Capítulo 26

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Assim que todos os alunos se encaminharam para suas salas correspondentes, o início da primeira aula acontecia de forma tranquila como sempre. Na turma de Clarice e Fernanda todos aguardavam sentados a chegada do professor de Biologia, que ainda não tinha chegado e sequer tinha se comunicado com a coordenação da escola se por ventura iria faltar aquele horário de aula, ou apenas se atrasar.

Um tempo que Clarice achou perfeito, porque assim poderia continuar conversando com a sua amiga Fernanda.

— Nanda.. — Clarice disse chamando em um tom baixo, como também, cutucando o ombro da sua amiga que sentava em uma carteira a sua frente, para chamar a sua atenção. — Vamos aproveitar para continuar conversando enquanto o professor não chega. — ela disse assim que sua amiga se virou e olhou para ela.

— A.. — foi a única coisa que Fernanda disse, assim que se virou para Clarice.

— Está tudo bem, Nanda? — Clarice a questionava com um semblante que demonstrava que ela estava preocupada com Fernanda, pois percebeu que ela parecia estar estranha. — O que aconteceu?

— Eu.. — Fernanda começou a dizer, mas nem ela mesma conseguia compreender o que estava sentindo ou o que estava passando em sua mente, para conseguir responder para sua amiga. — Eu estou bem, relaxa. Não precisa se preocupar! — ela disse com um sorriso rosto como se estivesse realmente tudo bem com ela.

— Mesmo? — Clarice decidiu a questionar mais uma vez, sentindo que talvez às coisas não estivessem bem realmente, como ela dizia estar.

— Sério! — ela confirmou sorrindo — Então pode começar a soltar tudo! Como assim você e o Gui estão namorando? Desde quando? — Fernanda a questionou não somente para saber como foi, mas porque ainda não conseguia entender o que tinha mudado em tão pouco tempo.

— Foi na sexta! — Clarice dizia sorrindo — Assim que você decidiu ir embora pra casa, porque estava.. — Clarice ia continuar dizendo, mas Fernanda a interrompeu.

— Na sexta? — Fernanda a interrompeu com surpresa.

— Sim! Ele estava me esperando na escola. — Clarice continuava explicando como tudo tinha acontecido, de forma em expor os detalhes.

E enquanto isso, a mente de Fernanda ia para o que tinha acontecido na sexta. De ter passado o dia anterior, e a noite com Guilherme. De ter transado com ele. De ambos terem dormido de conchinha enquanto ele acariciava os seus cabelos.. Se lembrando de tudo isso, enquanto ouvia Clarice e demonstrava um semblante falso de que estava feliz pela amiga, quando na verdade, ela estava morrendo lentamente por cada palavra, por cada detalhe que Clarice contava para ela.

— Eu não esperava que você teria coragem de contar para ele — Fernanda acabou dizendo, porém acabou se arrependendo logo em seguida por ter dito isso. — É que.. — ela tentou consertar o que disse rapidamente.

— Relaxa, Nanda! Eu entendi o que você quis dizer. — Clarice disse sorrindo — Na verdade, você me inspirou para conseguir ter coragem de contar para ele.

— Como? — ouvir isso deixou Fernanda surpresa, não entendendo o que ela tinha feito para causar isso.

— Porque você sempre se arrisca em tudo. Tão determinada, focada. Você estava sofrendo na sexta pelo Filipe, mas antes disso tudo, você se arriscou, e se mantêm perto de quem lhe interessa e gosta. — Clarice disse com um semblante de admiração que sentia por Fernanda, o que pegou ela de surpresa em ver e ouvir aquilo — Eu não queria continuar guardando aquilo o que eu estava sentindo. Até me aproximar do Guilherme, você já tinha feito por mim, assim que soube que eu gostava dele. — ela continuava dizendo sorrindo e pegando nas mãos de Fernanda — Você se esforçou e estava torcendo por mim, e percebi que também tinha que me esforçar e fazer valer a pena. Mesmo se ele não gostasse de mim.

As palavras de Clarice eram como facas no peito de Fernanda, era por essa razão que ela tinha desistido de Guilherme, e agora que as coisas estavam dando certo e fluindo na vida dela, considerava mais do que justo se permitir gostar de Guilherme. Mas claramente ele estava seguindo em frente, o que machucava mais ainda por tê-lo visto no sábado, ter o beijado e ele não ter dito nada. Só que ela também não o poderia julgar, porque ela já estava toda errada com Clarice, e as mentiras que estavam transbordando em volta das duas.

Se fosse para contar a verdade para Clarice tinha que ser agora, naquele momento.

— Na sexta eu estava mal, por que.. — Fernanda não sabia nem por onde começar a dizer — Eu passei a madrugada com o.. — ela não conseguia nem concluir direito, como também sequer conseguir olhar nos olhos de Clarice.

— Você dormiu com o Filipe? — Clarice disse tentando adivinhar o que tinha acontecido e imaginando que fosse com ele, já que a Fernanda tinha insinuado que estava mal por causa dele na sexta.

— Eu.. — e a coragem de dizer toda a verdade foi embora na mesma velocidade que surgiu — Sim! — preferiu confirmar mesmo que a pessoa não tivesse sido ele, de fato ela tinha dormido com alguém — Eu transei com o Filipe. — ela disse olhando nos olhos de Clarice, e nesse momentos seus olhos gritavam para Clarice a verdade "Eu transei com o Guilherme", abaixando o olhar logo em seguida, e sorrindo tentando espantar esses pensamentos — Eu fiquei chateada com ele por não ter sido tão carinhoso, mas a gente já fez as pazes, e estamos namorando aliás! — Fernanda terminou contando mais uma mentira para a sua conta.

— Mesmo? — Clarice a questionou surpresa, mas também com um sorriso no rosto, por estar feliz que era essa a razão dela estar bem.

— Sim, de verdade! — Fernanda disse sorrindo para ela.

— Isso é ótimo então.. — ela disse aproximando o seu rosto de Fernanda sorrindo e pensando que agora o seu pacote de felicidade estava completo.

— Bom dia alunos! — o professor de Biologia entrou na sala o que fez com que elas prestassem atenção agora somente na aula. E, Fernanda sentiu internamente um desejo e uma vontade absurda de fugir para casa, com o nó que se embrulhava em sua garganta, mas transparecendo que estava bem. Ela não podia fugir, nem chorar, nem reclamar. Um sentimento de culpa que a rondava e a esmagava completamente.

"Acho que mereço isso" — foi a única coisa que Fernanda conseguia pensar, enquanto o professor de Biologia dava a aula, e ela fingia prestar a atenção nele.

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