar antes de quebrar.

    Laura tentou manter a compostura, mas a verdade era que o coração dela estava acelerado. As câmeras não mostravam nada fora do normal. Ainda assim, ela sentia que estava sendo observada de uma maneira que a tornava vulnerável, como se estivesse nua diante de um predador.

    - O que você sabe sobre a pesquisa, Thomas? - Laura perguntou, tentando assumir o controle da situação.

    Ele riu. Um som baixo, quase divertido, mas que soou como unha arranhando uma superfície de vidro.

    - Pesquisa? Você deveria ter me perguntado antes de injetar essa coisa em mim! - Ele se levantou devagar, os movimentos calculados, e deu um passo em sua direção. - Isso... - Ele apontou para si mesmo. - Pra vocês é evolução! Eu não sou como o Dennis. Estou além, e eu vou destruir todos vocês!!

    Laura recuou, sentindo o peso da ameaça. As palavras dele ecoavam em sua mente, plantando uma semente de dúvida, uma sombra que crescia à medida que ele se aproximava.

    - Vocês pensam que podem me estudar, me controlar. - Thomas sussurrou, agora tão próximo que ela podia sentir o calor que emanava de seu corpo febril. - Mas no final, todos vocês vão se ferrar... - Sorriu

    De repente, uma luz piscou no corredor. Um alarme abafado soou ao longe, e ela soube, sem sombra de dúvida, que algo estava terrivelmente errado. Thomas ficou em silêncio, inclinando a cabeça para o lado, como se escutasse algo distante. Seu sorriso alargou-se, transformando-se em algo animalesco.
Ela sabia o que aquilo significava: a contenção falhara.

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