11: Ailixi

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• Marina Britto's Point of View •

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Meu dia começou cedo demais.

Às sete horas da manhã, o barulho ensurdecedor do toque do meu celular me acordou no susto e, assim que atendi a chamada de Karen, a mulher estava gritando.

- Olha aqui, eu não sou obrigada a ouvir mais um de seus surtos! -Reclamei chateada enquanto a mesma fazia um barulho estranho, como se estivesse prestes a explodir. - Eu fui dormir tarde ontem então, por favor, me deixa voltar a dormir e guarda essa sua maluquice pro ensaio de hoje.

Dito isso, nem deixei a coitada falar alguma coisa, apenas encerrei a chamada e desliguei o celular, logo o jogando em algum lugar da cama e voltando a fechar meus olhos, que estavam pesados de sono.

Eu não sou sempre assim com meus amigos, mas ultimamente tenho estado muito cansada por causa da dança.

Ontem fizemos uma apresentação em um evento de competição de dança que trouxeram pra nossa cidade, o quê me deixou acordada até meia duas e pouca da madrugada.

Pelo menos meu grupo ganhou o prêmio.

Foram mil reais, nós sabemos que isso é pouco pra ajudar no estúdio, mas acho que agora vai dar pra comprar o ar-condicionado.

Antes que eu pudesse voltar a dormir, ouvi batidinhas na porta.

- Mari, minha filha.. -Minha avó Betânia chamou. - Você acordou?

- Acordei com a Karen me ligando. -Respondi e me sentei na cama. - Pode entrar, vó.

Deixei escapar um sorriso quando a senhora alta entrou me olhando de forma doce.

- Parece que quanto mais a senhora envelhece, mais sua audição melhora. -Murmurei, me levantando e indo até ela, então deixei um beijo em sua bochecha. - Benção, vózinha.

- Que Oxalá te abençoe e te guarde, meu amor. -Sorriu.

Sempre que alguém escuta ela me dizendo isso, o assunto pode se transformar em piada ou discussão.

Minha avó não segue religião alguma, também não acredita em muitas coisas. No entanto, quando mais nova, sua família toda costumava ser da umbanda e, por isso, ela também era.

Minha avó saiu há muito tempo do centro, mas algumas manias continuaram com ela, incluindo a forma de me abençoar.

Ela poderia apenas dizer "que deus te abençoe" porque, pela religião, Oxalá é um deus, mas me explicou uma vez que essa frase está muito ligada no vocabulário dos cristãos e que deles ela não quer nada.

Dona Betânia não gosta muito de cristãos e eu consigo entender o porquê.

- Fiz um bolinho de milho delicioso, Mari. -Ela dizia, sentada na minha cama enquanto eu escovava os dentes. - Seu avô foi comprar pão de queijo e mistura pro almoço.

Ergui as sobrancelhas com um sorrisinho, olhando-a através do espelho e vendo quando soltou uma risadinha.

- E também fiz seu leite! -Completou e eu fiz uma dancinha feliz. - Fiz com a última manga, 'cê tem que ir pegar mais do pé.

- Eu vou, vó. -Respondi quando cuspi a espuma e me apressei a terminar de lavar minha boca. - Ai, tô morrendo de fome.

- Nada de ir agora.. -Riu, se levantando e vindo até mim, em seguida passou as mãos pelos meus cachos bagunçados. - Primeiro a gente vai dar um jeito nessa cabeleira.

Entre conversas descontraídas, risadas e fofocas, vovó me ajudou a arrumar meu cabelo, como sempre faz.

Meus cabelos são cacheados e longos, então é meio difícil ajeitar ele sozinha, além do mais, vovó sempre amou mexer nos meus cachinhos.

Desde que nos mudamos, ela e o vovô tem cuidado muito de mim, mesmo nos mínimos detalhes. 

Meus avós são as melhores pessoas que alguém poderia ter na vida, e eu nunca trocaria eles por nada no mundo.

- No que tanto pensa, meu amor? -Vovó perguntou enquanto trançava meu cabelo.

Sentada no chão do meu quarto, eu sorri.

- No quão sortuda eu sou, por ter vocês na minha vida. -Murmurei com um sorriso, e então lembrei do meu livro. - Vocês até me ajudaram a publicar um livro sobre uma cantora que vocês nem sabem pronunciar o nome direito.. Ninguém além dos meus amigos ou vocês devem ter lido, mas isso me deixou muito feliz, vovó.

- Mesmo que poucas pessoas tenham lido e que seja difícil falar Ailixi, seu livro é uma obra de arte maravilhosa. -Ela dizia, e eu acabei rindo fraco quando ela tentou pronunciar Eilish, mas levei um tapa no ombro. - Eu te contei que o seu avô me dedicou várias frases do seu livro?

- Não, é sério? -Me virei pra ela sorridente.

- Ele sempre vem até mim com um sorrisinho, a caneta na orelha, o óculos na cabeça todo torto e o livro aberto em mãos dizendo; "Aqui, Tânia, olha o quê eu sinto por você!" -Riu um pouco. - Ele deixou as páginas cheias de marcações.

- Minha meta de relacionamento é essa. -Falei, me levantando do chão quando ela acabou. - Imagina envelhecer juntas e continuar tão bem quanto a senhora e o vovô.

- É, mas enquanto você não arruma uma moça que não seja uma sapadrão sem vergonha.. -Vovó me puxou gentilmente pelo ombro enquanto falava e eu ri com o quê ela falava. - Vamos comer, pra você estar forte o suficiente se outra tentar magoar você de novo, e aí você pode meter a porrada nela.. A vovó deixa.

- Tá bom então, vovó.

Saímos do meu quarto e seguimos até a sala de jantar, avistando o vovô sentado na cadeira enquanto bebia seu famoso cafézinho com canela.

- Benção, vô! -Eu sorri.

- Toda. -Murmurou e bebeu mais um gole de seu café, então sorriu ao olhar meu cabelo. - Nossa, olha esse cabelo charmosão, parece até o meu quando eu era mais novo.

- Você já teve cabelo?! -Perguntei com um riso, me sentando ao lado dele e passando a mão na careca dele. - Que piada.

- Vou te mostrar minhas fotos de adolescente rebelde, Mari. -Dizia, fingindo jogar seus falsos cabelos para o lado. - Eu tinha um cabelão.

- Claro que tinha.

Vovó soltou uma risada, e logo começamos a tomar nosso café da manhã. Eu, bebendo meu suco de manga feito com leite, vovó comendo biscoito de polvilho e o vô comendo pão e bebendo seu café.

Conversamos sobre o evento de ontem e eu peguei meu celular, mostrando a eles o vídeo que o canal do nosso estúdio de dança postou, no caso, que meu amigo Rodrigo postou.

O vídeo tinha viralizado e isso me deixou surpresa, até porque nunca havíamos tido mais de três mil curtidas e nem tão pouco tantas visualizações como sessenta mil.

Acho que é por causa do evento, a empresa que trouxe a competição deve ser muito conhecida e como meu grupo que ganhou, as pessoas devem ter vindo nos procurar.

De qualquer forma, é bom saber que tantas pessoas me assistiram dançando Angels In Tibet.

Capítulo não revisado!
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