Forrest Gump

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Adeline Montenegro

Alguém descobriu onde você mora e mandou — disse Emília.  Ainda assim parecia suspeito. Quando chegamos em casa depois da batalha um estranho deixou na porta de casa um trecho de um poema e uma rosa vermelha — Aliás, ontem estávamos em um lugar lotado de pessoas, facilmente poderiam te reconhecer. Addy você é famosa.

Leio mais uma vez a frase escrita no bilhete. "A despedida é uma dor tão suave que te diria boa noite até o amanhecer... ". Que tosco! 

— É, talvez eu esteja sendo meio paranoica — Peguei bilhete guardando em uma caixinha no armário —  Vamos esquecer isso.

— Certo — Emília esboça um sorriso de orelha à orelha — Vou para um jantar super romântico. Será que posso pegar aquele seu vestido vermelho? 

— Claro que sim. Onde o Apollo vai te levar?

— É surpresa, por isso quero ir deslumbrante  — Emília pegou o vestido longo com abertura nas costas que combinava perfeitamente com ela — Vou experimentar, volto já.

— Ok! — me deitei na cama olhando para o teto, nunca tive em um encontro romântico. Minhas relações sempre foram rasas como um beijo e um adeus. Nunca deixei que fosse além, talvez por medo ou precaução.

— O que acha? — perguntou Emília. Como presumi o vestido caiu como uma luva no seu corpo curvilíneo ressaltava os cabelos ruivos.

— Ficou lindo, Emy.

— Eu sei, boba — ela se olha no espelho e sorri satisfeita — Ele vai amar.

Ao longo do dia fazemos algumas coisas, ainda não arranjei ânimo para arrumar meu quarto. Em alguns dias minha mãe ia para capital visitar seu escritório de advocacia, consequentemente ela chegaria mais tarde em casa. Emília começa a se preparar para o seu encontro, ela estava muito feliz. Enquanto eu, morfava no sofá da sala. Precisava encontrar algo para me distrair.  

— Estou indo, fica bem — Emy descia pela escada apressada indo em direção a porta sumindo.

Dou de ombros, decido fazer uma caminhada. Aquele dia que fui para  casa de Otávio percebi o quanto a pequena cidade é iluminada, muitas pessoas nas ruas e calçadas de suas casas, bem típico. Caminho tranquila sentindo a paz e a liberdade que aquilo trazia, por muito tempo senti falta disso, porém não podia ir muito longe é fácil se perder.

Passo por um beco mal-iluminado, acelero meus passos. Já atuei em filmes que alguém morre nesse tipo de cenário, olho para atrás sinto algo  se aproximando uma sensação de ser seguida, mas seria impossível pois ninguém me conhece, acelero mais ainda meus passos e olho mais uma vez. Até que sinto meu corpo colidir em uma pessoa.

— Presta atenção — Reclamou o elemento. Que azar — Olha só, o que faz aqui?

— Não é da sua conta — observo seu copo de cerveja, aliás, estávamos em frente de um bar.

— Pensei que seu lance fosse só cigarros — ele sorri debochado — Você é sempre esquentadinha?

— Você acha que é quem para me julgar, todas as vezes que eu te vejo você está bêbado.

— Caralho, você é esquentadinha mesmo — revirei meus olhos. Dou as costas para ele e começo a caminhar de volta para casa — Você sabe o caminho de volta? — pergunta Otávio. Parando ao meu lado.

— Claro que sim — na verdade, acho que tinha me perdido continuei caminhando mesmo assim.

— Sabe, quando te assistia na televisão te achava mais gentil.

— Então você é meu fã?

— Quando você fazia aquela novelinha da professora, você era minha favorita — confesso que fico um pouco surpresa pela sua resposta, achei que ele soltaria mais um deboche.

— Me sinto lisonjeada de um dos cantores mais ouvidos do Brasil seja admirador do meu trabalho — falei, porém meu tom é irônico mais do que eu planejava.

— Adeline, tão doce e meiga — disse ele  — Você se perdeu, né?

Responder que não seria idiotice, para piorar sinto gotículas de água caírem sobre meu ombro, ótimo. Poderia cair uma chuva forte a qualquer momento.

— Eu posso te levar se você quiser — completou.

— Você estava bebendo, é perigoso.

— Foi só aquele copo, juro eu ainda estou sóbrio suficiente — analisei seu rosto, ele estava corado e saudável diria que a sua aparência estava melhor hoje do que naquela batalha. 

— Tudo bem, vamos — Otávio sorri de canto, voltamos para o bar o seu carro estava estacionado próximo dali.  Entramos e ele começa a dirigir, um silêncio entre nós surgi. 

— Espera você nem sabe onde fica a minha casa — lembro ele.

— Só você dizer como é sua casa, conheço essa cidade muito bem — encaro ele, gostava da segurança dele. Explico mais ou menos o meu endereço, até que começo a reconhecer as ruas que andei.

— Tem razão, como você conhece tão bem? 

— As vezes saio de madrugada, quando falta sono aprendi a decorar os lugares — falou ele, olhando para mim. Apenas assenti com a cabeça. Uma música começa a tocar no rádio, Forrest Gump de Frank Ocean. Eu amava essa música.

My fingertips, and my lips, they burn
From the cigarettes
Forrest Gump, you run my mind, boy

Um clima confortável se instalou no ambiente, as janelas do carro estavam abertas o vento batia no meu rosto e bagunçava meus cabelos, me importava zero com isso fechei meus olhos aproveitando a sensação. Sou cortada quando o carro para.

— Chegamos — Otávio tinha os olhos fixados em mim com uma expressão indecifrável. Senti um pouco de descontentamento por ter acabado.

— Ah, certo. Obrigada, eu te devo uma — abri a porta do carro para sair. 

— Espera, se você quiser... — um pontinho de expectativa nascia em mim, nem sei o porquê — Esquece, até mais.

— Tchau, Otávio.

...

— Romeu e Julieta? — perguntei de novo, olhei para minha mãe um pouco chateada voltar atuar estava longe dos meus planos. Eu realmente amava ser atriz entretanto me faltava confiança.

— Pensa, filha. O teatro está quase fechando as crianças que fazem parte podem perder seus sonhos por falta de verba, essa foi uma forma de arrecadar fundos e você pode influenciar muito — as crianças, eu fui uma delas e consegui realizar meu sonho. Seria egoísmo da minha parte.

— Eu aceito, mãe — precisava de um cigarro imediatamente.

— Que bom, Adeline. Vou dizer a eles que aceitou — dona Fernanda estava feliz.

— Qual a novidade? — perguntou Emília. Ela entra na cozinha com uma cara ainda de sono.

— Adeline se tornará Julieta.

— Como assim? — questionou Emília. Expliquei a situação, veio em minha cabeça uma coisa importante.

— Quem vai ser o Romeu? — A expressão da minha mãe muda para séria.

— Lorenzo Martins — Respondeu.

— O quê? — Eu e Emília dissemos uníssono. 

Agora eu precisava de dois cigarros. 

Rosas e Rimas - Tavin McOnde histórias criam vida. Descubra agora