- Você namora, Lucy? – perguntei, enquanto trocava de canal na televisão. Estava jogado sobre o sofá, enquanto Lucy varria o chão da sala.
- Não, ainda não achei alguém digno para mim. Mas, por que pergunta?
- Sei lá. Sinto-me estranho com algo que aconteceu essa semana – comentei lembrando-me do que Eric me dissera após eu ter me declarado a ele.
- O que houve? Pode me contar agora! – Lucy perguntou, já largando a vassoura no canto. Correu até o sofá e sentou-se ao meu lado, completamente interessada.
- Não sei se é boa ideia eu falar.
- Vamos lá, garoto! Eu sou ótima em conselhos.
Não queria envolver Lucy no assunto, mas me sentia muito mal. Nem mesmo consegui evitar chorar muito, nas últimas noites. Achei que ambos estávamos em mesma sintonia. Mas saber que Eric “gostava muito” de mim, enquanto eu o amava, era doloroso. Respirei fundo, antes de contar o que havia acontecido.
- Disse que amava Eric – revelei.
- Sério? O que ele disse? – ela perguntou, curiosa.
- Nada. Ficou calado e simplesmente saiu do quarto.
- Nossa, que horror! Eu dava na cara dele para aprender a não ser tão insensível. Mas pode ser que ele precise de mais tempo para conseguir se abrir contigo. Falar “Eu te amo!” é bem mais difícil do que “Me faz um boquete.”, por exemplo.
- Exatamente, esse é o problema. Eu pensei semelhante a você, tirando a última parte. Mas no fim da noite, ele disse que também gostava muito de mim – contei.
- Ai! Essa doeu até em mim.
- Eu não sei o que faço. Achei que ele me amasse também. Ele vem sendo tão carinhoso e atencioso comigo!
- Tirando o fato de que te mantém preso num quarto vazio, só para eu não te ver – ela comentou.
- Ele tem motivos para isso – defendi.
- Acho que não, Ianto. Se ele não quisesse que eu descobrisse sobre vocês, você poderia simplesmente ir para outro lugar enquanto fico aqui limpando.
Lucy não conseguia entender a situação. Eu não podia sair de casa, e ficava preso mesmo nos dias que não vinha limpar.
- Não é isso que queria conversar – falei, tentando mudar de assunto – O que devo fazer para que Eric me ame também?
- Ianto, as coisas não funcionam assim. Ele tem que te amar como você é. Você não pode achar que pode comprar o amor dele, com sei lá, mais sexo.
Fiquei em silêncio. Era irônico o rumo que a conversa tomou.
“Como conheceu Eric?’’ – Lucy me perguntou tentando retomar o assunto.
- Bem... Foi... – gaguejei e nada veio à minha mente, então simplesmente calei. Lucy me olhou desconfiada.
- Não me diga que também não pode contar isso?
- Desculpa.
- Como vou poder te ajudar se você não for sincero comigo?
- Você não quer saber a verdade, acredite.
- Claro que quero!
Tentei começar a contar a verdade, mas as palavras não saíam. Eu queria muito poder compartilhar o que estava acontecendo comigo. Mas Eric não iria gostar nada disso, se descobrisse.
E não tinha como imaginar qual seria a reação de Lucy.
- Ianto, confie em mim. Achei que já fôssemos amigos!
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Garoto a venda
RomanceEm um planeta fictício semelhante a Terra, no país de Alendor, as pessoas são divididas por castas e vigoram leis rígidas contra a criminalidade. lanto pertence a uma das mais baixas dessas castas, e em um momento de desespero tenta roubar comida pa...