-Tem certeza disso? – questionei, encarando o fino e caríssimo terno escuro à minha frente. Eu e Eric estávamos em seu quarto.
- Claro! Você ficará lindo nele!
- Eu nunca usei algo assim, antes.
- Não se preocupe, que você vai se sentir ótimo. Agora se vista, que logo Paulo chegará.
- Tudo bem – concordei e comecei a vestir-me. Quando finalmente havia vestido quase todas as peças de roupa, tive dificuldade com a gravata. Afinal, nunca imaginei que usaria algo assim na minha vida.
- Deixa que eu coloco para você – Eric falou, ficando de frente a mim, dando o nó na gravata vermelha.
- Por que tenho que me vestir assim? – perguntei. Era estranho, já estava acostumado com a ideia de usar somente roupas brancas.
- Primeiro, porque você fica lindo. E segundo, porque quero que Paulo perceba que você está muito bem e feliz morando comigo – explicou.
- Ah, entendi... – falei, desanimado. Eric me olhou desconfiado.
- Você está feliz morando comigo, Ianto? – ele questionou, largando a gravata, agora colocada corretamente.
- Claro que sim! – afirmei, rapidamente – Estou muito feliz contigo, Eric! E não troco o que estamos vivendo por nada.
- Tem certeza disso? Não quer mais voltar à sua antiga vida? – ele perguntou sério, analisando minha expressão. Ele queria a verdade.
- Não! Lá fora, a vida que eu tinha não era boa. Eu trabalhava muito, era exaustivo. Vivia com dores devido às pesadas caixas que carregava e, quando chegava em casa, raramente tinha comida suficiente para todos. Sempre tínhamos que controlar a quantidade que comíamos. Você sabe que não há formas fáceis de subir de casta, então esse era meu destino: uma vida que sempre faltava algo. Eu estou feliz aqui com você, Eric. Talvez, você ter me comprado tenha sido a melhor coisa que já tenha acontecido comigo! – respondi, sem desviar meu olhar do seu. Eu sentia a verdade naquelas palavras. Estava sendo sincero. Ele me abraçou forte.
- Fico muito feliz em ouvir isso, Ianto.
- Eu te amo, Eric! – revelei.
Silêncio.- Vou deixar você terminar de se arrumar – Eric finalmente falou. Após longos segundos de silêncio agoniante, me soltou. - Os sapatos que te comprei estão nessa sacola sobre a cama. V ou preparar a cozinha para logo mais – informou e saiu do quarto.
Senti como se tivesse sido esfaqueado no peito. Não sabia por que havia dito aquilo naquele momento, mas já não conseguia guardar somente para mim aquele sentimento. Ele precisava saber que havia alguém que lhe amava de verdade, mas não receber uma resposta havia sido doloroso.
Senti as lágrimas quererem surgir, mas me controlei. Afinal, talvez ele só não estivesse pronto para se abrir para mim ainda.
“Eu te amo”. Era uma frase forte de se falar. Talvez Eric precisasse de mais de tempo para sentir-se preparado para retribuir.
Fui até a sacola que ele havia falado e dentro de uma caixa tinha um par de sapatos pretos e brilhantes. Maravilhosamente lindos. Assim que os calcei, fiquei mais um tempo ali em seu quarto, respirando fundo e me acalmando. Não podia discutir com ele. Não queria que as coisas voltassem a ser como antes. Eu estava feliz nos últimos dias.
Quando finalmente senti que estava mais calmo, desci até o andar de baixo e foi quando ouvi vozes surgindo da cozinha. Paulo já havia chegado. Precisava ser agradável com ele, afinal era o melhor amigo de Eric. Era estranho o fato dele também ter tentado me comprar, mas ia me concentrar apenas no que importava.
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Garoto a venda
RomanceEm um planeta fictício semelhante a Terra, no país de Alendor, as pessoas são divididas por castas e vigoram leis rígidas contra a criminalidade. lanto pertence a uma das mais baixas dessas castas, e em um momento de desespero tenta roubar comida pa...