Capítulo I

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Porto 2023

Hoje o dia tinha tudo para ser maravilhoso.  Acabei de conferir o meu boletim do Euromilhões e fui premiada com um dos primeiros prémios.
Agora é só esperar para saber o valor da quantia que me cabe.

Dia seguinte

Marquei encontro com o meu namorado.  Eu namorava com Rodolffo fazia 5 anos.  Dada a condição financeira dos dois tínhamos decidido não dar o passo seguinte na relação.   Eu queria uma casa, estabilidade, e os nossos salários não permitiam isso.

- Preciso falar contigo,  Juliette.  E um assunto sério que venho adiando faz tempo.

- Eu também tenho algo para te dizer.  Graças a Deus chegou em boa hora.

- Deixa-me falar primeiro.
Eu quero terminar o namoro.  Faz tempo que penso nisto e não tem como continuar uma coisa que eu sei que não tem mais sentido.

- Assim do nada?

- Do nada não.   Foi muito pensado.

- Tens outra?

- Não tenho ninguém, mas gosto de outra pessoa.

- Já andas com ela?

- Não.   Nem me declarei.  Precisava terminar contigo primeiro.

- Ok.  Vai com Deus. - foi a única coisa que ela disse.

- É sério que não vais fazer drama?

- Ficavas feliz se fizesse?

- Não,  mas acho estranho aceitares assim tão de boa.

- É assim, meu amigo.  Vida que segue.

- O que querias dizer-me.

- Nada.  Agora não interessa nem um pouco.

- Ainda assim eu gostava que ficássemos amigos.

- Um bom dia ou boa tarde eu sou capaz de conseguir, mais que isso já é pedir muito.  Vai ser feliz.  Eu vou ser, tenho certeza.

Juliette virou costas e deixou Rodolffo um bocado à toa.  Esperava xingamento, choro e o que recebeu foi um pouco de indiferença.

Nesse mesmo dia, Juliette teve a satisfação de ver que havia apenas dois contemplados do jogo.  A ela caberiam 134 milhões de euros já deduzidos os impostos.

Sentou-se numa pastelaria e brindou sózinha com um café.  Juliette não bebia álcool.

Voltou para o modesto apartamento onde vivia e juntou algumas roupas de Rodolffo,  que por vezes ali deixava, numa pequena mala e foi colocá-las no hall de entrada do prédio.   Mandou-lhe mensagem a dar conta disso mesmo e bloqueou o número dele.

Rodolffo leu a mensagem e encolheu os ombros.  Ia responder e viu que estava bloqueado.  Decidiu não ligar, mas também não foi buscar a roupa.

No dia seguinte quando saiu para o trabalho, Juliette viu a mala no mesmo sítio.   Pegou nela e foi colocá-la ao lado do contentor do lixo.  Alguém a pegaria, com certeza.  Por ali andam sempre alguns sem abrigo que agradeceriam as roupas.

No caminho ela ensaiava a maneira como ia despedir-se.  Trabalhava na fábrica de conservas há dez anos.  Desde os seus quinze anos, quase dezasseis.

Falou com a sua chefe e foi logo dizendo que seria o último dia de trabalho.
Apesar da questão de contratos e prazos ela não estava nada interessada nisso.  O mísero salário que usufruia agora não era tão importante.  A chefe aconselhou-a a não agir precipitadamente pois teria que indemnizar a fábrica por quebra de contrato.  Juliette sorriu. Felizmente o contrato terminava em dois meses e ela ainda tinha direito a um mês de férias.
Ali mesmo escreveu uma carta a rescindir e eles que fizessem o que lhes competia.  Aquele seria o último dia e não se falava mais nisso.

No final do turno despediu-se de Marina e Ângela, as duas colegas com quem ele melhor se dava.  Angela tinha trinta anos.  Era licenciada em gestão,  mas por não conseguir emprego nessa àrea optou pela fábrica pois tinha um filho que dependia exclusivamente dela.
A Marina era jovem.  Tinha vinte anos e muitos sonhos, um dos quais ter a sua própria confeitaria.

Juliette prometeu contactá-las novamente logo que pudesse.

Delicada MenteOnde histórias criam vida. Descubra agora