Capítulo XVII: Naamah

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Após a pergunta, se manteve o silêncio que, até aquele momento, já era comum entre João e qualquer um de seus colegas. Sarah esteve visivelmente ansiosa e relutante sobre a conversa que teve com o jovem no dia anterior.

— Descobriu algo?

— ...

— Aparentemente, ainda está com medo, né?

Sarah se manteve calada.

Para quebrar o clima, João aproximou-se da jovem e apertou sua mão firmemente. Sentindo a tremedeira da jovem se esvaindo aos poucos, disse:

— Pode ser no seu tempo, eu aguardo.

— O-ok...

— ...

— ...

— Desculpa, Sarah.

— P-pelo quê?

— Acabei te arrastando para tudo isso. Digo, você já estava no meio de todo esse caos, mas... não foi certo ter te colocado nessa encruzilhada...

— E-está tudo bem, João... Já disse que pretendo te ajudar, contanto que Ana não seja machucada.

— Entendo. Eu diria que, caso quisesse, poderia sair e esquecer de tudo, mas...

— Meio que não tem como, hehe...

— Isso. Nós já estamos enroscados nesse nó todo, só a gente pode se desamarrar disso e viver como pessoas normais...

— Pessoas normais... Não acho que eu posso ser chamada disso.

— Você pode, Sarah. A partir do momento em que veio para o meu lado, disse que pretende abandonar seu lado demoníaco. Sua irmã estaria orgulhosa agora.

— Pare de falar essas coisas...

— ...

— Mas você não está errado...

Sarah respondeu o aperto de João com um mais firme ainda.

— Ok, estou preparada para te contar!

— Ótimo, vamos começar — o rapaz comemorou enquanto pegava um bloco de notas que estava sobre a mesa.

— Antes de tudo, preciso lhe explicar o porquê não quero que Ana sofra.

— Tem um motivo em específico?

— Sim... Assim como eu, ela também já foi humana.

— Espera, quer dizer que todos vocês já foram humanos?

— Não tenho certeza quanto aos outros, mas Ana me contou que também fez um pacto para se tornar o que é hoje. Acho que disse isso para me confortar, visto que eu estava prestes a fazer um pacto também.

— E onde quer chegar com tudo isso?

— Acho que ela foi manipulada para concluir o pacto, assim como eu...

— Certo...

— Ela também já teve seu lado humano, sentimentos, memórias... Se posso ter uma chance de voltar a ser quem eu era antes, Ana também pode.

— Também quero acreditar nisso, Sarah.

— Deve ser difícil, né? Já que ela te bateu tanto no outro dia, haha...

— Na verdade, o fato dela ter me espancado é o que me faz crer que ela ainda tem salvação.

— Sério?

— Quero acreditar que sim. Não acho que um demônio se preocuparia com os outros.

— Pelo visto, sim...

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