Eu dobro e passo para o próximo

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Diego Souza

Já eram sete da noite quando finalmente cheguei em casa, sentindo-me como se tivessem passado três caminhões por cima de mim. O humor de Maximilian piorou após a reunião, e eu temia que alguém literalmente voasse para fora das janelas da White's.

Ao entrar em casa, encontrei meu pai andando pela casa apenas com uma calça de moletom, os cabelos ainda úmidos. Morávamos em um apartamento próprio, adquirido com o dinheiro de nossas incontáveis horas extras nos últimos 10 anos de empresa. O lugar era espaçoso, com uma cozinha estilo industrial que era o refúgio favorito do meu pai, com bancadas escuras e uma grande ilha no centro. A cozinha se abria para uma ampla sala de estar, onde um grande sofá cinza escuro ficava de frente para uma enorme televisão. O apartamento tinha três quartos, sendo dois ocupados por mim e meu pai, ambos com suítes, além de um quarto de visitas que quase sempre estava sendo ocupado por algum dos meus amigos. Havia também um banheiro social e uma varanda espaçosa, equipada com uma mesa e churrasqueira.

- Achei que ele te prenderia lá até o horário do leilão e você teria dez minutos para se arrumar - meu pai disse em português ao me ver entrar.

- Era a intenção dele - choraminguei, também em português, enquanto me jogava no sofá com a séria intenção de apenas dormir ali - Eu não aguento mais esse negócio de trabalhar enquanto eles dormem não.

- Você deveria agradecer por estar trabalhando - ele brincou.

- OBRIGADO - Gritei, com a cara afundada em uma almofada - posso voltar a reclamar?

- Sabe qual é o meu sonho, Diego? É dar na sua cara - ele disse aproximando e batendo outra almofada contra mim - Mas eu não posso, senão eu vou preso.

Quando ele finalmente me deu uma brecha, levantei-me e sai correndo, com um sério medo de que ele resolvesse enfiar a almofada na minha boca por ter gritado.

- NÃO ESTÁ ESQUECENDO DE NADA, MULEQUE? - ele gritou quando eu estava perto do meu quarto, e tive que voltar correndo até a ponta do corredor para vê-lo.

- Benção, pai - sorri para ele, e ele sorriu de volta.

Voltei calmamente até meu quarto, onde as paredes eram cinzas, o guarda-roupa preto, a cama de casal com roupa de cama escura e uma coberta grossa, além de um tapete cinza felpudo. Ao canto, havia uma mesa com meu notebook e ao seu lado um espelho grande. Na grande janela do quarto, algumas plantinhas que eu gostava de cuidar davam um toque de verde ao ambiente.

- Demorou em - disse alguém em inglês, saindo do banheiro. Com o susto, gritei tão alto que achei que em breve receberíamos uma multa do prédio.

- ESQUECI DE AVISAR, O OLIVER ESTÁ AQUI - gritou meu pai do lado de fora.

- Eu seria mais feliz se eu tivesse entendido algo do que vocês disseram - ele disse, jogando-se na cama.

Em casa, tínhamos o costume de falar apenas em português, para não deixarmos nossas raízes para trás. E Oliver era o amigo que sempre ocupava o quarto de visitas. O garoto tinha 25 anos e era o vocalista de uma das maiores bandas de rock do momento, a Phantom. Oliver estava sempre viajando, e quando voltava, mal ia para seu próprio apartamento; vinha direto para minha casa e se apossava do quarto de hóspedes. Ele tinha cabelos loiros escuros que desciam até sua nuca, olhos azuis muito claros e um corpo magro. Era um cara divertido que fazia amizade mais facilmente do que o normal. No entanto, nutria um ódio sem igual por seu parceiro de banda, o guitarrista Duncan, que era o melhor amigo de Max.

- Você deveria parar de entrar no meu quarto - Digo enquanto ele se espalha na minha cama a desarrumando

- Ah, Diego, você sabe que eu trago vida a este quarto! - Oliver respondeu, esticando os braços e chacoalhando os cabelos loiros de forma dramática. - Além disso, preciso de um pouco de conforto depois de enfrentar os dramas de Duncan durante a turnê. O cara é tão idiota que dá vontade de derrubar ele de cima do palco!

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