Predestinados

2.

P.O.V STÊNIO

Após quatro anos, eu estava de volta ao Rio de Janeiro, o qual eu senti muita saudades. Embora tenha nascido em Curitiba, passei a maior parte da minha vida no Rio e, era aqui onde estava minha família. Minhas filhas, meus netos, a Creusa e a mãe dos meus filhos estavam todos aqui.

Foi desafiador deixar tudo para recomeçar minha vida em Portugal, mas é importante ressaltar que minha saída não foi por falta de vontade de ficar. Fui embora em um esforço em deixar para trás a mulher da minha vida e seguir em frente como ela pediu.

Não seria uma tarefa fácil recomeçar aqui.

Apesar do meu desejo de voltar atrás e bater na porta da nossa casa, implorando por mais uma chance, optei por ir embora, seria o melhor para ela e para mim.

Me acostumar à viver sozinho depois de anos casados com Helô foi difícil. A sensação de solidão me consumiu e não foi nada bom de sentir. A casa outrora vibrante e movimentada que eu tanto amava deixou de existir. Os ecos das vozes das minhas filhas, as repreensões da Helô e a chegada alegre da Drika com meu neto nos finais de semana, fizeram muita falta.

Viver sem o som contagiante da risada de Heloísa, o abraço quente no meio da noite, o toque suave de suas mãos e o sorriso radiante que trazia alegria ao meu dia a dia foi uma tarefa árdua. A ausência de Heloísa tornou a vida incrivelmente desafiadora.

Com o passar do tempo, Isis foi ocupando gradativamente o espaço de Heloísa. Minha vida começou a se encaixar e os pensamentos sobre Heloísa foram desaparecendo. Foi Isis quem agora consumiu minha mente, substituindo completamente Helô... ou assim eu acreditava, até o momento.

Meus achismo foram destruídos no momento em que o avião pousou no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. Uma onda de desconforto percorreu meu corpo, minhas mãos começaram a suar, minha barriga tremer, um nó na garganta e uma sensação desconhecida tomou conta de mim. Contrariando minhas expectativas, a memória de Heloísa Sampaio permaneceu vivamente gravada em minha mente.

As feridas que eu acreditava terem sido totalmente curadas não estavam tão curadas como eu me convenci. As memórias que tentei apagar da minha cabeça não foram tão apagadas quanto eu esperava. Percebi que nunca poderia apagar as memórias da minha ex-mulher, não importa o quanto eu deseje.

As lembranças com Heloísa é inapagável, firmemente implantada em minha mente. Uma vez que decidisse ocupar meu pensamentos, ninguém era capaz de conseguir tirá-la. Ela continua sendo uma presença constante, ocupando minha cabeça sem ceder. Pelo visto, ainda não encontrei outra mulher que pudesse tirá-la dos meus pensamentos e me pego lamentando por isso.

Voltar a esta cidade trouxe uma enxurrada de lembranças boas, mas também despertou lembranças dolorosas. Heloísa Sampaio, a personificação desta cidade, voltou a atormentar minha mente.

Minha suposição de ter esquecido minha ex-mulher estava completamente errada.

I: Meu amor, chegamos! – a mão de Isis em meu braço me tirou de transe. Pisquei o olho vendo que estávamos em frente ao meu novo condomínio. – Está tudo bem?

S: É... é claro, eu... só estou cansado. – gaguejei voltando o olhar para minha noiva, que deu um sorriso lindo e alisou minha barba.

Isis é uma mulher atraente e inteligente, é uma advogada, se conhecemos no escritório e ela chamou minha atenção no primeiro dia. Ela me ajudou no começo do divórcio, foi uma ótima amiga e não demorou para que a gente começasse a se envolver romaticamente.

Isis Santini tem uma altura que chama atenção, seus cabelos com mechas loiras são ondulados um pouco abaixo de seus ombros, os traços de seu rosto são delicados, sua boca levemente carnuda e contornada. Ela é linda.