Foi aos 11 anos de idade que Michaela se deu conta de que era diferente.
Sempre foi uma suspeita, a sensação de vazio que preenchia seu peito desde muito criança quando sua mãe falava que ao crescer ela se casaria com um belo homem e teria lindos filhos. A mera confusão quando meninas de sua idade expressavam interesses em meninos. Ela sabia que havia algo que não se encaixava com o que todo mundo esperava dela, mas foi aos onze anos que ela entendeu que aquilo que queriam que ela sentisse por um homem, ela sentia por Annie.
Sua vizinha fazia seu coração acelerar na mesma proporção que as palmas de suas mãos suavam e suas pernas tremiam. Michaela sempre costumou ser um tanto quanto lógica e quando sintomas de paixão apareceram para alguém que não era um homem, era simples a conclusão. Michaela era apaixonada por outra menina. Annie era uma menina esguia, de cabelos dourados e pele clara, suas feições eram delicadas e seu sorriso era gentil. Michaela poderia passar horas e horas a admirando, disposição essa que nunca existira por qualquer menino.
Aos treze anos, Annie e ela se beijaram pela primeira e única vez. Uma experiência tão única e extracorpórea que Michaela chorou de felicidade ao chegar em casa, sua mão ainda tocando seus lábios, desacreditada. Ela havia beijado outra menina e tudo fez sentido.
Era desesperador, sim, saber de fato que era diferente de todos, mas, ao mesmo tempo, pelo menos ela sabia quem ela era finalmente. Michaela agora sabia quem era. Uma pecadora, sim, mas preferia ter certeza do que era do que viver no escuro em negação.
A felicidade, no entanto, foi de curta duração uma vez que seus pais faleceram pouco menos de um mês depois daquele momento tão mágico. Michaela teve que se mudar para longe, seu mundo havia mudado, sua realidade não era mais a mesma e ela nunca mais haveria de encontrar sua primeira paixão.
Com o tempo, Michaela aceitou que nunca viveria como a maioria das pessoas a sua volta, apenas precisava tomar cuidado para não ser pega, no entanto, fora isso, sua vida era relativamente tranquila.
O maior pico de adrenalina aconteceu quando John a descobriu se encontrando com uma das criadas que trabalhava na casa ao lado. O pavor de que seu primo se voltaria contra ela tomou-a por inteiro, mas logo John se certificou de que ela entendesse que ele não via problema algum, muito pelo contrário. John a auxiliava a encontrar mulheres como ela, inclusive oferecendo ajuda para algumas que foram pegas e não tiveram a mesma sorte de ter um John em suas vidas.
Sabendo, portanto, que era diferente, que sentia amor de forma distinta do que a sociedade esperava para ela e que nunca seria aceita, Michaela aceitou sua realidade. Ela aceitou que poderia sim ter vários e vários encontros noturnos com mulheres diversas, satisfazer seus desejos mais carnais, no entanto, ela nunca poderia se dar ao privilégio de se apaixonar novamente.
E ela era boa nisso. Sempre que sentia seu coração vacilar um pouco mais com uma de suas acompanhantes frequentes, Michaela interrompia seus encontros e se distanciava. Com o tempo, ela voltava ao normal e aquele sentimento que ameaçava crescer dentro de si sumia na mesma velocidade que aparecia surgir.
Claro que nada mais fez sentido depois que conheceu Francesca Bridgerton e batimentos cardíacos rápidos eram um mero eufemismo para o que sentira quando seus olhos encontraram os dela pela primeira vez. Era difícil conviver com seu primo enquanto ardia de paixão por sua esposa, no entanto, era simples se pôr em seu lugar quando John estava presente.
Quando seu desejo falava mais alto, Michaela se repreendia, lembrava a si mesma de que Francesca não era como ela. Que Francesca amava John e que ela nunca, nunca mesmo, reciprocederia.
Mas agora lá estava ela, quatro anos depois da partida de John, vivendo com Francesca todos os dias oscilando sua conclusão entre ser este estilo de vida uma tortura ou uma benção.
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nem que o mundo nos separe
RomansaFrancesca Bridgerton se sente terrivelmente intrigada pela prima de seu marido.