Aceitação

721 85 81
                                    

Se a perguntassem, o que de fato não ocorreria, Michaela não poderia dizer que foi amor à primeira vista quando seu olhar encontrou os de Francesca Bridgerton naquela fatídica noite em um aparentemente comum baile em Londres. Entretanto, é por um motivo justo. Michaela acreditava que amor não era uma emoção leviana, algo que se pudesse sentir do dia para noite, como se fosse algo tão banal e efêmero.

Não.

Amor requer construção, tempo, relacionamento, confiança. Então, era ilógico imaginar que sentira amor quando foi apresentada para a esposa de seu primo, mas tal fato não a isentou de se sentir outras coisas.

Francesca era, sem dúvida alguma, a mulher mais bonita que já encontrara em toda a sua vida - e ela havia encontrado muitas. Ela se lembra daquela noite tão vividamente, às vezes eram as imagens que sua mente formava no momento que ela fechava seus olhos para dormir toda noite.

Ela se lembrava de criar uma sutil expectativa de que aquela não fosse a esposa de John, apenas uma dama que os fazia companhia, mas o universo não seria assim tão gentil com ela.

Michaela também se lembrava da pinta que ficava levemente acima dos lábios de Francesca, que chamava sua atenção. Ela se lembrava de seus olhos escuros se abrindo e fechando quando ela se atropelava nas palavras no momento em que dizia seu nome, parecendo aterrorizada em conhecê-la.

Não, não havia sido amor à primeira vista. Mas, para sorte ou azar de Michaela, aquela não seria a última vez que veria Francesca Bridgerton e, com o tempo, ela era capaz sim de afirmar que Frannie tinha conquistado uma porção significativa de seu coração. E por isso tudo doía mais. Tudo doía mais.

Vivendo como ela vivia, guardando um segredo como o dela, Michaela Stirling havia aceitado há muito tempo que amor não era para ela. Sabia que jamais poderia viver como os outros e, por muito tempo, havia feito paz com essa melancólica realidade. Tampouco parecia ser árduo, já que realmente nunca havia sentido por outra mulher sentimento mais forte que uma mera arrebatadora luxúria. Ela havia se acostumado com a ideia inalcançável de uma vida banal, mas Francesca destruiu todo o seu mínimo sossego.

Era difícil desejar mulheres em sua realidade, mas sentir o que sentia pela esposa de John? Aquilo era pior que uma tortura medieval.

E ela tentou, por alguns meses, reprimir esse sentimento. Deus é testemunha de que ela havia tentado. Como ela ficava sim em um mesmo recinto que Francesca, mas se certificava de que não estivessem muito próximas. Era mais fácil quando Eloise estava por perto, assim ela podia usá-la de escudo a fim de se esconder do desejo que sentia por sua irmã.

Michaela se sentia suja, uma traidora. John era a pessoa mais importante de sua vida, o único que parecia amá-la incondicionalmente. E havia se tornado uma tarefa muito difícil depois que os pais de Michaela faleceram e ela, em sua concepção, se tornou um fardo para sua família. Mas nunca para John. Ele sempre a tratou com carinho, com cuidado. Nem mesmo quando ela havia descoberto seu terrível segredo, o amor de John nunca pareceu se abalar.

E agora cá estava ela, desejando a mulher da pessoa que mais amava no mundo.

Michaela Stirling era uma pecadora. E ela estava aprendendo a conviver com isso. Deitava-se com inúmeras mulheres a fim de que apenas uma pudesse sair de seus pensamentos.

Pode-se imaginar que encontrar mulheres, assim como ela, seria um tanto quanto custoso, mas era bem mais simples do que se parece. Uma conhecia a outra e, então, acontecia o que acontece em qualquer lugar do mundo. Fofoca. Os criados do casarão eram discretos, John se certificava de que fossem e, os que não podiam confiar, não sabiam da verdade.

nem que o mundo nos separeOnde histórias criam vida. Descubra agora