— Me desculpe? — Ele tentou, um sorriso vacilante nos lábios.
Dei um passo para trás, minhas mãos retornando aos bolsos do casaco, os dedos pressionados contra as palmas das mãos.
Ele comprimiu os lábios, e percebi que esperava uma resposta.
Suspirei.
— Eu podia mesmo ter quebrado o seu braço — falei, não conseguindo (nem querendo) evitar que meu cenho se franzisse. — Você é burro? O que estava pensando?
Suas sobrancelhas se ergueram em surpresa, e percebi o que eu tinha dito.
Ah, que droga.
Desviei o olhar de seu rosto para o que quer que se passasse sobre seu ombro, minhas mãos se escondendo de vergonha no fundo dos meus bolsos.
Não queria deixar minha amargura vazar. Não na frente dele, pelo menos. Era um pouco mais difícil ter defeitos perto de alguém como Umemiya.
Mesmo assim, eu não acreditava que estava totalmente errada. Chegar por trás de uma garota sozinha numa rua escura é obviamente uma ideia ruim.
Não que eu precisasse chamá-lo de idiota, é claro. De fato, isso foi um erro da minha parte.
Um deslize. De fato, um deslize.
Meus olhos retornaram para seu rosto, e, para minha surpresa, o sorriso continuava em seus lábios, inabalável. Assim que mantivemos contato visual, ele riu.
E não o tipo de risada “hahaha, que clima estranho”. Definitivamente não. Nem a risada “hahaha, nunca mais quero ter de olhar pra sua cara na vida”.
Era uma risada real, com mão cobrindo a boca e tudo.
— Eu sinto muito? — falei, e o tom de questionamento foi mais forte do que o de arrependimento.
Ele encostou o ombro na parede.
— É muito interessante assistir a expressão que faz enquanto pensa — ele disse, gesticulando. — Da próxima vez, vou lembrar de pegar o celular no bolso e tirar uma foto. — acrescentou, o polegar e o indicador de ambas as mãos se juntando em um gesto, como se emoldurasse meu rosto.
Devo ter ficado em silêncio por ao menos meio minuto, encarando-o.
Meus lábios cogitaram se afastar mais uma vez, deixando mais um pedido de desculpas escapar, mas, antes que fizesse isso, me convenci de que ele nunca aceitaria que eu me desculpasse por algo assim.
Por que você veio?
Também decidi deixar a pergunta dentro dos quatro cantos empoeirados da minha cabeça. No fundo, o motivo não importava tanto assim.
— Não achei que você soubesse lutar — ele comentou, e os olhos desceram para meus braços, como se me chamasse de franga muito educadamente.
— Não sei — Neguei com a cabeça, continuando a andar rua abaixo, esperando que ele me seguisse como um cachorrinho. De fato, foi o que ele fez, caminhando entre o meio-fio e eu. — Só aprendi a imobilizar outras pessoas. Meu pai achou que podia ser útil.
O de cabelos brancos concordou.
— Já teve de usar isso antes?
Mais vezes do que gostaria.
— Não — respondi. — Você foi o primeiro.
Umemiya espiou-me pelos cantos dos olhos azuis.
— Pareceu que você tinha bastante prática — disse ele, e mantive meus olhos na calçada.
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mirrors - umemiya hajime
Fanfiction[Nome] nunca havia esperado que algum cliente fosse aparecer naquele fim de tarde. A lojinha de jardinagem era sempre tão monótona que ver alguém além dela perambulando entre as prateleiras parecia uma cena saída de sua imaginação. Mas não era, Haji...