Capítulo XXV: Piquenique

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Quarta-feira — 12 de junho de 1957

Com o canto do galo que ecoava por toda a região, João se levantou. Naquele dia, teria um encontro após muito tempo, e desta vez, com sua amiga de infância. Sabia que tinha algo de errado, visto que aquele dia da semana era o dia dos namorados, mas não se importou tanto.

Caminhou até o banheiro, despiu-se e esvaziou a banheira, para que pudesse tomar banho com água mais limpa. Esperando, olhava-se no espelho observando sua aparência adquirida com o passar dos meses. Já havia feito isso em dias anteriores, mas o momento delicado no qual passava o impediu de se cuidar devidamente.

Após todo esse tempo, decidiu se reparar. Puxou o espelho para si, revelando o que era um "mini-armário" com algumas coisas — em sua maioria, velhas — guardadas. Entre elas, havia uma lâmina que foi pega pelo rapaz e uma embalagem de sabonete fechada.

Sabia que aquele não era o produto ideal para fazer a barba, mas seria praticamente impossível achar um creme de barbear naquela situação. Umedeceu o rosto e o sabonete, esfregando-o nas mãos logo depois, criando uma boa quantidade de espuma que foi passada na região. Após isso, molhou a lâmina e fez sua barba delicadamente até que não sobrasse nada.

João passou tanto tempo sem tocar numa lâmina que, por descuido, cortou-se levemente. Não foi nada grandioso, apenas um corte no canto da boca, dando-lhe uma ferida até que interessante.

Quando terminou de tirar os pelos de seu rosto, entrou na banheira, tomando um banho adequado.

Um tempo se passou quando João fora chamado por Alice. Mesmo que estivesse arrumado, não parecia preparado para um encontro. Vestia uma camiseta branca de botão que estava acostumado e uma calça social preta que combinava com os sapatos de couro que usava. Além disso, estava perfumado com uma fragrância bem forte de um perfume que seu avô devia ter deixado lá.

Quando saiu do sítio, avistou a dama que havia o convidado para sair perto do portão.

Alice estava usando um vestido branco amarrado por um cinto de cetim também branco, o chapéu de palha que usou na mercearia dias atrás e sapatilhas beges.

— Não sabia que poderia ficar tão bonito desse jeito, tirando o corte na sua boca, hehe.

— Obrigado. Está linda, também.

A loira revirou o rosto timidamente:

— E-então, deve ter lido a mensagem que havia deixado na mesa, hein?

— Não sou cego, Alice. Queria sair para um encontro comigo?

— E-encontro? Será apenas uma caminhada para relembrar os velhos tempos.

— Hehe... sei.

— Enfim, pelo visto, aceitou o pedido, não?

— Como pode notar, sim.

— Ótimo, vamos logo! Tenho os lugares ideais para ir contigo!

— Certo, certo — João concordou abrindo o portão e saiu do sítio. De início, notou a mesma cesta do dia anterior nas mãos da loira. — Nós faremos um piquenique?

— Sim, algum problema?

— Nenhum. Quer que eu leve?

— Que cavalheirismo de sua parte, hihi!

A loira entregou a cesta para o homem.

— Então, vamos andando!

— Ok.

Enquanto caminhavam pela estrada de terra, conversavam:

— Fazia tempo que não saia para caminhar com alguém. Estou tão feliz com a sua volta, sabe?

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