Não é uma pedra, é rapadura

53 5 20
                                    

Diego Souza

10/02/24 - Minas Gerais

Ressaca, ressaca, ressaca.

Quem foi o gênio que teve a brilhante ideia de fazer caipirinha ontem à noite? Porque a gente não só bebeu até de madrugada, como também resolveu partir para as cervejas em algum momento insano. E, claro, em meio à bebedeira, eu ainda tive a péssima ideia de apresentar todos os cantores de "modão sertanejo" que conheço. Resultado: meu espírito de cachaceiro foi despertado, e agora o Oliver não para de tentar cantarolar o trecho de "Bijuteria" com aquele sotaque extremamente forte.

Quem diria que haveria consequência para os meus atos.

Mais uma vez, eu estava jogado na cama, encarando o teto com aquele zumbido familiar nos ouvidos e o corpo totalmente imóvel. Mas dessa vez, eu sabia exatamente o que estava causando aquilo.

- Oliver, você tem algum senso de espaço? – resmunguei, percebendo que ele estava esparramado em cima de mim.

- Shhhh – ele murmurou, ainda de olhos fechados, enquanto colocava a mão no meu rosto. – Não grita.

- Qual é a necessidade de dormir em cima de mim? – perguntei, frustrado. Não era a primeira vez que isso acontecia. Toda vez que bebíamos demais, acabávamos apagando na mesma cama. Quando a bebedeira era intensa demais para planejar, caímos no chão, no sofá, ou em qualquer lugar minimamente confortável.

- Bom dia para vocês também! – resmungou meu pai da cama ao lado, com uma voz cheia de ironia.

- Venham tomar café! – Tia Eliza apareceu na porta do quarto, sorridente como se não tivesse bebido uma gota de álcool na noite anterior.

- A vida é injusta – Oliver reclamou, rolando para fora da cama, quase caindo no processo, e praticamente se arrastando para fora do quarto. Meu pai, que parecia estar sofrendo tanto quanto nós, o seguiu com um resmungo de concordância.

Enquanto eu tentava juntar forças para levantar, ouvi Oliver tropeçar no corredor, soltando um palavrão abafado. Isso me arrancou uma risada, que foi interrompida pelo latejar na minha cabeça.

- Isso que dá beber como se não houvesse amanhã – murmurei para mim mesmo, finalmente me forçando a sair da cama.

Quando cheguei à cozinha, o cheiro de café fresco e pão na chapa me atingiu, e meu estômago roncou em resposta. Tia Eliza estava de pé, mexendo em algumas panelas com um sorriso que me irritava pela sua energia matinal. Oliver já estava sentado à mesa, com a cabeça apoiada nas mãos, parecendo uma alma penada.

- Eu deveria processar a caipirinha – Duncan resmungou ao entrar na cozinha, aceitando com gratidão a xícara de café que Tia Eliza lhe ofereceu.

- Processa a Tia Eliza – sugeriu Owen, se sentando ao lado e pegando um pão.

- E os outros? – ela perguntou, com um tom de preocupação fingida.

- Mortos, todos eles. Despachados e arrebatados – respondeu ele com a maior seriedade, antes de levar uma leve pancada de Tia Eliza com o pano de prato.

Meu pai entrou na cozinha logo depois, caminhando como se estivesse pisando em cacos de vidro.

- Nunca mais... – ele começou a dizer, mas foi interrompido pelo sorriso radiante de Tia Eliza, que lhe entregou um copo d'água com uma aspirina.

- Vocês são uns bebês – ela brincou, entregando uma xícara de café para meu pai. – Nem foi tanto assim.

- Para você, talvez – retruquei, mordendo meu pão com força. – Para nós, foi um apocalipse.

ArrogânciaOnde histórias criam vida. Descubra agora