VI

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Jisung se encontrava atônito com o que acabou de ouvir. O mundo ao seu redor estava parado como um filme em pause, só se ouvia a suavidade da cortina ao balançar com a brisa que insistia em invadir um momento tão íntimo como aquele. Todos naquele quarto não conseguiam expressar nenhuma palavra para o que ouviu de Minho, apenas poderia imaginar que seria uma brincadeira de mal gosto, colocada numa situação como aquela. Os olhos de Jisung já se encontrava-se vermelhos na tentativa de aprisionar as lágrimas que se acumularam. O médico que tomou conta do Lee mais velho durante todos os últimos dias desde sua entrada no hospital se encontrava confuso pois não havia registro em nenhum dos exames alguma sequela neurológica que provocasse alguma amnésia no seu paciente.

O silêncio naquele quarto se tornou denso e quase palpável.

─ Minho? Este é o Jisung. ─ Felix decidiu quebrar o silêncio.

O acastanhado até então estava imóvel, olhando para o garoto na sua frente que já tinha seus olhos brilhantes pelas lágrimas mas se recusa-se a deixar escapar. Seu semblante era confuso e em seus olhos existia um vazio, totalmente sem vida.

─ Felix... ─ Minho intercalou seu olhar de Jisung para Felix confuso, podendo ouvir sua voz pela primeira vez.

─ M-min... ─ um soluço foi ouvido ─ Sou eu, o Hannie...

Jisung não segurou o choro ao cair em si e ver o que estava realmente acontecendo. Se aproximou mais da cama e novamente tentou tocar na mão do maior, porém, mais uma vez a repreensão foi sua resposta.

─ Desculpe... Mas eu não sei quem você é.

E então tudo estava claro como água. Minho não lembrava de Jisung.

Jeongin percebeu o estado de Jisung e antes do amigo cair aos prantos, foi em sua direção e o direcionou para saírem do quarto. Jisung nada poderia fazer, apenas seguiu os passos do amigos. Tudo na mente de Jisung vinha como flash's; as tardes que partilharam juntos, os segredos, os passeios, e em especial a tarde do fatídico acidente. Tudo foi rápido demais por entre seus dedos, escorregando como areia movediça.

E mais uma vez um antigo sentimento conhecido por si tomava conta do seu ser. Seu corpo todo estava doendo, seu peito se apertava e cada vez estava ficando difícil de respirar. Suas pernas estavam trêmulas e andar por aquele corredor estava sendo um enorme desafio. Ele só queria seu Minho de volta.

─ Jisung...

─ Ele me esqueceu, Innie... ─ sua voz era quebrada.

─ Não tire conclusões precipitadas, Ji, pode ser algo temporário, pode ser a confusão do coma. Eu não sei. Vamos esperar o que o médico vai nos contar. ─ falou colocando o menor sentado em uma cadeira que tinha no corredor. ─ Tente se acalmar um pouco, tudo irá se resolver, eu estou aqui ao seu lado.

─ E-eu estou com medo Innie... Estou com medo de perdê-lo. ─ a cachoeira abaixo de seus olhos agora era constante, finalmente ele tinha se permitido chorar.

─ Você não vai Ji! O pior já passou, você precisa se permanecer forte para está ao lado dele e ouvir o que o médico tem a dizer.

Após abraçar o menor que soluçava sentado no corredor daquele hospital, Jeongin percebeu a porta abrir e logo direcionou seu olhar para a mesma.

─ Doutor! ─ Jisung o chama em um sobressalto ─ Como ele está?

─ Aparentemente ele está bem. Mas precisamos fazer alguns exames. Sabemos que a hemorragia interna que ele teve foi revertida logo quando ele deu entrada aqui no hospital, não virmos nenhum dano visível, por isso que iremos precisar fazer alguns exames para saber a causa da sua perca de memória. Estou preparando uma listagem dos que irei precisar para já providencia-los.

─ O senhor acha que ele vai ficar assim pra sempre? ─ Jeongin perguntou o que Jisung tanto temia ouvir.

─ Não posso afirmar nada com exatidão no momento. Preciso fazer alguns exames. Como ele acabou de acordar, devemos ir seguindo passo a passo também para não assustá-lo e desencadear um estresse pós traumático. Será muita informação para ele assimilar.

─ O ajude doutor! Eu imploro... ─ Jisung falava com a cabeça baixa sentindo lágrimas deixar seu rosto e cair diretamente no chão.

─ Farei o possível para ajudá-lo. Contém comigo. Agora precisamos deixar ele descansar e se alimentar corretamente. Não o forcem nesse momento a nada.

Após a breve conversa com o médico, Jisung sentiu suas pernas trêmulas não evitando assim de cair no chão de joelhos e assim permitir chorar mais ainda. Um choro que lhe rasgava a garganta.

─ Eu não posso perder o Min...

Sua voz quebrada e baixa devido ao choro era como uma caída em um limbo; vazio, sem luz e esperanças. Ele tinha seu coração quebrado em mil pedaços em suas mãos, e cola nenhuma existente seria capaz de juntar os milhares de estilhaços pontiagudos que o rasgavam por inteiro. Jeongin tentava a todo custo acalentar o amigo ao lado, porém sabia que era em vão.

❝ ❞

Quando Jisung chegou em um novo ambiente desconhecido por si, tudo ao seu redor era uma nova descoberta, inclusive na faculdade onde daria início ao seu sonho. Chegou em Seul sem amigos ou parentes, somente sua coragem e determinação foi o suficiente para a sua sagacidade. Alguns dias após os inícios das aulas conheceu Jeongin e Felix onde se tornaram próximos trazendo Jisung para sua roda de amigos para cada vez mais o acastanhado se sentir confortável e acolhido.

Minho era um garoto mais relutante quando o assunto era novos amigos, mas com Jisung foi diferente e era diferente a cada dia. Se aproximaram rapidamente logo criando um forte laço entre os dois. Dividiam momentos de entardecer juntos, segredos partilhados o deixavam cada vez mais íntimos, horas de estudos ou de passeios onde Minho levava Jisung para conhecer a cidade e dizia sempre que havia um lugar que ele poderia se inspirar ao conhecer. Mal sabia Minho que Jisung já havia encontrado sua maior fonte de inspiração.

Jisung cresceu em uma infância e adolescência solitária. Seus pais viviam sempre trabalhando em uma grande empresa que tinham em conjunto, sempre deixando por último as necessidades familiares. Porém o seu pai sempre tentava ser mais presente na vida do único filho. Após a descoberta da doença do seu pai, que foi um grande baque em suas vidas, logo se via tomado por um enorme sentimento jamais sentido antes. A dor de perder alguém. Foi questão de alguns meses após a descoberta para que o senhor Han os deixassem. Desde então, Jisung não sentia mais a chama dentro de si para o que tanto amava que era a arte. Seu pai sempre o deu apoio e ter uma perca como essa foi como ter a vida arrancada de si. Os sonhos onde um rosto invisível era sempre tão vivido em suas noites era algo que o deixava ainda com vontade de seguir em frente e descobrir o porquê de sentir que devia procurar por aquilo ou aquele.

E rapidamente, lá estava Lee Minho em sua vida. Arrancando risadas sinceras, noites em que adentravam em ligações, suspiros profundos que não sabia o significado até as pequenas borboletas em sua barriga falar por si e ele ver que aquilo tudo era um sentimento inegável por si. O garoto de cabelos lisos e pretos caídos sobre os olhos, corpo levemente definido e sorriso contagiante que logo chamou a sua atenção. E como um imã, um estava sendo atraído pelo outro. Jisung não sabia, mas Minho carregava consigo algo que o menor jamais desconfiou.

Era como se algo nele o chamasse para perto de si.

E o resultado não foi diferente. Logo os dois estavam mais próximos, chamando assim a atenção de todos ao redor que já levantavam rumores sobre a relação dos garotos. Mas eles não ligavam. Eles estavam perdidos em um mundo que os dois criaram. Jisung tinha Minho como seu arco íris, sua palheta de cor única.

Depois de uma grande tempestade, o céu começaria a se abrir e um lindo e encantador arco íris iria aparecendo no céu ainda escuro. Minho estava se tornando as cores que Jisung teria perdido durante todos esses anos em preto e branco, estaria se tornando o brilho antes perdido em seu olhar.

E Jisung faria de tudo para não o perder novamente.

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