Capítulo 25

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Ele sentia-se flutuando na escuridão durante um longo período de tempo. Não havia nada à sua volta e seu corpo se recusava a obedecê-lo, ainda muito dormente. Lentamente abriu seus olhos, contemplando o vazio que o cercava como uma prisão da qual não sairia tão facilmente. Sua última lembrança era de estar recitando o encantamento para despertar a atenção da Lady Mary, mas então uma fisgada veio sobre seu corpo, arrastando sua alma para dentro do espelho, onde despencou e bateu em várias realidades até atingir o vazio absoluto.

O nada.

Seja lá onde estiver agora, ele não conseguia sentir a presença de nada. Não havia nada, sua mente insistiu em lembrá-lo. E ele teve que se controlar para não se deixar levar pelo desespero quando não sentiu a presença de seus Vodduns. Ele estava vulnerável. Sentia-se nu, sem nada para cobrir e proteger sua alma.

Por mais que tentasse se manter de olhos abertos, podia sentir suas pálpebras pesando. Lentamente, mesmo com seus esforços para se manter desperto, viu-se fechando os olhos. Seu corpo parecia afundar devagar no meio de tudo aquilo, sem sequer saber se teria de fato um fim para isso.

Quem diria que seu fim seria dessa forma? Eren poderia rir, mas não sentia forças para tal coisa. A realidade entre corpo e alma estava desfeito, ou pelo menos era o que parecia. Ele não poderia dizer, ou saber. Tudo ali estava além do seu conhecimento. Se ali chegou foi porque alguém quis que assim fosse. E se seu palpite estiver certo, Mary havia decidido seu castigo final sem sequer ouvir seu lado da história. E nada poderia fazer para desfazer isso a menos que ela quisesse ouvi-lo, o que com certeza não acontecerá dentro de algumas centenas de anos. Mary era... Bem, como podemos dizer... Muito rancorosa. Ela não admitia erros, muito menos daria uma segunda chance para alguém que considerasse traidor.

Era uma pena...

Acho que... Talvez por uma última vez, ele gostaria de ver sua maldição novamente.

Levi ainda não havia voltado quando iniciaram os preparativos para o conjuramento... Mas isso foi há quanto tempo? Ele não conseguia dizer... Tudo parecia tão diferente...

Sua maldição ficaria tão furiosa quando retornasse e não o encontrasse...

Ele gostaria de vê-lo xingar novamente...

Apenas mais uma...

vez...

...

..

.

Abrindo os olhos repentinamente quando várias mãos agarraram seu corpo imóvel, arrastando-o mais para o fundo, o Lord sentiu-se despertar de seus devaneios. Olhando em busca de algo para segurar ou até mesmo por ajuda, percebeu que não havia nada. Ele amaldiçoou alto, apenas para se afogar em suas próprias palavras quando aquilo adentrou sua boca pela primeira vez, afogando-o. Debatendo-se para tentar evitar que aquilo vencesse, viu-se aos poucos perdendo as forças para aquilo e novamente caiu na inconsciência de seu final patético.

Quando despertou pelo que parecia ser a terceira vez, inalou profundamente o ar puro, sentindo seus pulmões queimarem após tanto tempo sem funcionamento. Sentindo-se de repente muito fraco, se agarrou na primeira coisa que encontrou. Era um tronco, e ele boiava para a borda do rio. Sem perder tempo e com o pouco de esforço, o Lord se arrastou para fora da água, caindo de bruços na grama esverdeada.

Ainda respirando com dificuldade, demorou um pouco para reunir tudo o que lhe sobrou de força para se levantar e tentar descobrir onde estava. E após alguns minutos de relutância do seu próprio corpo, ele sentou pateticamente no gramado. Sua visão mal tinha se acostumado à nova claridade que o englobava, mas de imediato soube que não conhecia realmente o lugar em que estava. Nada lhe era familiar, embora a sensação que passava fosse de paz.

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