Capítulo XXIII: Mercearia

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Sábado — 08 de junho de 1957

João acordou no que parecia mais um dia "comum" da sua nova vida.

Ao se levantar do balcão completamente sujo, subiu as escadas lentamente, cambaleando devido a ressaca causada pela bebedeira do dia anterior.

Entrou no banheiro e se encarou no espelho: a mesma figura de antes, porém coberto de vômito e com restos de saliva marcando seu rosto. Virou-se para a privada com um grande enjoo e decidiu se esvaziar mais uma vez.

Após isso, lavou seu rosto na água suja da banheira para tirar o excesso de sujeira e saiu do cômodo.

Andou até o seu quarto para pegar roupas limpas, visto que o estado das suas vestimentas atuais estavam deploráveis. Carregando as mudas de roupa, desceu para o primeiro andar.

Indo para o balcão, era possível observar a sacola de ontem cheia de pães. Desde que se engasgou, João não havia tocado naquilo, mas agora que estava com fome, não podia negar o "pão assassino".

Mesmo que tivesse quase 24 horas, o pão ainda estava delicioso, porém um pouco duro. Mas, até aquele momento, não era como se importasse mais.

Desde que aquela sacola chegou em sua moradia, sua alimentação era resumida a cachaça, café e quiçá alguma outra bebida encontrada lá.

Agora que tinha pães, finalmente podia tomar um café da manhã minimamente decente, e assim fez.

Depois da refeição, caminhou até o celeiro para que pudesse pegar algumas ferramentas e alimento dos animais. Agora, o seu dia iria realmente começar.

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Horas se passaram até João finalmente terminar os seus afazeres. Com os animais alimentados e algumas hortas feitas, o jovem voltou para o celeiro.

Lá, carregou todas as armas e os alvos improvisados para fora. Quando voltou para pegar a caixa de munição, notou-a leve. Decidiu abrir e, como era esperado, estava vazia.

Demonstrou insatisfação com um fraco suspiro, jogando a caixa no chão e caminhando para o interior do sítio.

Depois de vários dias, sairia de casa novamente. Dessa vez, iria para a mercearia de Neide, a senhora que passou lá no dia anterior com a sacola de pães.

Chegando no banheiro, encarou aquela água suja banhada em terra diluída dos serviços que João estava acostumado a fazer.

Ficou pensativo, afinal, tudo o que precisava fazer era entrar na banheira como nos outros dias, se arrumar e ir na mercearia. Porém, acreditava que a família que administrava os negócios daquele lugar não mereciam receber um cliente podre, cheirando a álcool e parecendo um mendigo.

Após vários dias, finalmente decidiu trocar a água da banheira. Tirou o objeto que tampava o ralo e, depois de alguns segundos, se esvaziou completamente.

Com isso, estava apta para receber água nova e limpa, que sairia da fonte mágica chamada "torneira".

Enquanto fazia isso, João refletia sobre o quão preguiçoso e — talvez, estúpido — era por não fazer algo tão simples e rápido. Todavia, cogitou que, após a morte de Sarah e de seus antigos vizinhos, não pensou em mais nada além de sua vingança.

Sem perceber, a banheira já estava transbordando de tanta água. João rapidamente fechou a torneira, e depois de notar a besteira que fez, suspirou. Em seguida, entrou lá e ficou alguns minutos na água para que ela fizesse todo o trabalho de limpá-lo.

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