S/n Edouard P.O.V— Como foi o ensaio hoje? - Perguntou minha mãe. Estamos na mesa esperando o jantar. Papai está sentado ao lado de meu irmão. Antonela está ao meu lado.
— Foi muito bom. Fizemos algumas mudanças nos passos e só vamos ensaiar e melhorar nossa performance de agora em diante. - Forcei um sorriso ao perceber os olhos fixos de meu pai em mim. Engoli a seco.
— Vi Diana quando vocês saíram. Espero que não tenha feito nada fora do que mandei, S/n. Sabe o que vai acontecer se fizer o contrário do que mandei. - Não o encarei, mas conseguia sentir meu rosto queimando com seu olhar em mim.
— Não fiz nada do contrário, papa... Senhor. - Minha mãe me olhou confusa, assim como Antonela e Jhonatan.
— O que foi isso? - Perguntou minha mãe, seus olhos intercalavam entre mim e meu pai. — Marido, o que fez com a nossa filha? Bernard, se você machucou ela, eu vou...
— Cale a boca, Rachel. Não fiz nada com ela, só conversamos. - Minha mãe me encarou, seu olhar questionador.
— A próxima vez que falar assim comigo, Bernard, eu não responderei por mim. - Minha mãe se levantou da cadeira recebendo a atenção de todos sentados à mesa. —Licença, irei me retirar. - Todos observaram minha mãe até ela sumir após subir as escadas.
— Está vendo? É isso o que você faz, S/n. Eu disse, ela sempre escolhe você. - Finalmente o encarei. Seus olhos carregado de raiva. Peguei o garfo para comer, mas meu pai me impediu batendo na mesa. Larguei tudo assustada. — Vai para o seu quarto, não irá comer hoje.
— Mas, papai, eu preciso comer. Estou com... - Novamente ele bateu na mesa.
— Vá agora! Se me desobedecer de novo eu... - Ele iria se levantar, mas Jhonatan o impediu segurando em seu braço. Ele está possesso de raiva. — Vá, antes que eu faça algo, S/n. Suma da minha frente.
Não questionei novamente, me levantei da mesa e corri para o meu quarto. Tranquei a porta e permiti que as lágrimas caíssem.
Meu corpo ainda dói e as marcas parecem ficar cada vez mais escuras. Sinto minha cabeça doer e os pensamentos que me cercam não são dos melhores.
Ainda me lembro como se fosse hoje o dia em que meu pai me deu minha primeira sapatilha de ponta, a felicidade nos olhos dele quando me viu fazer minha primeira coreografia solo.
Ele era totalmente diferente, não sei o que aconteceu para que ele ficasse desse jeito comigo. Essa raiva e desprezo que ele tem por mim, eu não entendo.
Ele diz que nunca quis ter uma filha, que fez isso por minha mãe, mas isso... Isso é mentira. Minha mãe já me disse uma vez que ele sempre quis ter uma filha, sempre quis isso.
"Eu nunca quis ter você como filha, eu nunca quis ter uma filha, mas sua mãe dizia: Esse é o meu sonho, sempre quis ter uma menina."
"E eu, como um bobo apaixonado deixei ela cuidar de você, e depois eu fui me apegando a aquele bebê pequeno e lindo. Você era perfeita, S/n."
Abaixei a cabeça sentindo tudo vir a tona. Sentindo meu peito doer e meu corpo tremer. Minhas mãos estão soando e minha cabeça dói.
Eu só quero o meu pai de volta.
— S/a, filha. Posso entrar? - Me assustei assim que ouvi as batidas na porta, ainda estava encostada nela. — S/a, eu só preciso conversar com você. - É minha mãe. Limpei as lágrimas e destranquei a porta. — Oi, filha. Nós... Podemos conversar?
— Sim, mãe. Entra. - Dei espaço para ela. Nos sentamos na cama. Vi o momento em que suas mãos se entrelaçaram e seu olhar buscou o meu. Suspirei vendo em seus olhos o que ela iria falar.