Cartas para o meu Romeu. | Sope

carta 03

Eu descobri que moramos no mesmo prédio e frequentamos o mesmo mercado. E eu juro a você que eu não o persigo. Apenas uma coincidência. Uma feliz e infeliz coincidência, que me deixa em um misto de euforia e desespero. Ver você nos corredores do nosso prédio ou encontrar você escolhendo frutas no mercado me faz sentir uma proximidade que nunca imaginei.

Eu não sei se ver você com mais frequência do que já nos víamos é bom ou ruim. Momentaneamente, me encontro neutro nessa questão. Por um lado, cada encontro casual me dá uma pequena dose de felicidade, como se o universo estivesse conspirando a nosso favor. Por outro lado, essas reuniões fortuitas aumentam minha angústia, pois lembram-me constantemente do quanto eu desejo estar ao seu lado de maneira mais significativa.

Hoje, quando te vi no mercado, você estava escolhendo maçãs. Fiquei parado, observando de longe, tentando encontrar coragem para me aproximar.

Seria simples, um "oi" talvez, ou uma conversa casual sobre frutas. Mas a coragem me escapou mais uma vez. Ao invés disso, fiquei ali, imaginando como seria se tivéssemos uma vida juntos, fazendo compras, dividindo o dia a dia, os pequenos e grandes momentos.

Morarmos no mesmo prédio parece um sonho e uma tortura. Há uma proximidade física que só acentua a distância emocional que sinto. Você está tão perto e, ao mesmo tempo, tão distante. Será que algum dia essa barreira invisível entre nós será quebrada? Eu me pergunto como seria compartilhar um simples elevador com você, conversando sobre qualquer coisa, apenas para ouvir sua voz e ver seu sorriso.

A cada encontro casual, meu desejo de revelar meus sentimentos cresce. No entanto, o medo do desconhecido, do possível rejeição, me impede.

As palavras ficam presas na minha garganta, e eu me retiro antes que meu coração tome controle. Eu queria tanto que você soubesse o quanto você significa para mim, mas, por enquanto, estas cartas são meu único refúgio.

Estou preso em um dilema: aproveitar essas coincidências e arriscar me aproximar de você ou continuar à distância, admirando de longe, na segurança da minha própria incerteza. Cada dia é uma luta entre o desejo e o medo, e eu ainda não encontrei uma resposta.

Com carinho,
Girassol