- Diz Vicente. Qual é a urgência?
- Olha! Esta é a última vez que me vou intrometer neste assunto.
Diz-me sinceramente: tu e a Juliette têem alguma hipótese ou já a descartaste definitivamente da tua vida?- Que conversa agora é essa? Faz meses que não sei nada dela.
- Eu sei, porque se soubesses ela não estava naquela condição.
- Que condição?
- Magra, depressiva, doente. Um farrapo. Uma amostra da mulher que foi e um dia destes pode ocorrer uma tragédia.
- Tragédia?
- A Juliette chamou-me. Quer vender a casa, o carro e quer que eu administre o dinheiro dela para criar uma fundação a favor de crianças com deficiência. Diz que para onde vai não precisa de dinheiro.
- E para onde vai?
- Aí é que está. Não quis dizer. Hoje vi-a tomar dois comprimidos seguidos quando a dosagem é de um. E ainda me disse que costuma tomar quatro. Abandonou a faculdade, o que achas que se segue?
- O que posso fazer?
- F*da-se Rodolffo! Parem de ser crianças. Já chega de competir quem é o mais orgulhoso. Nenhum de vocês superou e a prova é que estão ambos sózinhos. Sejam adultos.
- Eu não quero que ela pense que quero o seu dinheiro. Era tudo mais fácil se ela continuasse pobre.
- Mas ela agora é rica. E neste momento precisa muito de ti. Vais arrepender-te se continuares com esse orgulho besta.
- Ela está assim tão mal?
- Está. Por isso eu e o António vamos ficar lá em casa. Tenho medo de deixá-la sózinha.
Já disse o que vim dizer, agora vou embora.Vicente deixou Rodolffo e voltou para casa de Juliette.
António estava na sala enquanto Juliette dormia no quarto.
- Que foste fazer, Vi?
- Fui falar uma última vez com Rodolffo. Depois lavo as minhas mãos, mas não a deixo sózinha.
- Eu fiquei em choque com o aspecto dela.
- Eu também, mas o discurso dela é que me preocupa.
António disse que já tinha preparado o quarto deles e foi preparar algo para comerem, quando tocou a campainha.
Vicente foi abrir e deu de caras com Rodolffo.
- Vim conversar com ela.
- Entra. Ela está a dormir.
Vicente fechou a porta e levou-o até ao quarto dela. Rodolffo sentou-se na cama e vendo o rosto dela cairam-lhe as lágrimas. Vicente colocou a mão no ombro de Rodolffo e depois abandonou o quarto.
Rodolffo afagou o rosto dela e ela mexeu-se, mas logo sossegou de novo.
Ficou ali mais um pouco e depois foi ter à cozinha.- Não sabia que estava tão mal!
- A doença do corpo geralmente tem cura, mas o que me preocupa é a mente dela.
- Eu vim para ficar com ela, mas não sei como vai reagir.
- Nós ficaremos aqui até amanhã. Se tu vens para ficar, não é necessária a nossa presença, mas a Juliette não pode em hipótese alguma ficar sózinha.
- Obrigado. Vocês têm sido muito amigos.