08

30 6 0
                                    

— Quando tomará coragem e contará para o professor de literatura que você tem interesse nele? — Jin, meu irmão mais velho, me perguntou, fazendo-me engasgar com o café que estava tomando.

— Seokjin! — O repreendi, tentando recuperar o fôlego. Estávamos na cozinha de meu apartamento, e eu estava tentando relaxar após uma manhã agitada. Mas a pergunta de Jin, tão direta e inesperada, me pegou de surpresa.

— A qual é, Yoonie? Só ele não percebeu que você é caidinho por ele. Olha só, até conseguiu um jeito de entrar na escola por conta dele — continuou Jin, com um sorriso travesso no rosto.

— Ainda estou pensando em como vou me aproximar. Não quero assustá-lo — respondi, tentando manter a calma. O assunto que Jin levantou era delicado e me deixava nervoso. Na verdade, estava mais do que nervoso; estava completamente desorientado.

Meu irmão sabia muito bem o quanto eu estava atraído por Hoseok. Desde quando eu o conhecerá a dois anos ou desde que soube que ele seria meu colega de trabalho, minha mente não parava de pensar em como eu poderia interagir com ele de maneira natural.

A ideia de confessar meus sentimentos me assustava. O medo de estragar qualquer chance de uma amizade ou de um relacionamento com Hoseok me deixava paralisado.

A última coisa que eu queria era fazer algo que pudesse afastá-lo ou fazê-lo sentir-se desconfortável. Hoseok parecia ser uma pessoa sensível, alguém que valorizava as conexões genuínas e profundas. Eu não queria ser o responsável por criar um ambiente desconfortável para ele. Precisava encontrar um equilíbrio entre ser honesto sobre meus sentimentos e ser respeitoso quanto ao espaço dele.

— Olha, Yoonie — Jin disse, interrompendo meus pensamentos —, eu entendo que você esteja com medo. Mas às vezes, o melhor jeito de saber algo é simplesmente perguntar. Não vale a pena ficar se torturando, pensando em como ele vai reagir. O que você realmente quer é ser feliz, certo?

— Sim, claro — respondi, embora eu não estivesse tão certo sobre como ser feliz nesse contexto. A ideia de me abrir para Hoseok parecia simultaneamente emocionante e aterrorizante. Eu sabia que tinha que encontrar um jeito de fazer isso sem criar uma situação constrangedora.

— Além disso, você tem uma vantagem, Yoonie. Se você realmente acha que ele é especial, por que não tomar a iniciativa? — Jin continuou. — Às vezes, a vida é sobre correr riscos, e esse pode ser um risco que vale a pena.

— Talvez você esteja certo — admiti, suspirando. — Mas, ainda assim, gostaria de ter algum plano, sabe? Não quero simplesmente chegar e despejar tudo de uma vez.

— Então faça um plano, mas não demore muito. O tempo pode passar e você pode acabar perdendo a oportunidade de fazer algo que realmente deseja — aconselhou Jin, dando-me um sorriso encorajador.

— Vou pensar nisso — prometi. — E, obrigado. Preciso de um pouco de tempo para organizar meus pensamentos.

Jin deu-me um tapinha nas costas e saiu da cozinha, deixando-me sozinho com meus pensamentos. Enquanto terminava meu café, não pude deixar de refletir sobre a situação. A ideia de confessar meus sentimentos para Hoseok estava cada vez mais real, e, de alguma forma, eu tinha que encontrar a coragem para enfrentar isso.

Com um suspiro profundo, comecei a planejar o que faria a seguir. A certeza de que Hoseok começaria a lecionar na minha escola me dava uma nova perspectiva. Era a chance que eu precisava para me aproximar dele, para descobrir se havia algum potencial para algo mais entre nós. Eu só precisava encontrar o momento certo e a maneira certa de fazê-lo.

O medo e a ansiedade ainda estavam presentes, mas agora havia também uma faísca de determinação. Eu queria dar a Hoseok a oportunidade de ver o que eu sentia por ele, e, quem sabe, essa coragem poderia levar a algo bonito.

(...)

Sexto dia de férias. A tranquilidade que esperava experimentar estava sendo um pouco quebrada pela falta de tintas. Minhas obras ainda precisavam de cor, e eu me vi forçado a sair do meu casulo — meu apartamento — para repor meu estoque. A decisão de ir até a loja no fim da esquina parecia simples, mas, como sempre, pequenos eventos tinham o poder de transformar o cotidiano.

Cheguei à loja, comprei as tintas que precisava e logo retornei para casa. A sensação de ter algo para fazer, algo produtivo, me dava um pequeno alívio, mas, ao mesmo tempo, eu não conseguia evitar pensar em como a rotina diária estava se tornando uma parte significativa da minha vida. Era uma sensação agridoce, a de saber que essas pequenas ações, como comprar tintas, também poderiam se entrelaçar com as minhas experiências diárias.

Quando adentrei o elevador do prédio, a atmosfera já estava diferente. E ali estava ele, o tão mencionado "Julieta" — ou melhor, o amor de Yoongi. Ele estava ali, com um sorriso nos lábios, como se o sol estivesse iluminando não apenas o ambiente, mas também o próprio elevador. Meu coração deu um salto, e uma onda de nervosismo me atingiu de repente. O sorriso dele era irresistível, uma mistura de charme e calor que parecia fazer o tempo desacelerar.

— Bom dia — murmurei, tentando parecer casual e confiante.

— Bom dia — respondeu ele, sua voz saindo com uma melodia que parecia tocar uma nota suave no fundo do meu peito. Era uma voz que carregava um tom familiar e acolhedor, e eu me vi absorvido pelo encanto daquele simples cumprimento.

Enquanto me movia para puxar minha bolsa para frente e pegar minhas chaves, algo deu errado. O movimento de jogar a bolsa para trás e procurar as chaves fez com que eu deixasse cair algo do bolso. O som do objeto caindo no chão foi um pequeno estrondo que pareceu amplificado pela tensão no elevador. Aquele pequeno acidente parecia quase um símbolo das minhas tentativas frustradas de agir normalmente na presença de alguém que me afetava tão profundamente.

A tensão no elevador era palpável, quase física.

Era como se o espaço apertado entre nós amplificasse cada emoção, cada pensamento que passava pela minha mente. Eu me perguntava como um simples elevador poderia se tornar um palco de nervosismo e expectativas não ditas. O ambiente se tornou um espaço pequeno demais para conter todos os sentimentos que estavam em jogo.

Eu me afastei rapidamente para pegar o objeto do chão, enquanto tentava ignorar a sensação de estar sendo observado. Havia uma parte de mim que queria fazer uma piada para aliviar a tensão, mas as palavras pareciam presas na garganta. O silêncio entre nós parecia carregado de uma expectativa não verbalizada, uma troca de olhares e sorrisos contidos que eu tentava decifrar.

Com um último esforço para recobrar a compostura, saí do elevador e me despedi com um aceno. A sensação de alívio e constrangimento se misturaram à medida que a porta do elevador se fechava atrás de mim. O quão apertado um elevador pode ficar devido à tensão? Eu havia acabado de experimentar isso em primeira mão. O espaço físico pode ser pequeno, mas a carga emocional parecia enorme, tornando cada instante mais intenso do que eu havia antecipado.

Voltei para o meu apartamento com a mente cheia de pensamentos e uma sensação de inquietação.

Cartas para o meu Romeu. | SopeOnde histórias criam vida. Descubra agora