Prólogo

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06 de abril de 2021, Cidade Capital – Alendor.
As ruas foram tomadas por bandeiras e faixas com cores verdes e vermelhas, decorando a cidade com as cores de Alendor. Faltava apenas um dia para a grande festividade em comemoração ao centenário de independência de nosso país.

Já não pertencíamos mais a Sarnaut, o país que já fora a maior potência do mundo, mas que agora sucumbia a uma grande crise financeira. Diferente de Alendor, que cada vez mais conquistava espaço, devido ao acelerado crescimento, após reformas políticas.

Desde a metade do século passado, a população fora dividida em 5 castas, que foram classificadas apenas com números. Sendo os pertencentes da de menor número as pessoas mais ricas e poderosas do país, e a de maior, as mais pobres e que normalmente trabalhavam em grandes fábricas, com cargas horárias elevadas e baixos salários. Minha família fazia parte dessa última.

No início houve muitas rebeliões contra esse novo sistema, mas o governo em vez de recuar em suas decisões, não hesitou em executar milhares de opositores. Então, em pouco tempo a população desistiu de lutar contra e passou a viver com medo.

Por mais que fosse muito evidente a diferença no poder aquisitivo entre as castas, mesmo nós da mais baixa conseguíamos nos manter e viver tranquilamente, mesmo não podendo usufruir de muitos confortos que qualquer pessoa ansiaria. Subir de casta era uma das coisas mais difíceis de conseguir. Afinal, a única maneira era através de casamento com alguém de uma superior, e mesmo assim era necessária a autorização por parte do governo, que tentava manter tudo sob controle.

Nas ruas não havia qualquer morador de rua, e crimes eram quase inexistentes, pois algo que diferenciava Alendor dos outros países era sua rígida Lei Anti-Criminalidade, imposta após essas rebeliões. Não existia qualquer prisão ou futuro para quem cometesse algum crime, não importava quão pequeno fosse. Caso apreendido, seria condenado à pena de morte por injeção letal.

Essa lembrança me causava arrepios, quase me fazendo desistir do que estava prestes a fazer, mas que era necessário. Deveria correr esse risco, para poder ajudar minha família. Minha mãe havia adoecido, e estava impossibilitada de trabalhar. Somente com o salário meu e de meu pai era difícil comprar seus remédios e manter a todos nós.

Éramos quatro pessoas: eu, meu pai, minha mãe e meu irmãozinho de 10 anos, que ainda não podia trabalhar, já que só havia autorização após os 14 anos, quando nos formávamos no ensino básico. Somente castas de 3 a 1 tinham poder aquisitivo o suficiente para bancar ensino superior de seus filhos.

Em nossos trabalhos, eu e meu pai tínhamos acesso a uma refeição por dia, porém minha mãe já não comia há dois dias, para poder dar o pouco que tínhamos a nosso irmãozinho. Era proibido deixar as instalações das fábricas com comida, então se fôssemos pegos levando para casa, perderíamos nossos trabalhos, assim como aqueles da cozinha que ajudassem. Ver todo o sofrimento de minha família, passando por esse momento difícil, estava acabando comigo.

Havia acabado de sair de mais um dia de trabalho, quando decidi tentar amenizar o sofrimento de minha mãe, conseguindo algo para levar para casa. Entrei em um dos minimercados de nosso bairro, havia apenas mais três pessoas fazendo compras: um casal e uma senhora idosa. Meu bairro era composto apenas com pessoas da casta 5, então todos nós morávamos em casas padrões, idênticas umas às outras.

Não tinha nenhum dinheiro, mas era necessário conseguir algo, pois minha mãe estava piorando sem se alimentar. O dono do minimercado era o caixa, e ele prestava atenção à sua televisão, onde passava um noticiário falando sobre a grande festa que aconteceria no dia seguinte. Todas as prateleiras eram baixas, permitindo que ele tivesse visão total de quase todo o estabelecimento.

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