Capítulo 8: Vínculos que o Tempo Não Apaga

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LAURA

A semana tinha sido um verdadeiro caos, como sempre. E, claro, Matheus não podia deixar de contribuir com o show. Apareceu no escritório mais uma vez com sua habitual cena de "me devolve o que nunca foi meu". Era quase cômico, não fosse tão trágico. Ele gritava, exigia a BMW que eu comprei, o apartamento que, por algum motivo, ele achava que tinha direito. E eu, mantendo minha enorme paciência, só pensava: "Como eu pude me casar com essa peça rara?"

Mal terminei de suspirar e o telefone tocou. Portugal. Aquela ligação que eu esperava há semanas. Depois de uma breve negociação, passei a bola para Suzana resolver o resto.

— Fechamos a Obra 21 em Portugal! — anunciou Suzana, entrando na minha sala com duas taças na mão e um brilho no olhar. — Vamos comemorar, chefe!

Levantei imediatamente, dando um abraço rápido nela e já pegando o espumante sem álcool no frigobar. Afinal, ainda eram dez da manhã.

Essa viagem era minha fuga do caos. Uma chance de supervisionar a construção de um teatro, um projeto que levaria o nome da Construtora Lombardo para um novo patamar. E, pessoalmente, uma escapada temporária do drama mexicano de Matheus. Pedro, sempre atento, parecia ler meus pensamentos.

— Laura, eu posso ir com você — disse ele, com aquele olhar de quem estava sempre pronto para ajudar.

— Pedro, você já tem um milhão de coisas para resolver aqui. Não quero te sobrecarregar — tentei disfarçar, mas ele notou o cansaço na minha voz.

— Faço questão. Além disso, dois pares de olhos são sempre melhores que um — insistiu, com aquele sorriso de canto que era ao mesmo tempo irritante e encantador.

— Desde quando você entende de construção? — Suzana entrou na sala, sempre com o sarcasmo pontual.

— Acho que ela está sobrecarregada. Leva a Suzana com você, então — retrucou Pedro, jogando a responsabilidade para cima dela.

— Eu? Nem pensar! Não entendo nada de canteiro de obras e só vou atrapalhar. Leva esse oferecido aí! — respondeu Suzana, jogando a pasta da Obra 21 sobre a mesa.

Suspirei, olhando de um para o outro. Pedro sempre me fazia sentir segura, ao contrário de Matheus. Onde o ex era arrogante e egoísta, Pedro era gentil e dedicado.

— Amanhã, seis da manhã no aeroporto. Nada de malas gigantes. Dois dias e voltamos — avisei, pegando minha bolsa.

Na recepção, quem eu encontro? Mércia, claro. Vinha em minha direção com um ar urgente.

— Laura, o que está acontecendo com o Matheus? Fui até o escritório dele, está completamente descontrolado! — disse, arfando como se tivesse corrido uma maratona.

— Ele quer a BMW de volta — respondi, tentando não revirar os olhos.

— Mas, Laura, você não disse que deu o carro de presente? Não acha um pouco injusto tomar de volta?

— Pois é, Mércia. Ele achou que podia trair e ainda sair como o santo da história. Infelizmente, quem trai não ganha prêmios, nem carro.

— Laura, eu acho que isso pode ser perigoso. Matheus tem muita influência... — ela tentou me alertar, mas minha paciência já estava no limite.

— Influência, Mércia? Sei jogar esse jogo tão bem quanto ele. Spoiler: jogo melhor.

No dia seguinte, partimos para Portugal. No avião, enquanto o sol brilhava sobre as nuvens, conversamos sobre o projeto, mas logo as formalidades ficaram de lado. Falamos sobre infância, sonhos, e aqueles planos escondidos que ambos guardávamos, sem coragem de concretizar. Em algum momento, entre risadas e histórias compartilhadas, percebi que, naquele momento, Pedro e eu éramos apenas nós mesmos, sem máscaras ou disfarces.

Além das Telas: Uma Jornada de Amor e DescobertasOnde histórias criam vida. Descubra agora