My Becker - Entre O Desejo E O Poder

Capítulo IX

Pov Lara

Definitivamente não nasci para baladas, meu corpo inteiro estava dando indícios de uma ressaca catastrófica. Além da ressaca da cachaça, de um sexo bizarro, ainda fui atropelada.

Costumo dizer que existe pessoas fodidas, muito fodidas, fodidas pra caralho e existe eu.

Virava de um lado para o outro na minha cama, devia ser umas 10 horas da manhã de um domingo.

Na sexta a noite fui me demitir do café, senhora Judite ficou muito feliz que arrumei um novo emprego, claramente eu ofusquei algumas verdades, como: serei secretaria da Alícia Becker.

Essa informação ainda martelada a minha mente, eu serei secretaria pessoal da Alícia Becker, passarei a maior parte das minhas horas na presença daquela mulher com o humor intocável. As vezes fico irritada só por ela nunca estar de mal humor, é inacreditável. Mas realmente Alícia não tem motivos para ser triste, ela é podre de rica, bem sucedida. Se bem que ela perdeu a mãe e vive em pé de guerra com a família do pai. É, esquece, ela teria motivos de sobra para ser egoísta, antipática e mal humorada.

Acho que Alícia não vive no mesmo mundo que eu.

Meu estômago estava um oco, então resolvi levantar e fazer alguma coisa da minha vida, preciso me organizar para ir trabalhar amanhã, inclusive passar minha roupa, primeiro dia preciso ir toda engomadinha para causar boa impressão.

Tomei um relaxante banho, fiz minhas necessidades intestinais, lavei meu cabelo, sequei, cuidei do meu rosto, tirei alguns pelos que estavam crescendo fora do lugar na minha sobrancelha e já me sentia uma nova mulher. Nada como um banho bem tomado para levantar minha alto estima.

Para matar minha fome, resolvi fazer apenas uma macarronada para almoçar, usei carne moída, linguiça e muçarela e ficou uma maravilha. Precisava aproveitar quando bateu o espírito de dona de casa e lá fui eu organizar minha casinha, limpei tudo, passei o aspirador e um pano molhado no chão. Definitivamente eu amo o cheiro de casa limpa. Conclui minha faxina com a lavagem dos pratos, com certeza essa pia ia ficar uma loucura durante a semana.

Me lembrei que não tenho notícias de Camila desde sábado, ela não me ligou, nem eu liguei para ela.

Minha nossa senhora, será que Camila esta viva? Eu esqueci totalmente daquela mulher, que péssima amiga que eu sou. Não sei por qual motivo Camila gosta tanto de mim, deve ser a falta de amigos na vida dela também.

Corri para meu quarto pegar um moletom, vesti e corri para ir até o prédio onde morava minha amiga. Resolvi esquecer a ligação, me bateu vontade de vê-la. Logo que cheguei minha subida já foi liberada pelo porteiro. Subi as escadas rapidamente e em instantes estava em frente a porta daquela mulher.

Toquei a campainha e não demorou a porta ser aberta por uma Camila com os olhos vermelhos e cheios de lágrimas.

— Larinha...

— Milaaa o que aconteceu?

Abracei forte minha amiga, ela fungou no meu peito, como um animalzinho assustado.

Fui até o sofá com ela ainda abraçada a mim, passamos alguns minutos assim, apenas acariciando o cabelo dela e esperando o choro cessar.

— Sou uma idiota sabia? – Camila falou e levantou a cabeça do meu peito. — Eu estava ficando fixo com Lucas, ontem ele tava comigo, e ele sumiu, sai e fui dar uma volta também, simplesmente encontrei ele beijando outro cara. Poxa Mila, fui corna e ainda fui corna de um gay.

— Aí amiga, mas também você se envolve com cada cara insalubre. Sempre achei o Lucas açucarado. Você é uma baita gostosa, problema é que ele não curte o que você tem aí no meio das pernas.

— Ele nunca quis transar comigo, eu sou uma idiota, ele sempre relatava que só transaria após o casamento. Você acredita?

Soltei uma alta gargalhada, Camila me acertou um tapão.

— Aí Mila! – Voltei a rir e dessa vez minha amiga acompanhou, a cena era caótica, Camila com o rosto banhado de lágrimas e rindo da própria desgraça. — Eu não acredito que você caiu nessa amiga.

Camila fez um biquinho fofo nos lábios e passou as costas das mãos para secar as maçãs do rosto.

— Espera aí! – Camila soltou um grito que me assustou, senti o tecido do meu moletom ir para o lado e meu pescoço ficar exposto. — Que isso aqui? Você nunca ficou marcada desse jeito! Você transou com quem Lara Gutierrez?

— Não faço a mínima ideia.

Dei de ombro e observei minha amiga arregalar os olhos e ficar de joelhos no sofá de frente para mim.

— Como assim?

Parece que a tristeza pelo chifre tinha sumido daquela mulher, e agora tudo que existia era uma fofoqueira curiosa.

— Bebi muito, fiquei muito bêbada, não sabia mais nem meu nome, não lembro de nada, acordei sábado em uma cama no segundo andar da balada, sozinha e toda fodida, literalmente fodida.

Minha amiga tinha a boca aberta demostrando espanto ou descrença com aquela informação. O mais cômico da cena era que os olhos dela estavam borrados de preto pelo choro e maquiagem, parecia um panda.

— Não acredito! Lara do céu! Eu nem sei o que falar. Não sabe nem se foi com mulher?

— Encontrei uma calcinha no chão do quarto.

Camila deu um tapa no meu joelho me repreendendo e eu dei um grito, pois foi bem em cima do meu machucado.

— O que foi meu Deus? – Ela ficou espantada com meu grito.

— Alícia Becker me atropelou ontem.

— Que? – A boca dela se abriu e os olhos arregalados.

— Fui comprar meu almoço quando acordei, quando estava vindo para casa fui surpreendida com uma batida na traseira da minha bike.

— Está brincando! – Camila tinha uma mão sobre a boca.

— Machuquei o joelho, minha bike ficou toda torta e minha comida deu perca total, ela passou por cima com o pneu do carro.

— De tudo isso o que você ficou mais triste foi por sua comida, com toda certeza.

— Ela me levou ao hospital e depois em um restaurante Italiano.

A cara de surpresa de Camila apenas aumentava.

— Eu aqui sofrendo por um idiota, e você vivendo a emoção que não teve desde que chegou aqui. Como foi o almoço com ela?

— Foi bom, Alícia é uma boa companhia.

— Se Alícia não fosse uma idiota para relacionamento, eu com certeza shiparia vocês duas, ela é um partidão, muito gostosa, rica, e boa pessoa. Ela tem o coração maior que a conta bancária.

— Nem se eu quisesse me meteria com aquela mulher. Preciso do meu emprego.

— Mas ela não é uma gostosa?

— Claro que sim, ela é maravilhosa, qualquer ser humano em sã consciência admitiria isso.

— No fundo eu sei que uma hora Alícia vai encontrar uma pessoa que vai frear aquela vida de baladeira dela. Não acho que a vida de solteira que ela tem, é o que realmente ela gostaria de ter, Alícia presa muito pelas saúde mental, pela calmaria, família. Mas é muito cabeça dura, ela tem trauma de relacionamentos por causa do pai dela. Tem medo que alguém faça com ela o que o pai fez com a mãe.

— Ela não pode abdicar de ser feliz, por que a mãe foi infeliz. Cada escolha que fazemos gera uma reação em nossas vidas.

— Vai lá colocar isso na cabeça daquela criatura, que eu digo que você é fodona.

Fiz uma careta para Camila, eu que não vou falar nada que desagrade aquela mulher.

Nem sei quanto vou receber para trabalhar com ela, mas sei que é o bastante para ter uma vida melhor que a que estou tendo hoje. 

(.) (.)