O retorno.

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Na mesma velocidade em que o rugido de Caraxes havia sumido pelos céus de Pedra do Dragão, ele retornava.
Ao ouvir o mero boato da boca de um bêbado na taberna onde estava, Daemon não pensou duas vezes antes de retornar para a esposa.
Durante o caminho noturno o frio gélido faziam suas mãos ficaram dormentes e seus olhos confusos. Como pode ter sido tão tolo? Ele confiou demais na segurança que em tempos de guerra deveria ser considerada zero.

Assim que pousava próximo ao castelo ele descia das costas do animal e começava remover a armadura que utilizava. Do lado de fora do castelo quem estava o esperando era Visenya.

— Quando aprenderá que sumir não resolve nada? - A jovem falava em Valiriano.
— Foi sua culpa. Não deveria ter revelado daquela maneira. - A voz de Daemon saiu na língua comum, o homem não estava com um pingo de paciência. — Quero ver Rhaenyra.
— Talvez você não deveria ter mandado degolar uma criança em seus próprios aposentos. Aemond deveria ter morrido. - Visenya se aproximava levemente do homem que considerava pai após a perda de Leanor e Harwin.
— E você acha que eu pedi o que? Eu pedi Aemond Targaryen! - Daemon também se aproximava, a raiva era visível em sua expressão.
— Para dois bêbados!? Você pediu a cabeça de um dos guerreiros mais habilidosos do time verde para DOIS BÊBADOS! O que sete infernos eles fariam se encontrassem Aemond? Será que eles sequer o buscaram ou foram na presa mais fácil? Você foi imprudente, imoral! - A princesa Targaryen justificava com as mãos enquanto conversava de maneira afiada. — E agora, você quase perde Rhaenyra.

Daemon respirou fundo e cogitou levantar a mão, mas, se impediu de tal ato. Ele sabia que a garota estava certa em cada uma das palavras que haviam deixado sua garganta. O Rei consorte e respirou fundo e concordou com a cabeça.

— Eu faria de tudo para proteger Rhaenyra, proteger vocês.
— Comece aceitando ela como Rainha e se desprenda do término que nunca aconteceu entre você e o trono. - A jovem sentia um amargor nos lábios e respirava fundo. — Vá conversar com ela, precisam se resolver.

Daemon estava incrédulo com a audácia de Visenya, mas, optava por manter silêncio. Ele passou do lado da garota com certa brutalidade esbarrando em seu ombro e seguia o caminho castelo a dentro.
Visenya era uma versão mais controlada de Daemon, mais astuta. Por isso sempre se deram tão bem.
Mas, agora os dois eram apenas fogo. E fogo com fogo, pode explodir.

Rhaenyra estava escorada na janela que havia se quebrado no dia do confronto, observando em silêncio o movimento das nuvens enquanto acariciava as bandagens que protegiam seus ferimentos.
Quando Daemon pisou no cômodo, ela se virava para trás, se assustando levemente com a imagem do homem ajoelhado.

— Lhe coroar aquele dia não foi o suficiente pois minha mente ainda estava presa no passado onde um dia pude ser herdeiro. Mas, Viserys nomeou você. Meu irmão era tolo em campo, mas, eu confiava em sua mente. Se ele lhe nomeou antes de esperar um herdeiro, algo nele deveria dizer que era o certo. Rhaenyra, eu lhe aceito como Rainha e comandante. Estou aqui de joelhos implorando perdão pelos meus atos cometidos em impulsividade e rebeldia. - Daemon que estava com a cabeça abaixada durante toda sua fala, agora a levantava levemente para olhar os olhos da Rainha. Olhos que estavam cheios de lágrimas, ressentimentos e amor. A mulher balançou levemente a cabeça em concordância e gesticulou com a mão para ele se levantar.
— Eu não sei o que faria se eles tivessem lhe tomado de mim. - O Rei bufou enquanto abria os braços para envolver a mulher em um forte abraço.
— É a última vez Daemon, a última que lhe perdoarei.

Quando a luz do sol começava a banhar as janelas no castelo pouco a pouco seus habitantes começavam a se levantar para começar as tarefas diárias.
Jacaerys e Baela por sua vez foram os últimos a saírem de seus aposentos de maneira um tanto quanto... Suspeita.

— Quem irá avisa-los que o casamento só é consumado na noite de núpcias? - Rhaena murmurava baixinho no ouvido de Visenya, fazendo a jovem rir baixinho.
— Deixe o garoto ser feliz, essa guerra toda está o destruindo. - A princesa se desprendia do braço dela prima e caminhava até o irmão que estava ajeitando os cachos do cabelo com as mãos.
— Irmão. - A voz doce da garota preencheu os ouvidos de Jace, roubando um sorriso de sua face.
— Irmã. Como passou a noite? - O príncipe lhe questionava de maneira sincera enquanto começava a caminhar lado a lado com a princesa em direção aos jardins.
— Não tão bem quanto você e Baela. - Ela o respondeu enquanto o cutucava levemente em provocação.
— Fique calma, logo seus dias de solidão irão acabar. - Após terminar a frase o sorriso de seus lábios sumiam e ele franzia as sobrancelhas... Visenya conhecia isso, ele acabara de falar algo que não deveria.
— Como assim? - A jovem parava de andar, o olhando nos olhos.
— Nada. Me refiro a você já ter idade o suficiente para noivado, talvez nossa mãe pense o mesmo.

Jacaerys dava um pequeno afago nos fios platinados da irmã e apertava o passo, deixando-a sozinha ali enquanto refletia no que ele havia acabado de dizer.
Ela sabia que este dia chegaria e que agora mais do que nunca ele estava próximo. Visenya era uma garota solteira da realeza e os tempos de guerra haviam chegado, sua mão poderia valer um acordo valioso para o reino.

Quem havia acompanhado cada palavra daquele diálogo se esgueirando entre os corredores, criados e guardas, era o guerreiro Blackwood. Seus olhos se apertaram com a sugestão de Jace e seus lábios se estalaram.
Ele se viu em um pequeno beco sem saída, a casa Blackwood já era juramentada a Rainha Targaryen, o noivado entre ele e Visenya não seria útil o suficiente para a coroa.
Mas, Ben já havia decidido em sua mente que queria Visenya e faria o possível e impossível para conquistar o que tanto desejava.

Silencioso e rápido como um animal, Benjicot rondava Visenya, se posicionando ao lado da jovem enquanto falava em um tom baixo.

— Quem será o sortudo?

A voz inesperada e máscula tirou um pequeno susto da princesa, fazendo sua respiração acelerar.

— Pelos Sete. Achei que já havia se conformado com meu primeiro pedido para se afastar. Não serei sua amiga, não tenho nenhum interesse em sua pessoa a não ser os mesmos que a Coroa. Sou grata pela sua lealdade a minha mãe, mas, fique longe de mim. - A jovem falava baixinho enquanto observava alguns guerreiros passarem.
— Você ainda vai precisar de mim e quando este dia chegar não estarei lá para lhe socorrer. - O Blackwood resmungou próximo ao ouvido da garota e foi se juntar aos outros guerreiros para o treino matinal.
— Eu tenho um dragão, idiota. - A platinada revirou os olhos e respirou fundo, voltando a sua rota inicial que era o desjejum.

Ao chegar na mesa repleta de pães, doces e frutas, ela se servia e se sentava ao lado de Rhaenyra. Desde o incidente as duas não haviam dialogado muito.

— As vezes penso que lhe subestimei demais. - A Rainha começou a falar, tomando a atenção completa da princesa. — Você foi capaz de me defender, capaz de manter Daemon em mente sã por muito tempo, capaz de fazê-lo finalmente se ajoelhar perante meus pés. Eu entendo sua dor com a partida de Luke... E como mãe, eu não quero que você participe dessa guerra. Mas, como Rainha eu tenho plena consciência de que você será extremamente importante. Então... Peço que se junte a Baela e patrulhe pelos céus King's Landing.

Os olhos violetas da garota se enchiam de alegria enquanto ela rapidamente concordava com a cabeça.

— Claro! Digo... Sim, minha Rainha. Irei preparar Vermithor agora mesmo. - Visenya se levantava com alegria, depositando um leve beijo na testa da mulher.

Enquanto a vida no castelo seguia comum por aquela manhã, nas marés agitadas da costa de Pedra do Dragão encostava um pequeno bote. Um homem completamente encapuzado saía dele com ambas as mãos erguidas em sinal de paz e rendição.
Quando seu corpo era agarrado por soldados que retiravam seu capuz todos ficavam surpresos e confusos.

— Levem-o diretamente para a Rainha. Ela decidirá os próximos passos. - Um deles ordenou.

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