Capítulo 02

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Adam

Chegar naquela maldita casa me deixava em um estado de inquietação. Não havia sons, não havia pessoas, apenas o silêncio opressor. A escadaria com seu carpete azul reluzente sempre se destacou muitíssimo bem. A elegância da mansão do patriarca político parecia ridiculamente desproporcional ao vazio que eu se sentia ao cruzar seus corredores.

Eu estava exausto. Cansado de mais um dia entediante, sem propósito, apenas esperando que me chamem mais uma vez para me livrar da sujeira. Sem Noelle eu não sei o que fazer com os dias e horas que me sobram.

Ao atravessar a porta principal, encontrei Alicent esparramada no espaçoso sofá de uma das grandes salas de estar, lendo um livro e, como sempre, sem fazer nada de útil.

— Chegando em casa tão cedo... Onde está sua namorada bonitinha, Adam? — perguntou Alicent, com um sorriso malicioso.

Parei, encarando-a.

— Ela terminou comigo.

Alicent não se conteve e soltou uma gargalhada estrondosa. Não havia nada de engraçado nisso.

— Ela? Aquela garota? Deve ter sido um baque — riu, com escárnio. — O lindo e irresistível Adam Valentin foi largado pela namoradinha boazinha... Me pergunto qual é a sensação de ser deixado.

— Noelle vai voltar para mim — afirmei com convicção. — Ela vai ser minha namorada de novo, querendo ou não.

Ela riu novamente, virando uma página do seu livro.

— Claro que vai — disse ela, zombeteira. — Sabemos o quão louco você é. Não duvido de nada.

Louco. Isso soa quase hilário.

— Boa noite, Alicent.

— Boa noite, Adam.

Deixei o cômodo, subindo por outra escadaria para evitar o corredor com aqueles quadros sombrios. Odiava aquela casa, mas ficar lá sem ser incomodado era melhor do que vagar pelo apartamento de Noelle, perdido.

Ela terminou comigo há três dias, sem dar nenhuma explicação. Apenas terminou e se foi, me deixando como um cão abandonado.

Entrando no quarto, tirei meu moletom e joguei sobre a cama, livrando-me dos sapatos com um chute. Queria um banho longo e quente para afastar os pensamentos.

"Eu acho melhor a gente terminar", ela disse. Como se isso fizesse algum sentido.

Nunca a toquei com segundas intenções. Mesmo que meu corpo implorasse para jogá-la no banco traseiro do meu carro e arrancar suas roupas... eu apenas sorria e envolvia meus braços em torno dos seus ombros. Tentei ser bom, mas o que mais ela queria?

Não entendia as mulheres.

Retirei os anéis dos dedos, deixando-os sobre a escrivaninha ao lado da cama. Então, vi aquele pedaço de papel. Peguei-o, observando o número, e mais uma vez aquele dia voltou à minha mente como uma lembrança viva.

🌕🌕🌕


**1 ano e meio atrás**

Sob a chuva, eu estava exausto de tudo. Meus punhos doíam, meu corpo estava tomado por um ódio imenso, e a sede que eu sentia não era natural.

E para piorar, todos os canais de televisão só falavam de Simon Johnson. Era simplesmente patético.

Ser o filho do senador trazia suas vantagens, mas ninguém sabia o que se passava por trás daquele sorriso falso e discursos motivacionais. Manter a cidade "limpa" era minha responsabilidade, o filho caçula do senador que precisava manter as aparências.

A Verdadeira Face Do LoboOnde histórias criam vida. Descubra agora