SEMELHANÇAS

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Julho de 2133

Era a terceira semana que iríamos nos ver. Maia ocupava constantemente meus pensamentos, e eu sorria como uma idiota. Cobri meu rosto com as mãos, envergonhada demais para me encarar. Alguém bateu na porta, e me endireitei, olhando para o meu reflexo para me certificar de que eu não estava corada.

— Entre.

Ele entrou imponente. Os cabelos pretos penteados para trás, impecáveis, e uma barba bem feita, com pelos grisalhos. Vestia um terno preto bem alinhado e um anel com um símbolo familiar no mindinho.

Pousou seu olhar amargo sobre mim, emanando uma presença avassaladora, tensionando cada parte minha.

— Doutor...

— Não precisa de formalidades, por favor. — Ele acenou em dispensa, sentando na minha frente. — Basta me chamar de Sr. Akiyama.

— Sr. Akiyama.

— Muito bem. Não vou tomar muito do seu tempo. Aquela mulher... — Meu pai fingiu tossir. — Ela impediu minha pesquisa. Preciso que você peticione em seu nome.

— Que pesquisa?

Ele revirou os olhos e me enviou o documento. Abri o arquivo, e ao ler, meu estômago revirou a cada palavra.

— Não vou fazer isso. — Tensionei o maxilar.

Seus olhos brilharam com ferocidade. — Não estou pedindo.

— Não vou fazer isso. Eu...

Em um piscar de olhos, sua palma aqueceu minha bochecha.

Cerrei meus punhos; meu sangue ferveu. Respirei fundo, segurando as lágrimas nos olhos. — S-saia! Saia imediatamente ou chamarei os seguranças.

Riki se levantou. — Você e sua mãe são duas inúteis. — Ele cuspiu no chão, saindo com a mesma arrogância que entrou.

Minhas mãos tremeram, seguindo as batidas rítmicas do meu coração. Esfreguei minha bochecha, percebendo uma gota de sangue. Olhei no espelho a marca visível de sua mão e um corte no meu rosto, provavelmente causado pelo anel. Mesmo assim, só pensei no absurdo que li.

Me recompus e liguei para Hideaki.

— O que você quer?

— Riki esteve aqui. Ele me pediu para peticionar a autorização para iniciar a pesquisa que o Comitê negou.

Sua respiração ficou pesada. — I-isso... este homem é um perigo para a comunidade médica. Preciso agir. — Hideaki desligou antes que eu pudesse responder.

Esfreguei minha testa, afastando os pensamentos desse assunto, e pensei em meu encontro com Maia no dia seguinte.

Aquela sexta-feira trouxe um lindo dia outonal. Me olhei no espelho, e o que eu mais temia aconteceu. Um hematoma surgiu na minha bochecha pela má cicatrização. Configurei o biochip para cobrir com e-maquiagem e fui ver Maia.

Ela já estava esperando por mim. Me aproximei dela, sorrindo, e...

— Vamos. — Ela não me deixou nem falar e entrou no prédio.

Ergui a sobrancelha, confusa com seu jeito brusco, mas a segui. Maia abriu o caminho com impaciência. Permaneci em silêncio o tempo todo, sem entender o porquê da sua indiferença. Não perguntei sobre isso, mesmo porque ela não me falaria. Me sentei ao lado dela e fiz a coleta de sangue.

— Terminei — eu disse.

Ela levantou, vestiu o casaco, e nem uma vez olhou para mim. Meu coração doeu.

Metade em ChamasOnde histórias criam vida. Descubra agora