No dia seguinte, encontrei Mayra na faculdade. Ela solicitou orientação sobre a rotina completa do biotério e informou que havia tomado as vacinas exigidas pelo laboratório.
- Qual vacina? - indaguei, surpresa.
- A antirrábica, lembra? - esclareceu ela, tranquilizando-me. - E, evidentemente, já tomei a da empresa também! - acrescentou.
Eu não tinha o que dizer naquele instante, apenas observei sua expressão enquanto falava, refletindo sobre o grande equívoco que sua impulsividade provocara, mas é claro, ela só estava sendo uma boa estagiária, cumprindo ordens. Thomas e eu tínhamos combinado de conversar com todos os estagiários e esperar que as doses dos cientistas fossem aprovadas antes de tomarmos juntos. Para ser sincera, eu não confiava mais nas palavras de Carlos.- Como você está se sentindo? - perguntei finalmente, com um nó na garganta.
- Acordei um pouco cansada hoje, e estou com a sensação de que vou ficar gripada! - respondeu, cobrindo a boca para tossir. - Carlos disse que é normal!
- Claro que disse! - repliquei irritada. Certamente ele não diria o contrário. - May, tire o dia de amanhã para descansar. Eu comunico à empresa que você não está bem.
Ela me agradeceu e, assim que nos despedimos, enviei uma mensagem para Thomas, pedindo que me encontrasse do lado de fora da faculdade. Eu pressentia que algo estava errado e precisávamos buscar evidências.
- Eu tinha revisão de prova agora, sabia? - reclamou Thomas ao se aproximar.
- Depois você estuda, sei que consegue fazer a prova com tranquilidade - respondi, ironizando.
- O que é tão importante para faltarmos às duas últimas aulas? - perguntou debochando.
- Precisamos acessar os arquivos do laboratório.
- Você enlouqueceu! - exclamou ele exaltado. - Podemos ser processados!
- Não é o processo que me preocupa - respondi, pensativa.
- Emma, já conversamos. Não há nada de tão perigoso nessa empresa, eles não...
- Você acha normal seu supervisor apontar uma arma para um funcionário? - questionei, irritada pela falta de confiança dele.
- Ele desrespeitou os protocolos... - respondeu Thomas, nervoso.
- No meu contrato não havia nada me alertando que eu poderia levar um tiro por infringir as regras! - contestei.
- Vai levar assim que descobrirem o que você está planejando!
- Por favor, Thomas! Você é o único que entende de tecnologia - falei, tentando persuadi-lo. Ele ficou pensativo por alguns minutos.
- Está bem, mas tem que ser algo planejado. Não quero perder meu estágio, nem ser processado e muito menos... morto!
- Prometo que vai dar tudo certo! - respondi, insegura do que acabara de falar.
Eu não fazia ideia onde estávamos nos enfiando, sabia que era perigoso e que se alguma coisa desse errado, estaríamos presos ou mortos. Mas algo me dizia que eu deveria tentar encontrar algo, talvez para tranquilizar a mente e voltar a trabalhar normalmente, pois eu não estava preparada para achar algo, se eu encontrasse, o que eu poderia fazer?!
Na manhã seguinte, quando entrei na recepção, Carlos me aguardava com vários relatórios em mãos e perguntou se eu já havia decidido sobre a vacina, pois o prazo para tomar a decisão era só até hoje. Caso contrário, meu contrato de estágio terminaria nesta manhã. Respondi com a maior pressão psicológica que no final do dia assinaria os documentos conforme solicitado. Ele aprovou minha decisão e se afastou.
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Apocalipse
Science FictionA chuva fina caía incessantemente sobre as ruas desertas, o som das gotas sendo abafado pelos ecos distantes de sirenes e gritos. O mundo, que outrora vibrava com o pulsar da vida, agora estava submerso em uma quietude mortal. O ar estava denso com...