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Maximilian White

05/02/24 - Los Angeles

- Me dê um motivo plausível para te deixar ir para o Brasil? - meu pai perguntou, cruzando os braços sobre a mesa.

- Quem ele pensa que é para fugir assim? - resmunguei, encarando meu pai. - As pessoas não se demitem, eu as demito.

- E você acha que é uma ótima ideia ir atrás dele no Brasil só para demitir ele?

- Eu não vou demitir ele... - pausei por alguns segundos, pensando. - Não por enquanto. Ele vai perceber o erro que cometeu e vai me implorar para voltar.

- Ainda estou esperando pelo argumento plausível.

- O que seria melhor do que trabalhar comigo, afinal? - perguntei, indignado.

Meu pai abriu e fechou a boca várias vezes, como se fosse falar algo, mas desistisse logo em seguida.

- Eu estou me divertindo muito - Duncan disse, ainda jogado no sofá. - E assim, não queria dizer nada, mas se o Diego saiu, o pai dele deve ser o próximo, né? Eles são bem próximos - acrescentou, tentando soar sério, mas claramente colocando lenha na fogueira.

- Ele não faria isso - Meu pai riu, meio desesperado, enquanto passava a mão pelos cabelos. - Faria?

- Ah, faria sim! - Duncan riu, levantando-se do sofá. - Você conhece o Diego. Ele não faz nada pela metade. E se ele vai para o Brasil, pode apostar que o pai dele já está pensando em seguir o mesmo caminho.

- Então parece que temos uma viagem para o Brasil - meu pai sorriu, levantando-se da mesa.

- E os motivos plausíveis? - perguntei, cruzando os braços.

- Ainda está falando? - ele respondeu, saindo do escritório e me deixando sozinho com Duncan.

- E você não tem nada melhor para fazer, não? - virei-me para Duncan, que permanecia espalhado pelo sofá do escritório.

- Tenho, arrumar minhas malas para uma viagem para o Brasil - ele disse, levantando-se e se dirigindo à porta.

- Quem te convidou? - perguntei, mas ele apenas saiu do escritório, me ignorando completamente - Ótimo, mais um palhaço para o circo - murmurei.

Antes de sair do escritório, lancei um último olhar para o aparador no canto da sala. Havia uma cafeteira, uma garrafa de whisky e, ao lado deles, um porta-retratos com uma foto minha aos seis anos. Na imagem, eu estava no colo do meu pai, ambos sorrindo enquanto ele segurava um pequeno troféu de um campeonato de jiu-jitsu infantil que eu havia ganhado. A lembrança daquele dia me fez refletir sobre o quanto as coisas mudaram, e como, de certa forma, eu ainda buscava a mesma aprovação que sempre quis.

Minha relação com meu pai nem sempre foi próxima. Grande parte da minha adolescência foi passada apenas com minha mãe. Embora ela e meu pai estivessem casados, ele passava praticamente todo seu tempo na empresa. E sinceramente, se eu estivesse casado com uma mulher como ela, também não ficaria em casa. Por causa dessa distância, minha mãe me moldou à sua vontade por anos, sem qualquer resistência. Ela sempre soube como me manipular e controlar, aproveitando-se da ausência constante do meu pai.

Tudo mudou quando eles finalmente se separaram. Foi um alívio para todos nós, mas especialmente para mim. Sem a sombra constante da manipulação de minha mãe, eu pude finalmente conhecer o mundo em que meu pai vivia. Descobri um homem diferente daquele que eu tinha imaginado durante minha infância e adolescência. Ele não era apenas o pai ausente; ele era alguém que, agora, estava tentando compensar o tempo perdido. Desde então, ele se sente profundamente culpado pelo tempo que ficou longe e tem feito de tudo para se redimir. E, apesar de toda a bagagem emocional, nossa relação tem melhorado significativamente.

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