O Sussurro dos Mortos

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A chuva caía pesada lá fora, o barulho dos trovões se juntavam com o grito de morte dos zumbis. Havíamos trancado todas as portas e janelas, reforçando cada entrada. Por ora, estávamos seguros - ou pelo menos, queríamos acreditar nisso.

Depois de finalmente termos conseguido um pouco de descanso, todos tomamos um banho rápido, e comemos qualquer coisa que encontramos na cozinha. Ninguém teve muito apetite, mas sabíamos que precisávamos nos alimentar para aguentar o que viria. A atmosfera estava pesada, marcada pelo cansaço e pela preocupação com Ethan.

Ficamos na sala principal, onde o acesso ao banheiro e à cozinha era mais fácil, o que poderia ser útil em caso de emergência. Ethan estava deitado em um dos sofás, o rosto pálido e imóvel, enquanto aguardávamos, tensos, qualquer sinal de que ele despertasse.

Após intermináveis minutos de silêncio e apreensão, ele finalmente abriu os olhos e soltou um suspiro profundo. Seu olhar, obscurecido pela dor, mostrava-se atento e consciente.

Dean, já suando, organizava os instrumentos que encontrara em um kit médico, desinfetando cada um com precisão. Ele se preparava para remover a bala alojada na perna de Ethan, o rosto tenso enquanto revisava mentalmente cada passo do procedimento.

- Ethan, você vai ter que aguentar - disse Dean rasgando um pedaço da calça para visualizar o ferimento. - Vou tirar a bala, mas o problema não é só isso. Precisamos de antibióticos, e logo!

Ethan sorriu de lado, apesar da dor evidente. Seu olhar encontrou os meus, e por um breve segundo, tudo pareceu desacelerar.

- Eu aguento - respondeu Ethan com um tom rouco, seus olhos fixos nos meus. - Já passei por coisa pior.

Senti uma onda de alívio e uma estranha sensação de conforto ao ouvir sua voz. Desde que o caos havia começado, nós mal tivemos tempo para nos conhecer de verdade, mas havia algo entre nós, uma conexão crescente, um cuidado que parecia natural, mesmo em meio ao apocalipse.

Dean limpou a área ao redor da ferida e pegou uma pinça. Eu estava incerta se deveria ficar ou sair, aproximei de Ethan, tentando oferecer algum apoio.

- Eu... Eu posso segurar sua mão, se você quiser - falei, um pouco hesitante.

Ethan riu baixinho, os olhos semicerrados pela dor.

- Não é uma má ideia - respondeu ele, estendendo a mão pra mim.

Quando nossos dedos se tocaram, a conexão foi imediata, e mesmo no meio daquela situação aterradora, eu senti um calor inesperado.

Dean fez um sinal com a cabeça, indicando para eu segurar Ethan firmemente. Engoli seco, sentindo a pressão do momento, mas assenti e me posicionei ao lado de Ethan, mantendo-o estável. O silêncio da sala era quebrado apenas pela respiração rápida de todos, enquanto Dean, com as mãos firmes, começou o procedimento.

A lâmina deslizou pela pele de Ethan, e ele mordeu os lábios, tentando segurar um grito. Dean murmurava palavras de encorajamento, mais para si mesmo do que para o amigo ferido. Cada segundo parecia uma eternidade enquanto ele avançava, centímetro por centímetro, buscando o fragmento de metal. Eu senti o peso do momento, meu coração batendo forte, mas não desviei o olhar, determinada em ajudar.

Finalmente, Dean segurou a bala com a pinça, puxando-a lentamente para fora. O corpo de Ethan se contorceu em resposta à dor, e um grunhido abafado escapou de seus lábios. O cheiro metálico do sangue preenchia o ar, eu mal consegui conter um suspiro de alívio ao ver Dean largar a bala ensanguentada em uma bandeja improvisada.

Com a bala removida, Dean limpou o ferimento e aplicou gaze para conter o sangue, tentando ignorar o cansaço que pesava em seus braços.

Enquanto Ethan descansava, ainda pálido, Dean fez um último ajuste no curativo, garantindo que o ferimento estivesse bem coberto.

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