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Pedi para que Jin fosse ao mercado comprar algo para o almoço. Ele estava ficando no meu apartamento devido à reforma do seu próprio, e logo voltaria para sua casa. Era uma solução prática e conveniente, já que eu estava ocupado com o trabalho e as aulas. A ideia de ter alguém para compartilhar as tarefas domésticas era reconfortante, embora eu soubesse que o tempo de Jin em meu apartamento estava chegando ao fim.

Ouvi o som da porta se abrindo e logo a imagem de meu irmão se fez presente. Além das sacolas do mercado, ele carregava um pequeno pacotinho amarrado com um barbante. Ao aproximar-se, percebi que se tratava de cartas.

— São pra você — disse Jin, olhando para mim com uma expressão de curiosidade e um pouco de diversão. Ele leu o nome nas cartas antes de entregá-las.

— Pra mim? Quem ainda escreve cartas? — Perguntei, surpreso e um pouco cético. A ideia de receber cartas em um mundo tão digital me parecia antiquada e, de certa forma, encantadora.

— Não sei, elas estavam no chão do elevador. — Jin colocou as cartas sob a ilha da cozinha, e eu não pude deixar de notar o brilho nos olhos dele, como se ele soubesse de algo que eu ainda não sabia.

— Se importa de adiantar o almoço enquanto eu leio? — Pedi, sentindo uma mistura de curiosidade e antecipação. Havia algo intrigante nas cartas, algo que parecia exigir minha atenção imediata.

— Vá em frente — respondeu Jin, com um sorriso enigmático. Ele entregou-me as cartas e se dirigiu para a cozinha, começando a preparar o almoço.

Fui para o meu escritório, o espaço onde geralmente encontro paz e concentração. Sentei-me à mesa, peguei o pacotinho e desenrolei o barbante com cuidado. Dentro, encontrei várias cartas amarradas de maneira ordenada. O papel, levemente amarelado pelo tempo, parecia ter sido cuidadosamente dobrado e guardado.

Com um suspiro profundo, comecei a ler a primeira carta. As palavras eram cuidadosamente escritas, e o estilo fluía com uma sensibilidade que me tocou imediatamente. O remetente, que parecia ser alguém que me conhecia bem, falava com uma mistura de carinho e vulnerabilidade. Cada carta era uma janela para os pensamentos e sentimentos de alguém que claramente dedicou tempo e esforço para expressar o que sentia.

Conforme lia, comecei a perceber que as cartas tinham um tom de devoção e uma intensidade emocional que era ao mesmo tempo desconcertante e cativante. Cada uma delas revelava uma camada diferente do que parecia ser um amor profundo e sincero, algo que eu não esperava encontrar. A escrita estava cheia de metáforas e emoções que ressoavam com algo que eu havia sentido antes, mas não conseguia identificar completamente.

As cartas falavam sobre encontros casuais, momentos de ansiedade e a luta interna do autor para se aproximar de mim sem parecer invasivo, até mesmo um momento cômico onde ele achava que eu e Jin éramos namorados. Havia uma clareza nas palavras que me fazia sentir como se estivesse sendo diretamente observado e compreendido..

Era como se essas cartas fossem um espelho das minhas próprias inseguranças e esperanças não ditas.

O que me surpreendeu ainda mais foi a sensação crescente de familiaridade com o remetente. A cada linha, a cada frase, eu sentia que conhecia essa pessoa de algum lugar, embora não pudesse colocar um nome ou um rosto. As cartas capturavam um desejo genuíno de conexão, um desejo que parecia refletir o que eu próprio procurava.

Ao terminar de ler a última carta, deixei-as sobre a mesa e me recostei na cadeira, pensando sobre o impacto que essas palavras tiveram em mim.

Não apenas eram elas uma expressão clara de sentimentos profundos, mas também me forçavam a confrontar minhas próprias emoções e o que eu realmente queria.

Cartas para o meu Romeu. | SopeOnde histórias criam vida. Descubra agora