Capítulo XXI

53 11 4
                                    

- Diz Vicente.  Qual é a urgência?

- Olha!  Esta é a última vez que me vou intrometer neste assunto.
Diz-me sinceramente: tu e a Juliette têem alguma hipótese ou já a descartaste definitivamente da tua vida?

- Que conversa agora é essa?  Faz meses que não sei nada dela.

- Eu sei, porque se soubesses ela não estava naquela condição.

- Que condição?

- Magra, depressiva, doente.  Um farrapo.  Uma amostra da mulher que foi e um dia destes pode ocorrer uma tragédia.

- Tragédia?

- A Juliette chamou-me.  Quer vender a casa, o carro e quer que eu administre o dinheiro dela para criar uma fundação a favor de crianças com deficiência.   Diz que para onde vai não precisa de dinheiro.

- E para onde vai?

- Aí é que está.  Não quis dizer. Hoje vi-a tomar dois comprimidos seguidos quando a dosagem é de um. E ainda me disse que costuma tomar quatro.  Abandonou a faculdade,  o que achas que se segue?

- O que posso fazer?

- F*da-se Rodolffo!  Parem de ser crianças.  Já chega de competir quem é o mais orgulhoso.  Nenhum de vocês superou e a prova é que estão ambos sózinhos.  Sejam adultos.

- Eu não quero que ela pense que quero o seu dinheiro.  Era tudo mais fácil se ela continuasse pobre.

- Mas ela agora é rica.  E neste momento precisa muito de ti.  Vais arrepender-te se continuares com esse orgulho besta.

- Ela está assim tão mal?

- Está.  Por isso eu e o António vamos ficar lá em casa.  Tenho medo de deixá-la sózinha.
Já disse o que vim dizer, agora vou embora.

Vicente deixou Rodolffo e voltou para casa de Juliette.

António estava na sala enquanto Juliette dormia no quarto.

- Que foste fazer, Vi?

- Fui falar uma última vez com Rodolffo.  Depois lavo as minhas mãos, mas não a deixo sózinha.

- Eu fiquei em choque com o aspecto dela.

- Eu também, mas o discurso dela é que me preocupa.

António disse que já tinha preparado o quarto deles e foi preparar algo para comerem, quando tocou a campainha.

Vicente foi abrir e deu de caras com Rodolffo.

- Vim conversar com ela.

- Entra.  Ela está a dormir.

Vicente fechou a porta e levou-o até ao quarto dela.  Rodolffo sentou-se na cama e vendo o rosto dela cairam-lhe as lágrimas.  Vicente  colocou a mão no ombro de Rodolffo e depois abandonou o quarto.

Rodolffo afagou o rosto dela e ela mexeu-se, mas logo sossegou de novo.
Ficou ali mais um pouco e depois foi ter à  cozinha.

- Não sabia que estava tão mal!

- A doença do corpo geralmente tem cura, mas o que me preocupa é a mente dela.

- Eu vim para ficar com ela, mas não sei como vai reagir.

- Nós ficaremos aqui até amanhã.   Se tu vens para ficar, não é necessária a nossa presença, mas a Juliette não pode em hipótese alguma ficar sózinha.

- Obrigado.  Vocês têm sido muito amigos.




Delicada MenteOnde histórias criam vida. Descubra agora