Conforto

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Depois de Francesca, era com Eloise que Michaela passava a maior parte de seu tempo. A verdade é que, por vezes, sentia-se uma intrusa na residência Bridgerton, embora nenhum deles expressasse qualquer desejo que ela fosse embora, era um sentimento que vinha total e unicamente dela mesma, uma pessoa acostumada a ir embora e não ser desejada por muito tempo. Ou pelo menos era essa a sua impressão.

Mas com Eloise era mais fácil, ela se lembrava dos meses que a irmã de Francesca passou com eles na Escócia, então ela se sentia em casa. E, bem, Eloise era uma ótima companhia. Poucas pessoas a faziam rir tanto quanto ela e era bem mais fácil manter uma conversa com ela ou até passar com ela um tempo em silêncio. Estavam em uma tarde comum de terça-feira, lendo exemplares parecidos do mesmo livro de Jane Austen que Eloise se encontrava totalmente fascinada. Apenas Michaela havia tido a paciência de ler o livro junto com ela, até porque no momento Penelope estava ocupada com suas novas tarefas de mulher casada.

Michaela estava três capítulos atrás de Eloise, ela lia extremamente rápido e o mais assustador é que não deixava um detalhe sequer passar; os irmãos mais novos de Francesca e Eloise jogavam xadrez de forma bastante barulhenta do outro lado do salão. Michaela não se importava, gostava de som, embora não fosse acostumada com famílias grandes. Mas agora também entendia o porquê de às vezes Francesca sentir a necessidade de passar um tempo distante.

Eloise fechou de supetão o livro em suas mãos e olhou para Michaela, que estava respirando fundo tentando se recuperar do susto.

— Você está bem?

— Estava até você me assustar desta maneira. — Michaela diz, sua mão sobre o peito.

— Francesca está um pouco melhor. — Eloise continua como se nada tivesse acontecido. — Acho que a gravidez ajudou um pouco, mas não tenho certeza. Talvez ela esteja sem tempo para ficar triste. — E ela tinha razão. Michaela observa de canto de olho Francesca na sala ao lado sendo paparicada por Daphne, Violet e a mãe de John, tia de Michaela. Francesca parecia assustada no meio delas, mas havia outra coisa em sua feição. Algo como indiferença, mas talvez não tão grave. Era como se estivesse em modo automático.

Michaela pensa sobre a pergunta de Eloise. Não poderia dizer que estava melhor, mas estava se acostumando com a ausência, o que não deixa de doer menos, a dor apenas muda. Você não mais espera que a pessoa esteja ali, não há mais a repentina surpresa ao entrar em um cômodo e não encontrar John lendo um livro ou fumando um charuto.

Agora a dor era lembrança, o que não doía menos.

Michaela havia perdido seus pais ainda muito jovem, sabia o que era o luto, havia se acostumado com o luto. Mas o problema é que ela sabia o que era perder alguém, mas não como era perder John. E isso ela não sabia como mensurar ou ilustrar para Eloise, por isso apenas decidiu ser sucinta.

— Estou bem. Acho que este bebê vai melhorar o humor de todos.

— Como você soube, aliás, que Francesca estava grávida? Nossa irmã Daphne demorou semanas até perceber. — Eloise pergunta, seu olhar curioso de sempre.

— Quando eu era mais jovem fiquei hospedada alguns meses na casa de uma prima distante. Ela havia acabado de descobrir a gravidez e me disse o que estava sentindo, nunca esqueci. Não sei dizer o porquê esse assunto ficou tão forte em minha memória.

— Bom, talvez tenha sido o destino. Fico feliz que você esteja aqui, Michaela. Você merece se sentir cercada de pessoas. E bem, fico feliz que você também esteja ajudando Francesca. — Eloise se ajeita no sofá, olha de soslaio para os irmãos que estavam muito ocupados com a partida de xadrez e então sorri ao sussurrar. — Sei que tem sido difícil para ela dormir sozinha.

nem que o mundo nos separeOnde histórias criam vida. Descubra agora