𝐁𝐑𝐄𝐀𝐊𝐈𝐍𝐆 𝐅𝐑𝐄𝐄, 𝘳𝘢𝘧𝘦 𝘤𝘢𝘮𝘦𝘳𝘰𝘯

00, prólogo

Em uma sala grande e silenciosa, a luz suave e prateada da lua entra pela janela, dando ao ambiente um brilho sobrenatural. No centro, Claire, que acabara de completar seus quinze anos, está sentada diante de um piano de cauda. Seus cabelos castanhos e lisos refletiam o brilho da lua, dando a ela um ar quase angelical.

Claire vestia camisola e pantufas. Seus dedos delicados e habilidosos deslizavam sobre as teclas do piano com uma graça natural, produzindo uma melodia forte e envolvente que preenche a sala com o melancolismo de Rachmaninoff.

Seus olhos estão fechados, como se estivesse completamente imersa na música que cria. Sua expressão é serena, quase sonhadora, enquanto as notas da música preenchiam seu coração, a deixando sem ar.

Ao redor do piano, móveis antigos e elegantes estão dispostos pela sala de música dos Cameron, criada especialmente para ela por sua mãe. A pequena fresta aberta da janela permite a entrada de uma brisa fresca que faz as cortinas de tecido leve ondularem suavemente, como se estivessem dançando junto da música.

A música que emana do piano parece ter um efeito hipnótico em Rafe que se aproxima lentamente da sala. Ele hesita por um momento antes de abrir a porta, temendo fazer barulho e interromper a melodia. Rafe adorava ouvi-la tocar, era um fato, mas ambos sabiam que ele jamais admitiria isso. Ao contrario de Claire, sua noite estava sendo bem agitada e tomada por uma ansiedade que parecia se afastar conforme as notas tomavam conta de seus ouvidos.

Seus olhos brilham com uma mistura de curiosidade e admiração enquanto observa a garota ao piano. Claire, ainda imersa na música, não percebe imediatamente a presença de Rafe. Que, por sua vez, permanece quieto após fechar a porta, fascinado pelo talento da garota e pela beleza da música que ela cria. Quando a melodia chega ao fim o silêncio se torna quase uma tortura.

— Está ficando melhor — Rafe diz, se aproximando da garota no piano.

Claire praticamente salta do assento, suas mãos trêmulas apertam as teclas que soam um tanto desafinadas devido ao susto. Ela coloca a mão no coração e se vira, observando Rafe bem atrás de si.

— Que susto Rafe! — Claire exclama, franzindo suas sobrancelhas ao ver o sorriso divertido nos lábios do garoto. — Por que ainda está acordado?

Rafe dá de ombros, se sentando no sofá.

— Não é como se você estivesse em silêncio.

A provocação de Rafe tem o efeito que ele desejava, aprofundando ainda mais o vinco nas sobrancelhas de Claire.

— Nem vem, eu sei muito bem que não dá pra ouvir nada lá de cima.

Eles ficam em silêncio enquanto se encaram, ambos curiosos sobre o sentimento crescente que sentiam.

— Não consigo dormir — Rafe admite, quebrando o silêncio. — Tenho prova da autoescola amanhã.

Claire sorri, um tanto compreensiva. Ela sabia que Rafe se cobrava muito e que tudo isso tinha apenas uma origem: Ward Cameron. Até mesmo o diabo tremeria na base ao ver aquele homem em um dia ruim.

A garota passa os dedos pelas teclas do piano, pensando no que tocar a seguir.

— Tem que pensar positivo! — é o que ela diz.

Isso arranca uma risada de Rafe, que estica suas costas no sofá, apoiando a cabeça na almofada.

— É fácil pra você dizer isso, provavelmente é a pessoa mais positiva que já conheci.

Claire faz careta, apesar de saber que as palavras do garoto eram mesmo verdade.

— Você vai se sair bem, Rafe — ela murmura, virando o pescoço em direção a ele. — Passamos a semana toda praticando.

Rafe assente mas não parecia convencido.

— Meu pai vai ficar puto se eu reprovar. De novo.

— Então enterro as chaves dele no quintal. De novo.

Os dois dão risada.

— Eu sabia que tinha sido você! — Rafe diz, soando convencido.

A pobre Wheezie de apenas dez anos havia sido responsabilizada pelo desaparecimento da chave do carro.

— O que quer ouvir? — Claire pergunta.

Rafe fica um pouco surpreso com a oferta.

— Eu?

— É. Acho que está precisando relaxar.

O garoto finge pensar por alguns segundos mas a resposta já era óbvia.

— Aquela do Quebra-Nozes.

Claire sorri, adorando o fato de já saber a resposta mesmo antes de ter feito a pergunta. Seus dedos passeiam pelas teclas enquanto a melodia se formava, preenchendo novamente a sala e envolvendo Rafe numa névoa de relaxamento.Em poucos minutos ele apaga, parecendo ter se esquecido de todos seus receios.

Claire e Rafe só voltariam a se ver novamente daqui há exatos quatro anos.