Capítulo 11

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Soraya

— Isso é ridículo.

— Eu sei — digo.

— É isso?! — berra Rachel.

Eu me encolho. Ontem à noite, bebi uma garrafa de vinho branco, preparei um bolo de aveia em pânico e mal dormi. Estou frágil demais para gritos. Estamos sentadas no "espaço criativo" do trabalho — que é igual às duas outras salas de reunião da Butterfingers Press, mas, só para me irritar, não tem uma porta normal (para dar a sensação de espaço aberto) e tem quadros brancos na parede. Alguém fez anotações neles uma vez, e agora os registros da "sessão criativa" dessa pessoa estão marcados para sempre em tinta de caneta seca, totalmente incompreensíveis. Rachel imprimiu os layouts que discutiríamos na reunião e espalhou pela mesa. É a droga do livro de receitas de bolos e dá para ver que eu estava de ressaca e com pressa quando editei isso.

— Você está me dizendo que viu Jonas em um cruzeiro, que ele lançou um olhar de Quero te comer e você continuou fazendo o que estava fazendo e não viu o cara de novo?

— Pois é — repito, numa tristeza absoluta.

— Que ridículo! Por que você não foi atrás dele?

— Eu estava ocupada com a Katherin! Que, falando nisso, me machucou seriamente — conto, tirando o poncho para mostrar a marca avermelhada no lugar em que Katherin espetou meu braço no meio da demonstração.

Rachel dá uma olhada rápida na marca.

— Espero que você tenha diminuído o prazo de entrega do manuscrito dela por causa disso. Tem certeza de que era o Jonas ? Não era outro cara branco de cabelo castanho? Quer dizer, imagino que um cruzeiro seja...

— Rachel, eu conheço a cara do Jonas.

— É, bom... — diz ela, abrindo bem os braços e deslizando os layouts pela mesa. — Não acredito nisso. É um anticlímax enorme. Achei mesmo que sua história ia acabar com sexo no beliche de uma cabine. Ou no deque! Ou, ou, ou no meio do mar, num bote!

Na verdade, o que aconteceu foi que passei o restante da aula em um suspense paralisado, em pânico, tentando desesperadamente fingir que estava ouvindo as instruções de Katherin "Levante os braços, Soraya!", "Cuidado com o cabelo, Soraya!" e, ao mesmo tempo, manter os olhos nos fundos da sala. Realmente achei que tinha imaginado aquilo. Qual era a probabilidade? Quer dizer, eu sei que o cara gosta de cruzeiros, mas é um país muito grande. Há muitos navios pela costa.

— Me conte de novo — pede Rachel — sobre o olhar.

— Ah, não sei explicar — respondo, pousando a testa nas folhas à minha frente. — É que eu... conheço aquele olhar da época em que a gente estava junto. — Meu estômago se revira. — Foi muito estranho. Quer dizer, meu Deus, a namorada dele, quer dizer, a noiva...

— Ele viu você na outra ponta de uma sala lotada, seminua, sendo a Soraya que todos conhecemos, se divertindo com uma autora excêntrica de meia-idade... e se lembrou dos motivos que o fizeram gostar de você — conclui Rachel. — Foi isso que aconteceu.

— Não foi...

Mas o que havia acontecido ali? Alguma coisa, com certeza. Aquele olhar não foi à toa. Sinto uma onda de ansiedade nas costelas. Mesmo depois de uma noite pensando nisso, ainda não consigo entender como me sinto. Uma hora, o fato de Jonas ter aparecido em um cruzeiro e olhado nos meus olhos me parece o momento mais romântico e decisivo possível e, na outra, percebo que estou tremendo, enjoada. Fiquei ansiosa durante toda a viagem de volta — fazia algum tempo que não saía de Londres sozinha, a não ser para visitar meus pais. Jonas tinha medo porque eu sempre pegava o trem errado e era muito fofo e viajava comigo, para evitar que isso acontecesse. Por isso, enquanto esperava sozinha na estação de Southampton, na noite escura, tive certeza absoluta de que acabaria tomando o trem para o outro lado do país ou alguma coisa assim. Pego o telefone para conferir as mensagens — esta "reunião" com Rachel só estava prevista para durar meia hora, e eu realmente preciso editar os três primeiros capítulos de Katherin. Tenho uma mensagem.

Teto para duas - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora