Capítulo Quatro. - A Noite.

110 11 0
                                    

Rafaela não conseguia, de jeito nenhum, esquecer o que Iolanda havia lhe gritado naquela tarde, nem mesmo esquecer o jeito como ela estava chorando. Por mais que Iolanda tenha falado que superou tudo daquela época, era nítido o quão machucada ela ainda estava. E com certeza Rafaela estava se culpando por ser responsável por fazer Iolanda praticamente "reviver" uma das piores épocas da sua vida.

Uma semana e meia tinha se passado desde aquela fatídica tarde. Em silêncio, Júlia vinha observando sua chefe, e melhor amiga. Percebendo que Rafaela estava muito mais quieta que o normal, além de que checava mais o celular que o normal. Júlia sabia que tinha acontecido alguma coisa, queria muito perguntar, mas tinha receio de ter sido algo muito ruim e Rafaela não querer falar sobre aquilo.

— Chefe, quer fazer alguma coisa hoje? Sexta é feriado, e amanhã trabalhamos meio expediente— Júlia perguntou, quebrando o silêncio.

— Não quero fazer nada. Daqui vou direto para casa, afundar na cama e esperar não acordar amanhã, e nem nunca mais— Rafaela respondeu baixo, olhando de modo exausto para o monitor do computador.

Júlia se viu surpresa e alerta com aquilo.

— Aconteceu... aconteceu alguma coisa, Rafa?— Júlia perguntou com certo cuidado— Você sabe que sempre estarei aqui para qualquer coisa. Você anda bem mais calada ultimamente e n-

— Iolanda teve um surto e a culpa foi minha— Rafaela falou por cima, a interrompendo. Júlia parou de falar no mesmo instante— A última vez que fui até a floricultura, Landa teve um surto, estava nítido que a minha presença estava lhe trazendo muito estresse e... ela explodiu— Contou baixo, suspirou pesado fechando os olhos— Por que é que meu eu adolescente continua me assombrando desse jeito? Que inferno!— Reclamou deitando a cabeça no encosto da cadeira.

— Mas o que foi que aconteceu exatamente, chefe?— Júlia perguntou curiosa.

— Eu estava desesperada, comecei a implorar sem parar que ela me ajudasse, que eu faria qualquer coisa por ela, isso e aquilo. Acredito que isso foi pressão demais, ela começou a gritar e chorar. Ela chorou muito, muito mesmo. Depois de reencontrá-la, jamais cogitei a hipótese de vê-la chorar daquele jeito e... me deu dor física vê-la daquele jeito, sabe?— Rafaela contava tudo com bastante sentimento. Dor e culpa— Era como se estivessem me esfaqueando várias vezes, e, ao mesmo tempo, jogando gasolina nas fendas abertas. Doeu de verdade, mas eu não consigo imaginar um por centro da dor que ela estava sentindo— Pousou a mão sobre o seio esquerdo, apertando a camiseta com leveza.

Júlia sabia o que é que aquilo significava. Já tinha sentido dores horríveis nessa vida, e a dor psicológica era a pior possível. E conhecendo muito bem a melhor amiga que tinha, ela sabia exatamente em que estágio Rafaela estava.

— Eu sei que você ainda quer resolver as coisas e não desistir depois dela ter mostrado que se quebrou— Júlia falou baixo, Rafaela lhe deu um olhar cansado— Acho que, nesse caso, Iolanda se sentiria minimamente bem se ela pudesse "se vingar" do que aconteceu naquela época— Fez aspas com os dedos.

— Caralho, então, solução pra você é que ela me encha de porrada como aqueles arrombados imbecis fizeram com ela por dois anos?!— Rafaela falou rapidamente, indignada.

— E não seria bom pra você? Afinal, que mulherão da porra, não é? Você não gostaria de apanhar justamente daquela mulher em específico?— Júlia tinha tal sorrisinho sugestivo nos lábios.

— Bom, não seria nada mal apanhar dela...— Rafaela soltou pensativa, Júlia sorriu ainda mais— ARGH! Para de me fazer pensar obscenidades uma hora dessas, sua cachorra no cio! O assunto é sério, porra— Reclamou espalmando as mãos na mesa.

Última Chance. | ABO - Lábris - G!P|Onde histórias criam vida. Descubra agora