VII

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A noite de Jisung foi pior como todas as outras que vinha passando nos últimos dias em sua vida. O teto branco do seu quatro era um cenário de admiração para seus lumes sem brilho e vazios. Seu peito apertando cada vez mais as entranhas de sua pele, rasgando como pequenos fios navalhados e palavras antes ditas por Minho no hospital sussuravam em seus ouvidos cada vez mais o levando ao limbo.

Os primeiros raios da manhã invadiu seu quarto bem arrumado e não percebeu em que momento conseguiu adormecer perdidos em seus pensamentos que o atormentavam.

Verificou o seu celular checando as mensagens já recebida pela senhora Lee e confirmando a ida ao hospital.

Jisung com suas olheiras presentes e roupas confortáveis já se encontrava no hospital tão conhecido por si, o cheiro tão enjoativo quanto as memórias recentes junto a sua ansiedade na espera ao lado da mãe de Minho. Juntos esperavam o médico responsável pelo Lee mais novo e esclarecimentos sobre o quadro do jovem rapaz.

─ Querido, se continuar andando de um lado para o outro vai abrir um buraco no chão. ─ sorriu sem mostrar os dentes na tentativa de acalmar o menor.

─ Desculpe... Estou muito nervoso. ─ suas mãos suadas eram as provas do crime de seu nervosismo tão evidente.

─ Com licença, senhora Lee, Han, podem entrar. ─ o senhor de cabelos grisalhos falou da porta dando passagem para os dois ali entrarem em seu consultório.

─ Então doutor, qual é a situação do meu filho? ─ a senhora Lee quebrou o silêncio após se acomodarem a frente do médico.

─ Fizemos todos os exames que solicitei e todos deram normais, sem alguma alteração por mínima que seja. ─ o senhor dizia entregando alguns dos resultados na mãos dos presentes a sua frente.

─ Então o que explica essa perca de memória? E o quanto disso foi afetado? ─ foi a vez de Jisung questionar.

─ Isso é o que não sabemos... Conversando com a equipe médica, questionamos que poderia ser alguma lesão traumática transitória. Algo não permanente. ─ nesse momento o senhor vira a tela do seu computador com a imagem de um cérebro desenhado ─ Existe uma região em nosso cérebro que é responsável pelas memórias, se chama hipocampo*, lá temos o armazenamento de nossas memórias como datas, lugares, acontecimentos entre tantos outros. Podemos imaginar que com o trauma sofrido pelo senhor Lee, essa região possa ter sido afetada de alguma forma. Nos exames não é possível ver tal dano, mas ele pode sim existir.

─ Então, pode ser algo permanente? ─ perguntou a senhora Lee.

─ Não podemos afirmar nada por enquanto. Tive a liberdade de falar com o Senhor Lee Felix, seu amigo, e juntos conversamos com ele para ver até onde ele poderia se lembrar de acontecimentos passados. Juntamente com uma psicóloga ao nosso lado que está cuidando do caso dele, em breve irei apresentar a Dra. Nayeon. Ele não se lembra do acidente que sofreu e consequentemente do dia do ocorrido. Algumas memórias são falhas pelo o que ele informou, mas o que está mais presente, digamos, onde a memória dele "estacionou"- fez aspas com os dedos - foi relacionado a um ano atrás.

─ Um ano... ─ Jisung falou em um sussurro.

Então a lembrança de quando se conheceram veio a tona em sua mente, a exatamente um ano atrás. 
Jisung estava imóvel absorvendo todas aquelas informações ditas naquele consultório. Ele sentia seus olhos ardem pelas lágrimas que estavam presas insistindo em sair e rolar por seu rosto arredondado. Tinha seus olhos fixos em um ponto qualquer a sua frente o deixando inerte de tudo ao seu redor.

─ Jisung? ─ nada ─ Querido? Jisung querido está me ouvindo?

Ao ver uma mão ser passada a frente do seu rosto, teve sua atenção de volta a mais velha ao seu lado que o chamava.

─ Desculpe tia... Estava imerso nas informações. ─ sorriu fraco ─ Então quais serão os próximos passos?

─ Vamos continuar por observação durante as próximas 48 horas até ter certeza que ele está totalmente fora de perigo. Sugiro continuar com as sessões de terapia, irá ajudá-lo a entender mais o seu quadro e evitar um estresse pós traumático. Sugiro também que dêem o espaço que ele precisa para se realocar durante esse tempo. Evitar informações que o deixem confuso demais, emoções, tudo o que possa vir a ser gatilho. Como o acidente foi bastante delicado o que fez induzir a um coma, precisamos ter cuidado.

─ Obrigada doutor! Não sei o que seria do meu filho sem a sua ajuda e da sua equipe.

─ Seu garoto é forte senhora Lee, todo mérito é dele.

Após pegarem os últimos resultados dos exames, Jisung e a senhora Lee saem do consultório e caminham pelo corredor em direção ao quarto de Minho.

─ Tem certeza que não quer ver-lo?

─ Tenho sim tia. O doutor disse que ele precisa descansar. E afinal, ele não lembra de mim, então não tem motivos para que eu entre.

─ Mandarei notícias todos os dias.

─ Eu agradeço. ─ se aproximou e abraçou a mais velha.

Após se despedirem, a mãe de Minho já se encontrava no quarto junto ao mesmo e Felix permanecia ao seu lado.

─ Como ele está? ─ Felix perguntou se virando para a mais velha.

─ Está do mesmo jeito. Abatido, olheiras fundas... Não sei se está dormindo bem, ou comendo. Não quis entrar...

─ Entendo... Irei visitá-lo quando sair daqui. ─ sorriu mínimo.

─ Como você está meu filho?

─ Estou bem mamãe. De quem estavam falando? ─ Minho questionou com as sobrancelhas franzidas.

─ Do Jisung, o garoto que veio te visitar ontem... ─ Felix o lembrou.

─ Eu não sei... Eu não o conheço, mas eu sinto algo tão estranho quando escuto esse nome...

Minho se encostou na cama fechando seus olhos sentindo um vazio estranho em seu peito. Não entendia tal sentimento, como não entendia alguém que não conhece o procurar e chorar na sua frente, tudo estava bastante confuso.
Sentiu seu coração se apertar ao ver a cena do menor chorando, mas não poderia fazer nada, afinal, Minho não conhecia Jisung.

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