Voodoo

Capítulo 11

"Sabe, Eren... Acho que você já tem uma certa noção sobre o quanto eu te odeio, mas sinto a necessidade de reforçar isso ao ver que o sol está nascendo somente agora sendo que fui tirado muito antes da cama por sua culpa. Eu te odeio." falou num tom ranzinza, escondendo as mãos dentro do moletom que usava. A chuva havia passado há um bom tempo, mas deixou para trás um clima extremamente frio. E como o sol ainda estava nascendo, Levi tinha quase certeza de que sua bunda iria congelar em algum momento. "Eu te odeio muito."

Eren, que estava bem quietinho na sua por sinal, acabou parando o que estava fazendo para olhar na direção do adolescente rabugento. Deixando a pá apoiada num tronco qualquer, cruzou os braços sobre o peitoral. "Agradeço o seu amor por mim."

"Hahaha. Você é tão engraçado." resmungou, mantendo contato visual com ele. "Vem cá, o que diabos você tem na cabeça, hein? Ir na casa dos meus amigos assim do nada? O que pensa que fará se eles descobrirem tudo por sua culpa? E outra, pelo que estou vendo, você não tá cumprindo porra nenhuma do nosso trato. Eu exijo saber o que se passa na sua cabeça."

Revirando os olhos pelas várias reclamações que vieram de uma só vez, ele disse: "Primeiro, se nem mesmo eu sei o que se passa na minha cabeça, o que é que vou te dizer? Segundo, eu só estou matando criminosos. Essa velha aí que viu demais. Ela morreu por pura culpa, e nada muda minha mente em relação a isso. E sobre ir na casa do seu amigo… Sei lá. Eu só quis ir e pronto."

"Só quis ir e pronto?" o imitou com deboche, franzindo o cenho em irritação logo em seguida. "Eu não vou deixar você silenciá-los como fez com essa velha fofoqueira-"

Revirando os olhos novamente, Eren bocejou, fazendo pouco caso do que o outro falava. Visto que ele não pararia, e também por estar perdendo a paciência, Eren se apressou e foi na sua direção, parando em sua frente para tampar sua boca. "Eu sei que temos um trato. Assim como sei que nesse trato eu tenho que te proteger. E para que eu cumpra a minha parte, se for preciso, eu os matarei."

Arregalando seus olhos com o que escutou, Levi sentiu um certo medo crescer dentro de si pela firmeza usada no tom, mas escondeu bem aquele sentimento ao dar-lhe um olhar mortal. "Já conversamos sobre isso, monstro. Você não toca em ninguém que amo e, por isso, continuará vivendo."

Trincando os dentes em irritação, Eren segurou em sua garganta, aproximando-o de si até que seus narizes roçassem. Olhando dentro daqueles olhos acinzentados, disse num tom desdenhoso: "Não confie em ninguém só porque os ama. Não seja tolo, minha maldição. Só existe um sentimento verdadeiro, e eu tenho certeza de que não é o amor. Eles vão traí-lo quando descobrir que tem um trato comigo, um voodista assassino. Você pode ficar irritado do jeito que quiser, isso continuará sendo a verdade. Queira você ou não."

Batendo no braço musculoso do maior, finalmente se viu livre daquele toque asqueroso. "Pouco me importa essas suas palavras de merda. Temos um trato e eu espero que seja homem o suficiente para cumprí-lo até o fim. Pois caso contrário…" parando de falar somente para tocar no medalhão, voltou sua atenção para ele. "Você sabe."

Com um sorriso de canto forçado, Eren deu um passo para trás, num claro sinal de rendição. "Como quiser, minha maldição."

A tensão no ar se estendeu desde então, mas nenhum dos dois quis quebrá-la, focados somente na raiva que sentiam um do outro naquele momento. Meia hora depois, ainda com um silêncio quase que ensurdecedor se não fosse pelo barulho da pá contra a terra molhada, Eren saiu de dentro da cova profunda e foi na direção do corpo da mulher. Parando ao lado do Levi, disse num tom sério: "São poucas coisas que eu não admito. Uma delas é a falta de respeito pela minha crença, e a outra é a dúvida sobre minha palavra. Posso ser tudo, mas cumpro minha palavra custe o que custar."