• Marina Britto's Point of View •
Meus amigos são uns filhos da puta estúpidos.
Com essa coisa do meu livro sendo falado por todo o lugar, as pessoas começaram a querer mais de mim.
Sempre que saio, há alguém que me encare ou fique me gravando.
Um dia, eu quase arrumei uma confusão.
Estávamos todos na lanchonete, morrendo de fome porque tínhamos acabado de sair de um ensaio, quando eu senti todo o meu entusiasmo com a competição se esvair ao perceber um grupo de garotas começando a me gravar.
Eu entendo que isso é algo que está ficando grande, mas porra, será que aquele tipo de coisa aconteceria toda vez que eu saísse na rua?
Por uns minutos (na verdade, foram cinco segundos no máximo), parei de prestar atenção na conversa e de sorrir, encarando as malucas na esperança de quê percebessem meu desconforto.. A que gravava até tremeu um pouco, mas continuaram me gravando e, como pessoa que gosta de resolver os problemas ao invés de ignora-los, me levantei no exato momento, indo raivosa até elas.
Claro que a Karen me segurou e o Vinícius foi até elas, sendo educado como eu nunca seria.
O problema foi resolvido na hora, mas durante a noite me enviaram um edit que fizeram de mim. Eu fui taxada de chata, atraente, mal educada e.. Eu já disse chata?
Agora só saio de casa quando sou obrigada, tive que tornar meu perfil do Instagram privado pra não ter os fbi's da deep web tentando investigar minha vida e.. Recebi uma oferta de contrato em uma editora e recusei.
Mas esse não é o ponto.
Antes de toda essa merda acontecer, no mesmo dia que descobri que estava ficando falada por ser obcecada na Billie ao ponto de escrever quinhentas páginas sobre ela, adiaram o dia da competição de dança que haveria no dia seguinte porque houve uma INFESTAÇÃO DE BARATA DENTRO DO TEATRO, E AÍ MEUS AMIGOS SIMPLESMENTE DECIDIRAM QUE SERIA BOM MUDAR TUDO SOBRE NOSSA APRESENTAÇÃO.
TUDO PORQUE QUERIAM QUE, AO INVÉS DE DANÇAR CAMPO DE MORANGO, A GENTE CRIASSE UMA COREOGRAFIA PRA RITIMADA BILLIE EILISH!
Eu amo a Billie, amo mesmo, até demais. Todos sabem disso. Literalmente. Mas, desde que esse livro ficou famoso, minha vida parece ser baseada nela porque tudo o quê eu faço tem que ter alguma coisa dela envolvida, e isso me estressa muito.
Eu odeio quando uma pessoa em específico fica no holofote por um tempo tão longo, como se as pessoas não soubessem que existem outras coisas além disso e, por isso, eu sou obrigada a ouvir, falar e respirar o nome dessa pessoa.
E fica ainda pior porque é Billie Eillish pra lá, meu livro sobre Billie Eilish pra cá e meus sentimentos pela Billie Eilish por aí.
Apesar dessa raiva toda, não tive como recusar dançar esse caralho de Ritmada Billie Eilish, o Henrique até sugeriu Chihiro em versão MTG, mas Ritimada é muito mais "abrasileirado".
Tivemos duas semanas pra criar a coreografia do zero, tendo que deixar de lado todos os movimentos que tínhamos passado metade do mês planejando e que era muito mais elaborado.
Claro, a dança ficou boa, mas foi muito tenso cria-la porque eu estava tensa, irritada, frustada e principalmente sem criatividade alguma.
Nunca mais consegui escrever ou criar coreografias depois que o mundo me virou de cabeça pra baixo de repente, como um bloqueio criativo na minha vida.
Se fosse aos poucos, até daria pra me acostumar e aprender a lidar, mas foi literalmente do nada.
Eu daria de tudo pra voltar atrás e nunca publicar o livro.
Eu sabia que se soubessem viraria algo, mas pensei que fosse uma tiração de sarro, não imaginei que o mundo inteiro começasse a falar de mim sem ser zoando com minha cara.
Quando o dia da competição chegou, eu estava no meu limite.
Nós vencemos, mas eu estava tão raivosa que não tive muita reação e não falei muito com ninguém.
O local havia lotado, a maioria eram jovens e alguns gravaram. Até aí tudo bem, mas quando o evento terminou vieram uma fila de adolescentes na minha direção, procurando por mim.. Daí eu vazei pelos fundos antes que percebessem.
Alguns pensam que só porque sou escritora, eu sou uma pessoa tranquila e descontraída, mas eu sou totalmente o contrário.
Escrever não me acalma e nem me faz mais alegre.. Isso só me ajuda a ser mais surtada ainda, porque na maioria das vezes eu vou me estressar comigo mesma pelo jeito que eu mesma escrevo.
Eu sou melhor quando sozinha e quieta, porque aí ou eu estou refletindo seriamente ou eu tô viajando na maionese.
Como agora; Deitada na minha cama enquanto olhava o teto, eu pensava em tudo e nada ao mesmo tempo.
Não sabia o motivo de eu sentir tanta raiva de toda essa atenção.
Me sentia a Chappell Roan.
Tá, não é pra tanto, mas eu não gosto disso.
Recebi algumas mensagens de ameaça nos comentários do nosso canal no YouTube, por crianças perturbadas se entitulado donas da Billie que não se importavam ao me xingar.
Também recebi muito apoio e carinho, mas as mensagens horríveis costumam aparecer mais do que as boas.
Normalmente, eu quem cuido do canal no YouTube que eu e meus amigos postamos os vídeos de nossas danças, mas tem sido difícil.
Além disso, todos estão me cobrando por um segundo livro, mesmo que o primeiro seja recente.
Mas eu não consigo escrever mais, nem que seja para desabafar nas minhas notas.
Não consigo criar coreografias como antes, não consigo pensar em movimentos novos ou como organiza-los no tempo da música.
Parece que perdi toda a minha criatividade e concentração.
Não sei o quê está acontecendo comigo, mas não está sendo bom.
Talvez minha raiva não seja só por causa da internet, afinal.
Talvez meu bloqueio criativo esteja acabando com toda a minha vitalidade, se é que isso é possível.
Mas estou ganhando reconhecimento na minha carreira profissional e tô sendo um dos assuntos do momento.. Talvez eu dure menos de um mês desse jeito, mas ainda assim, estou sendo e isso está me ajudando, pois meus livros estão sendo comprados e as visualizações dos vídeos aumentam a cada dia que passa.
Eu deveria estar feliz agora?
Capítulo não revisado!
Qualquer erro, fique à vontade para sinalizar.
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I Would Kiss Your Cheek • Billie Eilish
FanfictionDe dia em dia, eu escreveria textos e mais textos de pura confissão de amor. Fiz diversas cartas na intenção de enviá-las, porém, o destinatário delas nunca esteve disponível para mim. Felizmente, eu sou persistente. E, depois de séculos e milhares...