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Oi amoressssss

Andei meio sumida. Perdão

Aconteceram uns estardalhaços na minha vida. 


— O que está acontecendo? — Pergunto, ouvindo vozes estranhas lá fora.

O quarto está um breu. A lona na janela torna impossível saber se está de dia ou de noite. Mas sei que Fernanda está ao meu lado. Ouço seu choro baixo.

— A polícia está investigando o assassinato dele... — Seu choro se torna um engasgo quando o nome sai de sua boca: — João...

A morte de João me dilacerou. Cresci ao seu lado. João era um adolescente quando chegou aqui. Seu corpo era magro e frágil, mas seu olhar era feroz. Olhar de quem protegeria sua irmã Fernanda com unhas e dentes. Bom, aparentemente ele protegeria qualquer mulher com unhas e dentes. Ver ele ser assassinado a minha frente foi como morrer junto.

Fernanda deve estar morrendo a cada minuto que passa sem estar junto de seu amado guardião.

— Eles já o prenderam? — Pergunto abruptamente. Tento me levantar, mas minhas costas doem como se unhas enfincassem em minhas feridas. Grito diante da dor, voltando a me deitar de bruços.

— Tome cuidado! — Alerta Fernanda.

— Me diga que eles já foram presos — Imploro por resposta. — Me diga que vocês os mataram! Meu avô é a pessoa mais monstruosa do mundo.

Não me contenho. Lagrimas de dor tomam conta de mim. Dor pela perda. Dor pelo sacrifício de uma alma em me proteger. Dor pela violência que sofri. Dor por eu ser um demônio e eu sei bem de quem eu recebi a minha genética. Que tipo de monstro eu sou capaz de me tornar?

Fernanda não me responde. Apenas escuto o som de seus soluços chorosos. Ela agarra uma de minhas mãos sem move-la de lugar e me informa com a maior força do mundo:

— Seus avos estão colaborando com a polícia.

Meu coração se aperta com a palavra colaborando.

Eles não serão julgados por seus pecados.

— Fernanda... eles o mata...

Fernanda me interrompe antes da palavra ser completamente enunciada.

— Eles estãos dizendo tudo o que sabem sobre o ladrão que invadiu e matou meu irmão. Os rapazes que acharam seu corpo na mata, já testemunharam. Todos que tiveram contato com o caso já conversaram com a polícia.

Não tenho palavras certas para responde-las.

Eu presenciei o crime.

Eu vi a vida de um amigo se tornar um nada.

Mas essas palavras não saem. Apenas o silencio perdura entre nós.

O silencio se torna um peso em meus pulmões. Faço força para que o ar entre. Mas algo em minha garganta impede a entrada de ar. Algo amargoso. Denso. Desesperador. Busco a fuga daquele monstro que se aloja em minha garganta. Travo o maxilar.

O monstro não me sufoca ate a morte, ele apenas sai por meus olhos. São lagrimas. Lagrimas desesperadoras.

— Por enquanto, os patrões querem que você descanse — Anuncia Fernanda, e num tom de voz mais baixo, ela me confidencia: — Um policial andou perguntando por ti.

LEIAM O LIVRO ANTERIOR A ESTE.

A NINFETA DO INTERIOR

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A Ninfeta do Interior - UM RECOMEÇO - 2Onde histórias criam vida. Descubra agora