Nasceu bobo assim ou fez curso no Senai?

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Diego Souza

30/01/24 - Las Vegas

Maximilian estava radiante naquele dia, comparável à radiação remanescente em Chernobyl. Tudo me fazia pensar no que davam para aquele homem antes de sair de casa. Se estivéssemos no Brasil, eu entenderia se ele me dissesse que seu mau humor matinal era causado por um vizinho ouvindo o mesmo funk repetidas vezes durante toda a madrugada - traumas de guerra. Mas, primeiro, não estávamos no Brasil, e segundo, ele morava isolado de toda civilização, em uma casa grande demais para um cachorro e um verme do deserto.

O semblante de Maximilian me fazia pensar que estávamos entrando em um clipe do Evanescence ou em um dos filmes de Crepúsculo. O clima de Las Vegas naquela manhã contribuía para essa atmosfera sombria: fazia frio, o céu estava completamente nublado, e um vento gelado cortava o ar, levantando folhas secas que dançavam pela calçada. Era como se a cidade, conhecida por seu brilho e extravagância, tivesse decidido entrar em um modo melancólico para combinar com seu humor.

Havíamos acabado de desembarcar do avião e estávamos a caminho do hotel onde passaríamos a noite antes de partir de volta para Los Angeles na manhã seguinte. Max mal falava, mantendo o mesmo semblante. No aeroporto, ele apenas pegou seu café e se dirigiu ao portão de embarque, certo de que eu já havia feito o check-in.

No táxi, o silêncio não era incômodo; dez anos de convivência me ensinaram que o senhor arrogância não era exatamente uma pessoa de muitas palavras. Escutava uma música do Cartola com apenas um fone, mantendo o volume baixo para que ele não quisesse me crucificar por atrapalhar seus pensamentos com minha música. Max estava absorvido em seus próprios pensamentos, ou talvez apenas irritado com alguma coisa trivial. Olhei para ele de soslaio, ponderando se deveria dizer algo.

- Sobre a reunião - comecei escolhendo as palavras com cuidado. - Você quer que eu prepare algum material específico?

Ele me lançou um olhar misto de desdém e impaciência, seus olhos perfurando minha alma.

Talvez, eu devesse ter ficado na minha humilde insignificância.

- Souza, você realmente acha que preciso de ajuda para uma reunião? - ele disse com um tom sarcástico. - Apenas certifique-se de que tudo esteja organizado e pronto quando eu precisar.

Respirei fundo, contendo a irritação. Estava acostumado com seu jeito arrogante, mas ele realmente sabia como tocar nos nervos das pessoas.

- Entendido, senhor - respondi com uma leve reverência de cabeça, tentando manter a vontade de matá-lo apenas no meu subconsciente.

Max sorriu de canto, aquele sorriso que me irritava profundamente.

- Espero que tenha. Conversei com o Sr. Jones previamente, e ele disse que tinha algo a dizer sobre você e o filho dele.

Eu deixo aqui minha nota de óbito. Digam ao meu pai que o amo, e não deixem que Oliver encoste na minha moto, nem que Ivy roube meu quarto.

- Não posso imaginar do que se trata - respondi, contendo a vontade de descer do carro em movimento e fugir para o Brasil, para o colo da Tia Eliza.

Tia Eliza era minha única parente viva além do meu pai, morava no Brasil, era cabeleireira, uma baixinha dos cabelos cacheados e olhos idênticos aos meus e do meu pai, e tinha crenças demais para uma pessoa só. Ao entrar em sua casa, você poderia encontrar uma Nossa Senhora Aparecida ao lado de um Buda, um Zé Pelintra e diversas pedras e um cheiro forte de incenso de morango. Então, eu tinha certeza de que ela poderia me proteger de todos os males que a presença de Maximilian representava.

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