RAS EL TIN

2 0 0
                                    


Kiara permaneceu em silêncio o tempo todo, enquanto eu me preparava, mesmo sem saber o que esperar. Após esgotar minha imaginação, parei de tentar adivinhar e acabei com minhas expectativas sobre o que me esperava. O que quer que fosse acontecer, aconteceria. Eu só queria viver o momento e mergulhar naquele mundo de cabeça.

Quando estávamos perto de pousar, Kiara pegou duas vestes e me entregou uma delas.

— Será nosso disfarce. Pode colocar por cima do uniforme.

Toquei o tecido e me impressionei com a qualidade. Desdobrei a roupa, reconhecendo a túnica preta. Olhei no espelho e a túnica disfarçou todo o uniforme por baixo. Kiara também vestia um igual, usando luvas para esconder as tatuagens. Ela também pediu para eu configurar meu biochip para adicionar maquiagem preta nos olhos.

— Funcionou bem em você. — Ela sentou na poltrona na minha frente. — Eles não podem saber que somos estrangeiras. Há rebeldes que não aceitam o Abdel, mas ele influencia a maioria das pessoas. Se algo acontecer, podemos ser presas e não queremos isso. Eles também têm certo desdém de andróides mais independentes. Para eles, nós devemos só servir aos humanos e apenas isso.

Kiara levantou um dedo. — Você não pode usar máscara. O rosto deve estar sempre descoberto. A única exceção são essas vestes.

Também explicou que eles dispensam usar os sistemas da Rede Aether, então os mercenários andam entre eles sem o risco de serem identificados. Isso também significava que se desaparecermos, fossemos presas, ou até mesmo mortas, ninguém viria atrás de nós.

— Nem mesmo viriam atrás de alguém da Zênite como você. — Kiara colocou as armas no coldre.

Engoli seco com o alerta.

— Certo, vamos.

Ela abriu a porta do avião e uma rajada de vento nos envolveu, me forçando a fechar os olhos. Me apoiei no suporte e quando me acostumei com o novo cenário, meu queixo caiu. Areia dourada nos rodeava, mesclada com um céu acinzentado. Eu mal acreditava no que estava diante de mim: um deserto.

Me agachei e toquei a areia quente, sorrindo como uma boba. Kiara franziu as sobrancelhas, me olhando com estranheza. Pigarrei, a seguindo até um estabelecimento próximo.

Alguém com apenas os olhos visíveis, saudou Kiara. — Comanda — pediu.

A andróide mostrou o holopasse, e demos a volta, onde um carro nos esperava. Após guardar as coisas, seguimos viagem para Cairo. A cidade estava há novecentos quilômetros do Deserto de Saara e levaríamos cerca de três horas até lá.

— Que tipo de lugar era aquele?

— É um posto dos mercenários. O Deserto do Saara é conhecido como Zona Morta, como as Terras de Ninguém. O Comando de Kemetia, a milícia do Egito, não tem interesse neles.

Então isso estava acontecendo em todos os lugares? Era difícil acreditar que pessoas viviam em situações tão deploráveis.

Aproveitei a viagem e admirei o imenso campo de areia, brilhando com a incidência dos raios solares, criando pontos de luz ofuscantes. A beleza do lugar era deslumbrante, mesmo em meio ao perigo.

Deixamos as fronteiras do deserto, e um muro gigante rodeava Cairo. Entramos em um trânsito para entrar pelo portão, fortemente guardado por andróides e humanos. Na nossa vez, uma IA nos saudou em árabe e Kiara assegurou nossa entrada. Não entendi quase nada, pois o vento impedia minha audição. Mesmo com o biochip, por fatores externos, nem sempre dava para captar a tradução em tempo real.

Sobrevoamos a metrópole circular coberta por um ar arenoso. Os edifícios tinham quinhentos metros de altura, vigiados por doze estátuas colossais dos deuses egípcios esculpidas no muro. O ouro das esculturas reluzia. Doze estátuas menores rodeavam o Mosqueiro de Al-Azhar, lar do líder, Abdel. Abaixo delas, pessoas se amontoavam em filas com oferendas nas mãos. Ao longe, as ruínas das pirâmides, destruída pelos ataques da Rede Aether, cobriam parte do cenário dourado.

Metade em ChamasOnde histórias criam vida. Descubra agora