Amor à Vida | ~Filipe e Letícia

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Aysha Narrando

Estava montando o quarto de Lucas, sozinha! Em filmes, sempre vi o pai ajudando a mãe, pendurar o nome do filho na porta do quarto e bem...eu podia fazer isso, sem o pai!

O quarto estava todo em tons azul e amarelo com alguns animais desenhados, um berço branco, uma cadeira para amamentação e um trocador! Além de um guarda roupa e uma estante com alguns brinquedos e decorações. Eu comprei pela internet algumas coisas e pedi para que alguém do morro montasse, já que ninguém das lojas ousariam entrar na favela para montar!

Arrumei os travesseiros do berço com a mão na barriga! Eu sinto falta de ter alguém...E fazer isso tudo sozinha, era deprimente! Algum dia, meu final feliz será possível? Se meu final feliz, for cuidar do meu filho, eu também ficarei muito contente mas...E minha companhia?

Sempre me perco pensando em como as pessoas saem das nossas vidas, que nem água em nossas mãos, rapidamente! E o que sobra...Memória! Só memórias!

Em meio de tantas emoções, me vi chorando e olhando para o berço, com a mão na barriga! Quando escutei duas batidas na porta de madeira, olhei rapidamente e vi Jp parado me encarando, com seu fuzil para frente e uma sacola na mão e uma cara de preocupado. O que ele queria?

Me virei de costas e sequei minhas lágrimas em passos rápidos. Não quero que ele me veja chorando!

Aysha: Precisando de algo? — funguei.

Jp: Está chorando? — perguntou dando um passo para frente.

Aysha: Não! Foi só a poeira! — me virei de frente e vi ele confirmar com a cabeça.

Jp: Quarto ficou maneiro! — olhou em volta cada detalhe. — Você sempre me falou que queria um berço bem confortável! — encarou o berço com alguns travesseiros bem fofos e macios.

Aysha: Tá precisando de algo? — cruzei o braço.

Jp: Não! Não! É que... — esticou a sacola para mim. — Fui no postinho, ver Gk e a médica me pediu para te entregar esses remédios!

Aysha: Ah, obrigada! — peguei os remédios na sacola e vi para oque servia cada comprimido, a maioria para tirar dores e suplementação.

Jp: De nada! Então...Já vou! — deu um passo para trás. — Até mais!

Aysha: Até!

O vi virando de costas e ignorei colocando as sacolas de remédio encima da cômoda, tirando as caixinhas da sacola.

Jp: Aysha! — me chamou e virou de frente para mim novamente sem ter contato visual e eu o encarei de novo. — Você é a pessoa mais forte que conheci!

Eu não esperava por isso, fiquei lá encarando ele, que não demorou muito para ir embora, me deixando sozinho no cômodo, que estava perplexa. Eu sou forte...Realmente!

Jp Narrando

Eu cheguei minutos antes e vi Aysha, fazendo tudo sozinha no quarto, bufando por conta da barriga pesada....E também a vi chorando!

A barra que ela carregava, devia ser pesada demais, engravidou cedo, não teve o apoio do apai e está levando tudo sozinha! Porra, essa realidade era de tantas mulheres no mundo, inclusive da minha mãe!

Eu vim de um trabalho sujo, de um homem sujo, que pagava minha mãe só para trair sua mulher, que estava na cobertura de Ipanema, enquanto ele estava aqui, com uma mulata pobre, favelada e desesperada por qualquer nota de 100! Quando minha mãe, descobriu a gravidez, contou para ele, o velho não perdeu a chance de rejeitar qualquer possibilidade devido o preservativo fudido que usaram! Minha mãe disse que na época, só ficava com ele, por conta do bom dinheiro, então tinha certeza da paternidade. O milionário a humilhou e então, sempre foi eu e ela! Até ela partir e eu ficar sozinho, no crime!