O Começo

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Em dois meses de casada, Francesca havia notado que Michaela Stirling não frequentava a igreja. A verdade é que sua ausência havia sido sentida na primeira semana, quando todos se retiraram no domingo de manhã, em suas grandiosas carruagens para o templo sagrado, enquanto a prima de seu marido ficara para trás, só, em seus aposentos sem proferir uma sequer justificativa para sua ausência.

Francesca imaginara que Michaela estivesse indisposta, ainda não tinha um nível de proximidade suficiente para se sentir digna de perguntá-la e tampouco John havia mencionado qualquer coisa sobre o bem-estar de sua prima, que enxergava como uma quase irmã.

Ao retornar, Michaela os esperava, um grande e luminoso sorriso estampado em seu rosto. Eloise correu até ela e juntas elas adentraram a grande residência Kilmartin, de braços entrelaçados, deixando John e Francesca para trás. Ela lembra-se de observar Michaela por alguns instantes, enquanto conversava animadamente com Eloise, intrigada uma vez que ela parecia bem mais saudável que talvez, bom, todos eles.

Na segunda semana, Michaela mais uma vez ficara para trás. Francesca se sentiu a pessoa mais profana do mundo enquanto ficava ali, de frente para o pastor, tentando se concentrar em suas palavras sagradas, no entanto a sua mente a traía, focada em apenas pensamentos levianos.

Francesca Kilmartin Bridgerton era extremamente quieta, reservada. John costumava dizer que seus olhos eram mais barulhentos que sua voz e ela gostava disso, porque Francesca era, antes de qualquer coisa, uma observadora. Crescer em uma casa com sete irmãos, vários criados e uma mãe extremamente amorosa foi de fato uma bênção, mas também uma tarefa árdua. Era difícil se fazer ouvir dentro da residência Bridgerton e tampouco ela tentava, mas seus olhos... Eles observavam tudo. Ela sabia quando seu irmão Anthony havia tido um dia difícil nos afazeres de Visconde, quando sua mãe se aborrecia em alguma ida a modista ou quando seus irmãos mais novos haviam discutido por mais alguma leviandade.

Talvez dizer que ela sabia ler todas as pessoas fosse uma afirmativa arrogante, mas de certo ela tinha uma habilidade para tal. Uma habilidade que era impecável com a maioria das pessoas. Exceto uma. Francesca tinha uma inumana dificuldade de ler era Michaela Stirling. Desde o momento que seus olhos encontraram os dela, Francesca não sabia e sequer conseguia adivinhar o que a mulher diante de si pensava. E isso era extremamente frustrante. E por que ela se interessa tanto?

Por que é tão importante que ela saiba o motivo pelo qual Michaela Stirling não vai à igreja?

— Ela me disse mais cedo que está sentindo uma terrível dor de cabeça. — Eloise disse, como se pudesse ler sua mente, ao vê-la com uma clara expressão de indagação ao fitar a porta fechada dos aposentos de Michaela.

— Não acha estranho? — Francesca sussurra de volta, quase de forma inaudível.

— O quê? — Eloise responde com um tom de voz ainda mais alto do que falava há alguns segundos atrás, como se estivesse gritando e ela sentiu brevemente de volta em Mayfair. Francesca imediatamente entra em pânico e puxa o braço da irmã, arrastando-a para um local mais distante da porta.

— Que ela não vá à igreja? — Francesca parecia estar confessando o crime mais hediondo que pudesse existir, mas Eloise parecia inabalável.

— Não. Na verdade, se pudesse também não iria, mas sabe que mamãe nunca me perdoaria. E Deus, talvez, suponho.

Sua irmã parecia ter um ponto. Michaela não tinha uma mamãe observadora em seu encalço, ditando como ela deveria se portar para encontrar um marido ou o que dizer em cada momento em situações sociais para evitar que fosse condenada ao ostracismo da sociedade britânica. Talvez ela não fosse à igreja simplesmente, porque não havia alguém que dissesse que ela deveria fazê-lo.

nem que o mundo nos separeOnde histórias criam vida. Descubra agora